Economia

Governo chinês garante que o PIB do país superou o do Japão e caminha para alcançar o dos EUA

postado em 31/07/2010 07:00
Após três décadas de crescimento acelerado, a economia chinesa desbancou a japonesa e se tornou a segunda maior do mundo. Pelo menos nas estimativas de Yi Gang, chefe da Administração Oficial de Câmbio, órgão do governo que regula o valor da moeda chinesa, o iuan. Apesar de não ter apresentado dados que comprovassem a diferença entre o Produto Interno Bruto (PIB) dos dois países, ele assegurou que, se o gigante asiático conseguir manter a taxa média de expansão nos próximos anos, também vai ultrapassar os Estados Unidos. Dessa forma, assumiria a liderença no ranking das potências mundiais.

Em entrevista publicada no site do órgão, Yi afirmou que o PIB chinês registrou um aumento de 11,1% no primeiro semestre do ano, o que deve fazer com que o país alcance uma alta de 9% em 2010. O governo creditou os números positivos ao pacote de estímulo fiscal, equivalente a US$ 586 bilhões, adotado para combater a crise econômica que assolou o mundo em 2008. Desde 1978, quando implementou reformas de mercado, a China mantém uma média anual de crescimento de 9,5%. Segundo Yi, se o PIB subir entre 5% e 6% ao ano entre 2020 e 2030, a nação terá registrado um ritmo de expansão ;jamais visto na história da humanidade;.

Enquanto isso, o Banco do Japão, correspondente ao Banco Central, acredita que a economia do país deve fechar o ano fiscal iniciado em abril com alta de 2,6%. O aumento em 2011 seria de apenas 1,9%. O governo japonês anunciou ontem que a produção industrial caiu 1,5% em junho, por causa principalmente do baixo consumo europeu, que afetou as importações do bloco e as vendas de produtos eletrônicos do parceiro asiático.

Analistas acreditam que, comemorações à parte, o PIB per capita de um país é mais importante do que o valor nominal da geração de riquezas. ;Certamente, assumir o segundo posto da economia global é algo simbólico, já que há algum tempo o país tem mais força política e econômica que o Japão. Mas é fundamental que eles consigam melhorar também outros aspectos, como o PIB per capita. Ele é que gera bem-estar para as pessoas no dia a dia. A diferença nesse indicador dos dois países é gigantesca;, ressaltou o economista da Modal Asset Management Ivo Chermont. De acordo com projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB per capita chinês deve ficar em US$ 3.999 neste ano, um valor mais de 10 vezes inferior aos US$ 41.366 do Japão.

Apesar de ter celebrado o suposto avanço na lista dos países mais ricos, o governo chinês reiterou que vai continuar protegendo o iuan das oscilações dos mercados globais, não permitindo sua livre flutuação. ;A China ainda é um país em desenvolvimento e devemos ter sabedoria suficiente para nos conhecermos;, acrescentou Yi, sobre a possibilidade de tornar o iuan uma divisa internacional. ;Nós precisamos ser modestos e não chamar a atenção. Se o mundo escolher o iuan como moeda de reserva, não vamos tentar impedir. Mas também não vamos nos esforçar para que isso aconteça;, completou.

Lentidão na Espanha

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a projeção de crescimento econômico da Espanha em 2011. Segundo relatório anual divulgado ontem sobre o país, a estimativa caiu de 0,9% para 0,6%. A aposta de contração neste ano foi mantida em 0,4%. Os números mostram o lento ritmo de recuperação da combalida economia espanhola, abalada por desequilíbrios fiscais, por problemas de caixa em bancos das províncias e pelo desemprego em alta. Apesar das dificuldades, o Fundo elogiou as reformas aprovadas pelo Parlamento nas últimas semanas, em especial a que modificou algumas regras trabalhistas.

;Os diretores cumprimentam as autoridades do país pelas respostas decisivas às turbulências do mercado financeiro e pelas recentes reformas para restaurar a confiança do mercado e reforçar o início de um retorno ao equilíbrio econômico;, escreveram os técnicos do FMI responsáveis pela avaliação. ;O ajuste necessário está em andamento. Os desequilíbrios acumulados durante os anos de crescimento começaram a se reduzir.; Ainda assim, o organismo multilateral de crédito defende a adoção de ;medidas adicionais;.

No cenário traçado pelos economistas do Fundo, a perspectiva de crescimento continua, apesar de frágil. A retomada é atrapalhada pelas condições instáveis no mercado financeiro e pela fragilidade do consumo interno. O governo espanhol tem previsões um pouco mais otimistas para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB): recuo de 0,3% neste ano e expansão de 1,3% em 2011. De forma contida, porém, o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero projeta um panorama ainda difícil, com orçamentos ;restritivos e austeros; e uma queda muito lenta na taxa de desemprego, hoje em 20,09%.

Pendente
;O desemprego é a grande questão pendente. Queremos fazer uma reforma profunda para casar a demanda e a oferta de postos de trabalho;, disse ontem Zapatero, num balanço das iniciativas do governo no primeiro semestre. O indicador aumentou pelo 12; trimestre consecutivo entre abril e junho, alcançando o maior nível desde o fim de 1997. Desde a metade de 2007, o número de pessoas desocupadas no país aumentou em quase 3 milhões, após a crise mundial restrigir o crédito, estourar a bolha imobiliária e abater a confiança do consumidor. Hoje, são 4,65 milhões de desocupados.

Revisão de nota
A Moody;s, uma das três principais agências de classificação de risco do mundo, pôs a nota da dívida soberana da Espanha em revisão para possível rebaixamento. O rating do país é Aaa, que pode ser considerado incompatível com os desequilíbrios orçamentários. ;Acompanhamos as medidas que o governo está implementando e, dentro de algum tempo, provavelmente vamos tentar colocar o rating no nível em que acreditamos que ele deve ficar;, disse o analista Steven A. Hess, da Moody;s, à agência de notícias Bloomberg. A Bolsa de Valores de Madri caiu 1,5%.

Potencial indiano

Estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) afirma que a Índia tem potencial para substituir a China como grande compradora de produtos básicos dos países da América Latina e do Caribe, onde também passaria a investir pesadamente. Segundo o texto, a Índia não tem como atender a sede de consumo do seu 1 bilhão de habitantes apenas com a produção interna. As nações latino-americanas, que costumam lidar com excedentes de itens agrícolas e minérios, complementariam as necessidades indianas, a exemplo do que vem ocorrendo com as chinesas.

Para que a tendência se torne realidade, porém, alguns entraves terão que ser contornados. As tarifas impostas à venda de produtos latino-americanas para a Índia ainda são muito altas, principalmente na área agrícola. O mesmo ocorre nas exportações indianas para o subcontinente. Barreiras não tarifárias, como as fitossanitárias, também emperram o aumento do comércio entre as partes. Uma expansão de 1% na economia chinesa produz um aumento de 2,4% nos embarques latino-americanos, nível ainda maior que o mesmo indicador aplicado à Índia (1,3%). Para contornar as dificuldades, Brasil e Índia já assinaram 23 acordos de entendimento.

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