Agência France-Presse
postado em 02/08/2010 17:53
O presidente Raúl Castro aliviou um pouco os cubanos ao permitir a abertura de pequenos negócios, mas persistem dúvidas se a medida cumprirá os propósitos de reduzir a pesada burocracia e ajudar a reanimar a economia sem que o Estado perca o controle.A ampliação do "trabalho por conta própria", desejada por muitos cubanos e sugerida por economistas, foi anunciada por Raúl Castro no último domingo (1/8) no Parlamento, como parte de "mudanças estruturais" com as quais tenta tornar mais eficiente o modelo econômico e evitar uma queda do sistema socialista.
O governo também permitirá que os cubanos contratem funcionários e comercializem algumas produções, dando uma guinada em uma economia controlada em 95% pelo Estado.
A decisão elimina "várias proibições vigentes para a concessão de novas licenças e a comercialização de algumas produções, flexibilizando a contratação de mão de obra", indicou Raúl.
Asfixiada pela crise econômica após a queda do bloco socialista, Cuba se abriu ao turismo, aos investimentos externos e autorizou trabalhos por conta própria nos anos 1990. Mas no início desta década, em uma recentralização econômica, muitas licenças foram canceladas e hoje há cerca de 140 mil trabalhadores autônomos, contra os 210 mil da década passada.
Humberto Trueba, cozinheiro de 43 anos, ficou desempregado e agora pensa em ter um restaurante: "Foi a melhor coisa que Raúl fez. Ter o próprio negócio e pagar o fisco. Por que não, se os chineses fazem isso?".
"Meu marido estava louco por uma licença para fazer frituras. É melhor abrir o caminho, porque o que não permitem as pessoas querem, inventam, roubam. Precisamos comer", disse Noris Rodríguez, dona de casa de 59 anos.
Para o economista opositor Oscar Espinosa, Raúl abriu caminho para a pequena e a média empresa, embora "insuficiente" para a magnitude das reformas de que o país precisa.
"Não se pode falar de reformas. É uma atualização do modelo econômico cubano, onde vão primar as práticas econômicas do socialismo e não do mercado", disse o ministro da Economia, Marino Murillo, esclarecendo que a propriedade estatal será conservada, assim como o planejamento centralizado.
Alguns céticos preferem esperar para ver reais mudanças. "Eles nunca fazem nada para perder. Vamos ver quanto vão cobrar em impostos", disse Rogelio Echeverría, de 46 anos.
Como parte de uma política contra o paternalismo estatal que predominou durante meio século de revolução, Raúl Castro também eliminará a política de subsídios salariais para os trabalhadores do governo que pararem de trabalhar. "Precisamos apagar para sempre a ideia de que Cuba é o único país do mundo em que se pode viver sem trabalhar", disse Raúl.
Em um país que importa 80% dos alimentos que consome, Raúl Castro pediu braços para a agricultura, a construção e a indústria, com o objetivo de aumentar a produção e substituir importações.
"Meu filho não vai para o campo nem louco, nem meu marido, esqueça isso. Isso Raúl não vai conseguir, a gente quer ficar na cidade, mesmo que seja roubando ou comendo pão com bolinho. Não quero o campo, muito trabalho e pouco salário", comentou Noris.
Os economistas advertem para a necessidade de elevar o poder aquisitivo da população, pois, com salários de US$ 20 em média, muitos preferem "resolver" com o mercado negro.