Economia

Gol Ganha com governo Omisso

Depois de cinco dias de descaso, a Anac sai da toca e aplica multa irrisória de R$ 2 milhões à empresa pelo caos aéreo e diz que falhas foram só falta de sorte

postado em 05/08/2010 08:07
Somente depois de cinco dias em que o caos aéreo voltou a assombrar a vida de quem utiliza os serviços de transporte aéreo no Brasil, a presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Solange Paiva Vieira, finalmente falou sobre o problema. Após muita pressão da opinião pública, a chefe do órgão regulador saiu da toca, rompeu o silêncio e declarou que a companhia aérea Gol terá que pagar uma multa de R$ 2 milhões ; valor irrisório perto da receita operacional bruta de R$ 6,4 bilhões em 2009 ; pela confusão gerada nos principais aeroportos do país desde o último fim de semana.

A Anac também interveio na empresa por meio de uma auditoria para verificar como a aérea está sanando os problemas de escala da tripulação. Proibiu também que a companhia opere novos voos fretados até que a situação se normalize. Atualmente, a Gol faz cerca de 600 fretamentos por mês, no valor médio de R$ 150 mil. Apesar de as razões da atual crise terem sido identificadas em dois fatores previsíveis ; mudanças na escala dos tripulantes e um mês em que o tráfego era especialmente intenso em razão do grande movimento de voos procedentes de destinos turísticos ;, Solange esquivou-se e disse que era impossível ter identificado previamente os problemas.

De acordo com um levantamento apresentado pela Anac, a Gol fez 130 voos fretados durante o último fim de semana, 15 a menos do que no mesmo período do ano anterior. ;Esse foi um caso específico que poderia ter acontecido em qualquer momento. Foi uma falta de sorte de todo mundo;, alegou, atribuindo o problema ao acaso.

A presidente da agência disse ter esperanças de que a proposta do plano de ação que obrigou a Gol remanejar cinco aviões Boeing 767 utilizados em fretamento consiga minimizar os transtornos. ;Acho que foi um caso isolado, mas não podemos dizer que não vai acontecer de novo;, declarou. ;A multa é necessária, mas não é o melhor mecanismo para punir uma empresa. Acredito que as restrições de operação pesem mais no orçamento;, disse.

Silêncio do ministro

No entanto, não foi só a presidente da agência que permaneceu na inércia, quando os passageiros do setor aéreo brasileiro sofriam nos aeroportos. Durante todo o problema, a única manifestação do Ministério da Defesa deu-se por meio de uma nota, onde a pasta afirmou que tinha total confiança no trabalho da Anac. Diante do silêncio do ministro Nelson Jobim, a Anac trouxe a responsabilidade para si. ;Quem tem que dar explicações sobre situações como essa sou eu;, acrescentou Solange, afirmando não ter se manifestado antes porque estava levantando dados que permitissem entender o que se passava.

Segundo ela, Jobim informou-se diariamente sobre o caos provocado pela Gol. ;Seu comportamento foi importante para caracterizar a independência política da Anac;, completou. Porém, na bola dividida sobre quem deveria chamar a responsabilidade para si, o passageiro mais uma vez acabou pagando o pato.

Diante dos problemas gerados pela companhia aérea e da demora para as principais autoridades do setor mostrarem serviço, o Ministério Público Federal (MPF) também resolveu se mexer. Enviou um ofício aos presidentes da Gol, da Anac e ao Diretor de Operações da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) pedindo esclarecimentos sobre a atual confusão dos aeroportos. O MPF pediu informações à companhia sobre os problemas que ocasionaram os atrasos. Quer saber também detalhes das ações tomadas para solucionar a questão de forma definitiva. Já à agência e à Infraero, questionou as medidas emergenciais adotadas durante a crise, além daquelas que virão a ser aplicadas para corrigir as falhas no futuro.

O número
R$ 6,4 bilhões

Total da receita operacional bruta da Gol apurada durante todo o ano de 2009


Apreensão no turismo

Não são somente os passageiros do serviço aéreo brasileiro que estão apreensivos com a volta da enxurrada de atrasos e cancelamentos de voos. O setor de turismo também teme que o filme do caos aéreo vivido pelo país no fim de 2006 se repita com a nova onda de confusões que se instaurou nos aeroportos desde o último fim de semana e acabe afetando os negócios do segmento. Segundo a Associação Brasileira de Agência de Viagens (Abav), no verão de 2007, pico da crise, o movimento do setor hoteleiro sofreu uma redução de 25%, o que significou queda de pelo menos 567 mil pacotes turísticos vendidos no país.

O presidente da Abav-DF, Carlos Vieira, admitiu que acompanha a situação com certo nervosismo. ;Estamos vendo (o caos) com apreensão, pois já fomos atingidos há pouco tempo e não queremos que isso se repita. Hoje, temos dois problemas: o sistema de transporte aéreo brasileiro que está trabalhando com capacidade máxima e o duopólio do mercado, que deixa o cliente sem opções;, opinou. A gerente da Trips Passagens e Turismo, Ieda Ayres, disse que os novos incidentes já geraram questionamentos por clientes que desejam comprar pacotes. ;Muitas pessoas nos perguntam sobre a situação e lembram que não podem perder o voo. Quem vai viajar agora sabe que corre o risco;, disse.

Agências em alerta
O gerente da agência Bancorbrás Viagens e Turismo Luis Carlos Vanderbroock disse que, por causa dos recentes problemas, ele vai pessoalmente acompanhar hoje o embarque de um grupo de para Natal (RN). Ele é crítico quanto aos riscos vividos pelos setor. ;Os atrasos (dos voos) são muito perigosos e podem, sim, afetar o setor de turismo, como aconteceu em 2007.; A proprietária da Girotur Turismo, França Lúcia Lima, espera que a crise seja pontual. ;As companhias aéreas precisam melhorar a qualidade do serviço rapidamente para que outros setores não acabem sendo atingidos.;

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