Economia

A nova cara da economia das eleições

Fabricantes de brindes e indústria gráfica são os que mais sentem o aperto da legislação e o uso de novas tecnologias, como as redes sociais, pelos candidatos. Quem consegue emprego comemora

Vera Batista
postado em 08/08/2010 07:00
O que é bom para os Estados Unidos também é bom para o Brasil? Depende. O uso da internet contribuiu para a vitória do presidente Barack Obama. O método foi copiado pelos brasileiros, como estratégia de fuga da restrição imposta pela legislação eleitoral, que está mais dura. Mas a moderna tecnologia fez encolher alguns setores produtivos que tinham picos de faturamento nas eleições e não foi capaz de reverter essas perdas em benefícios para outros que ganham relevo na difusão das candidaturas. Os fabricantes de brindes, por exemplo, viram seu faturamento encolher 30% em relação às disputas de 2006.

;As eleições eram como um Natal extra. Com a atual lei eleitoral, a venda de bonés caiu de 30 milhões de peças para zero, de 2005 para cá;, diz Valdenilson Domingos da Costa, presidente da Associação Nacional das Indústrias de Bonés, Brindes e Similares (ANIBB). O setor, composto por 800 fábricas, que empregam 40 mil pessoas, foi obrigado a reduzir em 30% o total de funcionários fixos e cortar 25 mil temporários.

Para o setor de plástico, a procura se manteve praticamente estável. O produto usado na confecção de cartazes sempre representou parcela pequena das vendas totais. ;O consumo importante está no material de apoio. Os lanches do pessoal que trabalha na militância são embalados em plástico, o que demanda cerca de 40 mil toneladas durante o período eleitoral;, explica José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast).

O setor gráfico, que representa 12% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial e fatura R$ 23 bilhões anuais, vê as eleições como um filão e tanto, pois equivalem a um mês do faturamento anual, segundo o Fabio Arruda Mortara, presidente Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf). ;Para superar as perdas deste ano, fomos obrigados a nos reinventar, agregando valor aos produtos. Mas o que nos salvou mesmo foi o forte crescimento econômico do país e a maior preocupação com a educação, que puxaram a produção de embalagens, de livros e de cadernos;, diz.

O novo e o velho
Apesar de todas as mudanças na economia das eleições, os candidatos que ainda não se dão bem com a tecnologia continuam distribuindo os tradicionais santinhos e adesivos. ;São quase como um cartão de visita;, ressalta Gerson Schmett, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes). Ele avalia que, da totalidade dos políticos, 20% usem recursos como Twitter, Facebook e Orkut ; que são acessados a custo zero.

Benedito Borghi, presidente da Lopes & Borghi Consultores Associados, é especialista em recrutamento para o setor de Tecnologia da Informação. Ele garante que a mudança de perfil das eleições não aumenta a procura por profissionais habilitados ou softwares sofisticados, porque basta entrar na internet e criar um endereço eletrônico ou entrar nas redes sociais. ;A rede mundial de computadores não substitui o contato;, acrescenta.

Quem comemora é a baiana Iranildes Oliveira Conrado, 26 anos. Ela chegou a Brasília há seis meses e está desempregada. ;Comecei a trabalhar hoje em uma campanha. Nem sei quanto vou receber, mas a perspectiva de ter salário é ótima. Eu estava desesperada;, afirma. Alegria semelhante mostra Laércio Almendro Júnior, 19, que abandonou a faculdade de administração de empresas porque não podia pagá-la. Ele ganha R$ 20 por dia para distribuir santinhos na parte da tarde. ;Não pensei duas vezes. Preciso do dinheiro;, diz.

Desinteresse
Sílvio Tanabe, especialista em marketing digital para campanhas políticas, afirma que o Brasil não pode ser comparado aos Estados Unidos. Ele cita pesquisa da empresa ComScore, comprovando que somente 2% dos internautas brasileiros acessam sites com conteúdo político, número bem inferior aos 9,8% dos norte-americanos.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação