Economia

Mantega crava PIB de 6,5%

Fazenda aposta em números diferentes do mercado, com terceiro trimestre menos aquecido e IPCA mais próximo do centro da meta

postado em 10/08/2010 07:32
Depois de sustentar praticamente sozinho durante o primeiro semestre a avaliação de que não havia superaquecimento na economia brasileira e de ver confirmadas suas projeções de arrefecimento da atividade, o Ministério da Fazenda deve reforçar a previsão de que o crescimento do país não chegará aos 7%, conforme estima a maior parte do mercado e o Banco Central. A informação consta da nova edição do Boletim Economia Brasileira em Perspectiva, que deve ser publicado hoje e promete aumentar a visibilidade das previsões da equipe de Guido Mantega. Em sua sétima edição, o documento trará a expectativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano de 6,5%, baseada na projeção de um terceiro trimestre menos aquecido.

O relatório também deve sugerir que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pode ficar abaixo de 5%, percentual mais próximo do centro da meta de 4,5%, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Mantega divulga hoje o Boletim Economia Brasileira em Perspectiva com as previsões de sua equipeA Fazenda não pretende rivalizar com o Banco Central, e apesar do documento servir como contraponto, em parte corrobora previsões da autoridade monetária. Em relação ao crédito, por exemplo, a previsão da equipe de Mantega é de que o crescimento (1)chegue a 20% este ano, impulsionado pela concessão de créditos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outras instituições públicas. Pela previsão do BC, o crédito deve chegar a representar 48% do PIB e os bancos públicos devem aumentar suas carteiras em 20%, enquanto os privados nacionais devem expandir 24%.

O mercado já começa a rever suas projeções e parte dele tende a acompanhar a previsão da Fazenda de um crescimento abaixo dos 7%. De acordo com o Boletim Focus, divulgado ontem, as 100 instituições consultadas semanalmente pelo BC reduziram a previsão de avanço da economia de 7,2% para 7,1%, depois de quatro semanas de manutenção.

Refazendo as contas
Para o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, o ajuste pode ter sido impulsionado pela revisão dos agentes de mercado em relação ao segundo trimestre da economia, mas acredita na possibilidade de o crescimento não chegar aos 7%, em função de um vigor menor da atividade no terceiro trimestre. ;É um cenário provável. Teremos que crescer até 0,5% no segundo trimestre e valores um pouco acima disso, mas sem chegar a 1%, nos próximos trimestres;, avaliou.

O economista projeta crescimento de 6,9% para o ano e estima que o terceiro trimestre será menos atípico do que os anteriores, quando a economia se recuperou de forma espetacular nos três primeiros meses ; puxada por estímulos fiscais e produtivos ; e se acomodou violentamente no período seguinte. ;O terceiro trimestre deve contar uma verdade mais exata para os próximos períodos da economia e também para os anos seguintes;, disse.

Desaceleração
A avaliação do economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, no entanto, é de que atualmente não há dados que indiquem um crescimento mais próximo de 6,5%. ;Nesse cenário incerto, os números podem me contradizer, mas se você olha hoje para o mercado de trabalho, continua forte, assim como a renda e os volumes de crédito. A inadimplência não aparece. Minha dúvida é de onde viria essa desaceleração;, ponderou.

De acordo com o economista, ainda são aguardados para o segundo semestre os dissídios coletivos de categorias numerosas, como os metalúrgicos, os bancários e os comerciários, fator que deve incrementar a produção do fim de ano. ;Nem do BC agora deve vir um freio tão forte, já que ele mesmo anda sinalizando que pode terminar o ciclo de aumento de juros. De onde viria a força para uma redução tão forte na atividade?;, questionou.

Além da projeção para o PIB, o mercado reduziu também, segundo o Focus, a estimativa para o IPCA deste ano de 5,27% para 5,19%, quinta redução seguida da previsão para o indicador.

1 - China crescerá de 10% a 11% no ano
A economia da China terá um segundo semestre forte e estável, caminhando para a meta de crescimento em todo o ano de 10% a 11%, disse um importante economista do governo. A previsão de Zhang Yutai, diretor do Centro de Pesquisa Econômica, um instituto do Gabinete, é mais otimista que a de muitos economistas independentes e também de alguns analistas do governo, que estão na faixa de 9% a 10%.


PRÉVIA DO ÍNDICE DOS ALUGUÉIS TRIPLICA
O Índice Geral de Preços ; Mercado (IGP-M) triplicou na primeira prévia de agosto, comparado ao mesmo período de julho. A taxa ficou em 0,42%, ante 0,14%, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). O IGP-M é usado como referência para o reajuste de contratos de aluguel e de tarifas de energia. Dos três indicadores que compõem a taxa global, apenas o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que apura os preços no atacado e é responsável por 60% do IGP-M, subiu e chegou a 0,75%, ante a variação de 0,19% na primeira prévia de julho. Segundo a FGV, o resultado foi influenciado pela alta dos preços do minério de ferro (de -0,63% para 16,92%), da soja em grão (de 1,45% para 6,58%) e do fumo em folha (de ;4,78% para 0,06%). O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) registrou queda de 0,40%, após a deflação de 0,31% da primeira apuração do mês passado.

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