Economia

Copom sob ataque

Mercado questiona a capacidade de um Comitê formado só por servidores de carreira do BC avaliar, com eficiência, a economia

postado em 14/08/2010 07:00

Carlos Hamilton, diretor de Política Econômica, é o alvo principalUm clima de desconforto tomou conta do Banco Central. Há um descontentamento geral com as críticas do mercado financeiro em relação à última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), de aumentar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 10,75% ao ano, quando a grande maioria dos analistas apostava em elevação de 0,75 ponto.

Na avaliação de integrantes do governo, o que se vê nos bancos e nas corretoras é um processo de desqualificação do Copom. ;Muita gente vem comentando que a atual composição do Comitê, apenas de funcionários de carreira do BC e do Banco do Brasil, não tem conhecimento suficiente para traçar, com eficiência, o que realmente está acontecendo na economia. Por isso, há tanto ruído na comunicação com o mercado;, disse um integrante da equipe econômica.

Para os técnicos do BC, essa visão é ;equivocada;. Eles ressaltam que o fato de um diretor do banco ser ou não oriundo do mercado financeiro em nada garante qualificação. ;Isso é bobagem. Todas as informações apresentadas e avaliadas nas reuniões do Copom são levantadas pelos funcionários do BC. É o corpo técnico que comanda todas as pesquisas, que seleciona e avalia os indicadores. Na verdade, os diretores apenas decidem sobre o que lhes é entregue;, afirmou um servidor.

A peso de ouro
No entender desse funcionário do BC, não se pode esquecer, ainda, que Carlos Hamilton, que agora é diretor de Política Econômica, até bem pouco tempo chefiava o grupo de economistas do banco. ;Então, sinceramente, quem vem do mercado para o BC ganha mais conhecimento do que agrega à instituição. Ser diretor do BC dá status. Quando a pessoa volta à iniciativa privada é contratada a peso de ouro pelo conhecimento que adquiriu;, ressaltou.

Apesar das queixas em relação ao mercado, os servidores reconhecem que, podem, sim, ter errado em algum momento. ;Faz parte do jogo. Mas, com certeza, não foi nada que justificasse tanta comoção. As incertezas da economia são muitas. Veja o que está ocorrendo no mercado mundial. Até duas semanas atrás, o grosso do mercado apostava em recuperação consistente da atividade global. As bolsas vinham subindo sem parar. Nesta semana, tudo mudou por completo. Os Estados Unidos mostraram fragilidade e a China apontou desaceleração. Resultado: as bolsas despencaram;, acrescentou um outro técnico do BC ouvido pelo Correio.

Contradições
Justificativas à parte, é importante assinalar que, nos dias seguintes à decisão do Copom, o BC tratou de disseminar que o aumento de 0,5 ponto nos juros naquele momento, em que a inflação apontava para variação zero e a atividade dava sinais de desaceleração, era uma ;paulada;. Pouco depois, com a divulgação da ata da reunião do Comitê, ficou a impressão de que o BC necessitava provar que estava certo.

Diante dos índices de inflação, ainda satisfatórios, e dos indicadores de atividade apontando acomodação do ritmo de crescimento, passou a ficar evidente a necessidade de o Banco Central reforçar seu acerto. Todo esse movimento está, no entanto, sendo interpretado ao contrário pelo mercado. ;Se o BC precisa provar algo, é porque sabe que errou;, disse um analista.

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