postado em 20/08/2010 07:13
Confiantes na economia, na manutenção do próprio emprego e na capacidade de pagar o que devem, mais pessoas estão se endividando. Na virada de julho para agosto, o contingente de famílias que têm contas a vencer saltou de 57,7% para 59,1%, conforme levantamento divulgado ontem pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). A avaliação da entidade é de que a taxa é ;administrável; e que, por trás dos números, há um alto grau de otimismo do consumidor em relação ao futuro. Boa parte da disposição em comprar também teve como motores os incentivos fiscais concedidos pelo governo para a aquisição de bens duráveis e o alongamento do crediário feito pelo varejo. Houve elevação de dívidas em todas as faixas de renda, sendo que, no grupo com ganhos de até 10 salários mínimos, tal movimento acabou sendo mais acentuado. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) coletou dados de 17,8 mil consumidores de todas as capitais do país e do Distrito Federal.
A principal modalidade de endividamento apontada pelas famílias é o cartão de crédito. Em seguida aparecem os carnês, o crédito pessoal, o financiamento do carro e o cheque especial. Tal ordem sofre poucas alterações quando são observados critérios como renda e perfil familiar. No comunicado sobre a pesquisa, a CNC assinalou que ;a continuidade do crescimento da renda real dos trabalhadores e a manutenção da oferta de crédito com prazos alongados tende a famílias dispostas a contrair mais dívidas, sem, no entanto, deixar de honrar seus compromissos anteriores;.
Apesar da elevação do índice de endividamento familiar, a inadimplência permanece estável. Entre os consumidores pesquisados, 8,8% responderam que não conseguirão quitar os débitos em dia ; em julho o índice foi de 8,9%. A manutenção do ritmo de crescimento da massa salarial, a inflação sob controle e a enxurrada de financiamentos disponíveis na praça teriam, segundo a CNC, contribuído para aumentar o ;potencial de endividamento; do brasileiro. A pesquisa revela que 14,2% das famílias se declararam muito endividadas.
Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da entidade, explicou que não há o que temer. ;Esse endividamento é administrável. É mais um reflexo da confiança do consumidor. Há um momento favorável. E, sem dúvida, o consumidor está mais despreocupado;, disse. As informações colhidas em agosto, de acordo com ele, indicam que o Natal poderá ser melhor do que se imagina em termos de consumo. O analista advertiu, porém, que é preciso ficar atento a pressões inflacionárias. ;Esse é o grande cuidado que o Banco Central tem de ter. As pressões podem ressurgir, eventualmente;, reforçou Gomes, que foi diretor do BC.
Gastos em alta
Pelo quarto mês consecutivo, o índice que mede a intenção das famílias em consumir (ICF) ; calculado pela CNC ; subiu, atingindo 134,4 pontos em agosto, frente 133,6 em julho. Qualquer patamar acima dos 100 pontos, de acordo com os critérios adotados pela confederação que representa o comércio, demonstra disposição das pessoas em gastar. A CNC reafirma que a taxa ;sugere fôlego por parte do consumidor em manter o atual ritmo de crescimento do consumo;. Outras entidades especializadas em diagnosticar o perfil do consumidor também detectaram neste mês movimentos semelhantes.
Ao contrário do que foi verificado no caso do endividamento familiar, a disposição por consumir mais no curto prazo registrou variações dependendo da faixa de renda das pessoas. Sob esse aspecto, os brasileiros com rendimentos acima dos 10 salários mínimos impulsionaram a taxa, seguidos pelos grupos com renda mais modesta, que voltaram a demonstrar desejo por consumir e assumir novas dívidas nos próximos meses.
Ouça entrevista com Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista chefe da CNC
Vânia Cristino
O governo voltou atrás e decidiu não cobrar, retroativamente, a diferença de contribuição previdenciária devida pelos trabalhadores por conta do aumento, também retroativo a janeiro de 2010, das aposentadorias e pensões com valores superiores ao salário mínimo. Se mantivesse a necessidade de refazer os cálculos, a fatura nos contracheques poderia chegar a R$ 1,5 bilhão. A decisão de não punir os trabalhadores foi comunicada por meio de uma portaria conjunta pelos ministérios da Fazenda e da Previdência. O documento fixou a vigência dos novos valores de contribuição a partir de 16 de junho.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) comemorou a decisão. Foi a entidade que alertou o governo para as dificuldades da implantação da retroatividade, que implicaria descontos maiores para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pelos trabalhadores que tivessem contribuído a menos nos últimos seis meses, assim como devolução, por parte da Previdência Social, para os trabalhadores que tivessem contribuído a mais.
A confusão em torno do novo teto do salário de contribuição e de benefícios da Previdência Social, assim como das faixas intermediárias de incidência das alíquotas, que variam de 8% a 11%, se deu por causa da elevação, pelo Congresso Nacional, do percentual de aumento concedido pelo governo para as aposentadorias e pensões acima do mínimo. Em dezembro passado, mediante negociação com os representantes dos trabalhadores, o governo fixou o novo salário mínimo do país em R$ 510, dando também um reajuste de 6,14% para os benefícios de maior valor. Os aumentos das aposentadorias, das pensões e do salário mínimo entraram em vigor em janeiro de 2010.
O Congresso Nacional, no entanto, elevou o reajuste de 6,14% para 7,72%, mantendo a validade a partir do mês de janeiro. Com a diferença de 1,58 ponto percentual, a Previdência se viu obrigada a ajustar o teto de contribuição e de benefícios, que passou de R$ 3.416,54 para R$ 3.467,40. É sobre esse teto que incide a alíquota de contribuição máxima (11%) dos trabalhadores com carteira assinada para o INSS. Com o teto, foram ajustadas as faixas intermediárias de contribuição, sobre as quais incidem as alíquotas de 8% e 9%.
Segundo a Previdência, nada muda com relação ao reajuste determinado para os segurados que ganham acima do mínimo. Eles já estão recebendo o novo valor e também o pagamento retroativo da diferença devida desde janeiro.
O número
R$ 1,5 bilhão
Fatura a ser paga pelos trabalhadores se o governo insistisse na revisão das contribuições previdenciárias