Economia

Próximo governo deverá ter menos gasto para mais investimento

postado em 23/08/2010 08:42
Todo governo sabe que o custo político de poupar é alto. Mas analistas avaliam que o próximo presidente brasileiro não terá outra saída: precisará gastar menos para poder investir em áreas estratégicas, como educação e infraestrutura, para tornar o crescimento sustentável. O diretor da Economist Inteligence Unit (EIU), Leo Abruzzese, disse que o atual crescimento do Brasil conta pontos a favor da candidata do governo (Dilma Rousseff) e que o país tem ;posição orçamentária; razoavelmente saudável, mas deveria ficar atento a exemplos como o da Alemanha.

;Embora já fosse a economia mais forte da Europa, a Alemanha soube poupar ao longo dos últimos anos. É por isso que está passando bem por toda essa crise;, disse o diretor da consultoria britânica, em palestra na sede da Confederação Nacional do Transporte (CNT), em Brasília, na última semana. Segundo ele, países como Grécia, Portugal, Itália, Espanha e Irlanda estão passando por problemas agora porque gastaram demasiadamente.

A chanceler alemã Ângela Merkel aceitou pagar o preço da sustentabilidade econômica e agora enfrenta uma onda de protestos contra o seu plano de austeridade fiscal, que prevê cortes de até 80 bilhões de euros em quatro anos para combater o deficit orçamentário.

Abruzzese afirmou que, em visita a grandes empresas brasileiras, ouviu dos executivos as mesmas queixas: de que os impostos são altos, a infraestrutura é ruim e o mercado de trabalho não é bom. ;É muito crítica a situação dos investimentos para o próximo presidente do Brasil. O país tem que aproveitar este momento. Estaria se dando muito melhor se tivesse melhorado a infraestrutura e os impostos não fossem tão altos;, disse.

O diretor da EIU acrescentou que o país pode crescer de 6% a 6,5% ao ano de forma segura, ;sem criar uma bolha;, se resolver essas questões. ;Mas ele ou ela, quem quer que seja o novo presidente, tem que olhar essas coisas em tempo adequado. Não adianta esperar dois ou três anos;, alertou.

A EIU prevê um crescimento de 7,9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2010 e a situação da economia este ano favorece a candidata do governo, Dilma Rousseff, segundo acredita Abruzzese. ;O índice de desemprego nos Estados Unidos é de 10%. Haverá eleição para o Congresso em novembro e os democratas serão varridos. O Brasil vai crescer 8%. Isso é muito bom para o partido que está no poder. Mesmo se eu não conhecesse nada da política brasileira, diria que o partido que está levando o país a um crescimento de 8% vai ganhar em outubro;, declarou.

Recuperação cíclica
Assessor econômico da candidata à Presidência Marina Silva, Eduardo Giannetti da Fonseca acredita que não se pode confundir recuperação cíclica com desenvolvimento sustentado: ;Uma recuperação cíclica é um conhecimento baseado num estoque de capital já existente na economia. Quando as condições de demanda melhoram, essa economia pode aumentar a oferta de mão de obra, por exemplo. Esse crescimento de 7% do PIB não é algo que possamos projetar para o futuro da economia;, afirmou Giannetti em seminário sobre sustentabilidade promovido pelo Walmart este mês em São Paulo.

Segundo Fonseca, promover o crescimento sustentado não é utilizar a capacidade já instalada, e, sim, criar capital físico e humano. ;É uma troca no tempo: não utilizar tudo no presente que poderia, para poupar, investir e criar meios de produção dos quais vai precisar futuramente;, definiu.

De acordo com o economista, o nível de investimento do Brasil é de cerca de 18,5% do PIB, enquanto o da China alcança 45% e o da Índia, 28%. ;Nossa carga tributária chega a 36%. O Brasil gasta 2% a 3% do PIB mais do que arrecada. É esse o deficit nominal do estado brasileiro, e a capacidade de investimento do setor público continua sendo pífia: nosso investimento ao ano em capital fixo é de apenas 2,1% do PIB;, calculou. (MM)

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