postado em 26/08/2010 07:00
Um dos motores do crescimento da economia, o setor de serviços ampliou as receitas, contratou mais e pagou melhores salários em 2008. No ano que antecedeu o agravamento da crise internacional, quase todos os setores acabaram sendo empurrados para cima por alavancas como o crédito farto, a expansão global e o amadurecimento do mercado doméstico. Traduzido em números, o resultado foi surpreendente. Naquele período, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) teve avanço de 5,1% do Produto Interno Bruto (PIB), a expansão dessa complexa cadeia produtiva ; que exclui os bancos e o varejo ; obteve saltos reais de dois dígitos.Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que fazem parte da Pesquisa Anual de Serviços (PAS), mostram que muitas empresas ganharam fôlego, mas que um contingente significativo abriu as portas no embalo do momento. Há dois anos, 879.691 firmas prestavam algum tipo de serviço ; alta de 10% em relação a 2007 (793.928 empresas). A quantidade de pessoas empregadas também aumentou: de 8,37 milhões para 9,23 milhões. Esses trabalhadores embolsaram R$ 128,1 bilhões em salários.
As novas engrenagens deram impulso à gigantesca máquina, que faturou e movimentou mais recursos. A receita operacional líquida dos serviços ; saldo bruto abatido de impostos, descontos e vendas canceladas ;, que, em 2007, chegou a R$ 572 bilhões, no ano seguinte alcançou R$ 680 bilhões (alta de 18,8%). O ramo de informação e comunicação, estrela dos serviços, respondeu pela maior fatia do bolo: R$ 203,5 bilhões. Nesse grupo estão empresas de telecomunicações, tecnologia da informação, serviços audiovisuais, edição e edição integrada à impressão e agências de notícias.
Renda em alta
Com o dinheiro circulando de mão em mão de forma mais rápida e em maior quantidade, o trabalhador sonha cada vez mais alto. A publicitária Ana Paula Fernandes, 23 anos, tem uma pequena poupança e, recentemente, reuniu forças e coragem para tomar um financiamento imobiliário. ;Vou iniciar o pagamento das prestações quando receber o apartamento. Já pago algumas coisas. Mas as prestações fixas começam em 2012;, explica. Para quem colocou o pé no mercado como a estagiária e hoje está prestes a comemorar o segundo aumento salarial, a caminhada até que não foi tão difícil. ;Tive o primeiro aumento no início deste ano e o salário dobrou;, lembra, advertindo que o próximo reajuste está próximo de acontecer.
Ana Carla Magni, analista do IBGE, diz que a pesquisa do instituto é um referencial importante para o país porque dimensiona de maneira clara e sistemática o peso dos setores que compõem os serviços. Segundo ela, a formação e a produção de riquezas do país estão bastante concentradas nessas atividades, o que já é considerada uma tendência dentro do modelo de desenvolvimento assumido pelo Brasil nos últimos anos. Em relação a 2008, os resultados, de acordo com a especialista, são positivos sob todos os aspectos. ;Foi um ano bom. Houve crescimento real da receita líquida, da massa salarial e do número de pessoas ocupadas;, completa.
O cenário descrito pelo IBGE resume um pouco da história de vida de Gilmar Pereira de Souza, 36. Depois de trabalhar 12 anos em uma empresa de manutenção de eletrodomésticos, na qual ganhava R$ 1,5 mil ao mês, ele pediu demissão para abrir o próprio negócio. ;Comecei apenas com uma secretária e eu mesmo fazia o atendimento na rua. Nessa época, faturava até R$ 8 mil;, afirma. Atualmente, além da secretária, a loja de consertos mantém sete técnicos especializados em televisores, máquinas de lavar, geladeiras e micro-ondas. A empresa já fatura cerca de R$ 30 mil por mês.
Na onda do crescimento do setor de serviços, Wesley Adriano Vitalino, 26, tomou o mesmo caminho: desde janeiro é dono de uma empresa que repara computadores. ;O serviço é muito procurado e falta na praça. Faço manutenção de redes, formatação, recuperação de arquivos, venda de acessórios, configuração de impressora e rede;, diz Vitalino, que saltou de um ganho mensal de R$ 750 para cerca de R$ 3 mil líquidos.
Varejo tem alta de 6,8%
Depois de titubear nos últimos dois meses, o faturamento real do comércio varejista, um dos principais indicadores da atividade econômica do país, registrou alta de 6,8% em julho frente ao mesmo mês no ano passado. Segundo informou ontem o Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), o Índice Antecedente de Vendas (IAV) superou as expectativas iniciais, que apontavam para avanço real de 5,6%.
Apesar do arrocho promovido pelo Banco Central na taxa básica de juros (Selic) e do encarecimento do crédito, as perspectivas para o varejo se mantêm favoráveis. Para agosto, o IDV espera que o setor alcance seu pico de vendas. A estimativa é de crescimento de 7,1% em relação a igual mês de 2009. Em setembro e outubro, porém, espera-se um aumento, na média mensal, de 5,2% sobre as vendas dos mesmos meses do ano anterior.
Na avaliação de Fernando de Castro, conselheiro do instituto, essa desaceleração não pode ser vista com preocupação, pois não se trata de uma queda. ;Vamos registrar incremento sobre o ano passado. Só não avançaremos a taxas de 7% a 8%, como crescemos em 2009 em relação a 2008;, disse. Ele ressaltou que o setor computou saltos expressivos por três segundos trimestres consecutivos, graças ao aumento da renda e do emprego formal. O executivo acrescentou que, pelo levantamento da IDV, no acumulado do ano, mais de 76% de seus associados acreditam que o aumento das vendas deve igualar ou superar em 5% os resultados de 2009.
A fonte de informações para o Índice Antecedente de Vendas é um grupo de 35 empresas varejistas dos setores de alimentação, eletrodomésticos, móveis, utilidades domésticas, higiene e limpeza, cosméticos, material de construção, medicamentos, vestuário e calçados, que, juntas, faturam R$ 100 bilhões por ano. Entre elas, estão o Grupo Pão de Açúcar, Walmart, Magazine Luíza, Telha Norte e Leroy Merlin.