Economia

2010 pode ter o melhor dezembro da história e atacadistas antecipam encomendas

postado em 29/08/2010 08:27
A indústria aquece as máquinas, o comércio reorganiza o estoque, os atacadistas preparam as encomendas e os importadores disparam os pedidos. Para quem sonha em faturar alto com a data mais rentável do ano, o Natal já chegou. Ao longo dos próximos três meses, essas e outras engrenagens da economia deverão trabalhar como nunca na expectativa de quebrar recordes. Motivos para tanto otimismo não faltam: o desemprego está em queda, a renda média do trabalhador, em alta, o crédito continua a jorrar e os prazos, elásticos.

Em um ano marcado por forte expansão, nenhum setor deu-se ao luxo de esperar. Com medo de perder terreno para os concorrentes ou de não conseguir atender os anseios do consumidor, as companhias que pretendem fisgar o brasileiro pelo bolso logo nas primeiras semanas de dezembro decidiram pela antecipação. ;Está todo mundo se preparando para altos volumes;, resume Boanerges Ramos Freire, presidente da Boanerges & Cia Consultoria em Varejo Financeiro.

Um bolo de consumo potencial estimado entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões estará em disputa. Essa fortuna é o que deverá sair dos bolsos das famílias nos últimos meses de 2010 para bancar sonhos, como roupas, bebidas, itens alimentícios, carros, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, artigos de luxo ou simples lembrancinhas made in Brazil ou produzidas lá fora. Em uma época tão promissora para as vendas, nem o calote e o endividamento assustam. ;O lojista e os clientes estão mais conscientes das suas possibilidades e limitações em relação ao crédito. É pouco provável que haja uma esbórnia consumista e depois uma ressaca de inadimplência ou de arrependimento;, diz o analista da Boanerges & Cia.

As fábricas deram o pontapé inicial. Os ramos de comida e de bebida vão pisar no acelerador a partir de setembro para abastecer o mercado. Nesse embalo, virão ainda o segmentos têxtil e o de eletros. O setor industrial foi o mais prejudicado com a crise internacional de 2009 e quer retomar, a todo custo, o papel de locomotiva do crescimento. Com a produção em alta, as contratações tendem a aumentar a partir de outubro.

Conspiração
Na esteira das indústrias, os atacadistas e distribuidores começam a traçar suas próprias estratégias. A Abad, entidade que representa essas empresas, prevê salto de 6% no faturamento em comparação ao ano passado. Em 2009, o total movimentado chegou a R$ 131,8 bilhões. Os produtos mais comercializados com a proximidade do fim do ano são o panetone, as bebidas, e os artigos de beleza e de cuidados pessoais. ;Esperamos um Natal excelente;, diz Carlos Eduardo Severini, presidente da entidade. Segundo ele, as encomendas estão prestes a serem despachadas, revelando um cenário promissor para lucros e novos negócios.

São os bons ventos que sopram em todas as direções até chegar ao comércio. Nas lojas de rua e nos shoppings de todo o país, os preparativos para o Natal começam a ganhar forma. As tradicionais armas para conquistar a clientela, o crédito e o prazo, serão usadas na potência máxima. Ainda que o nível de endividamento das famílias tenha registrado elevações nos últimos meses, os comerciantes acreditam que é possível estender um pouco mais a corda sem causar danos aos orçamentos domésticos em 2011.

Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), afirma que antes de assumirem novas dívidas, os consumidores têm por hábito quitar as velhas. De acordo com ele, o adiantamento do 13; terá essa função em 2010, o que liberaria fôlego financeiro para que os gastos deslanchem em dezembro. ;Neste ano, estamos tendo uma série de coincidências favoráveis ao comércio, como o aumento da massa de rendimentos, preços em queda e elevação do nível de ocupação. Tudo conspira a favor das vendas;, prevê.

Liquidações
O varejo quer despejar no mercado de tudo um pouco. Depois da Copa do Mundo, que turbinou a comercialização de alguns produtos, as marcas de eletroeletrônicos apostam nos televisores de tela fina, nos aparelhos de DVD e, claro, nos celulares como chamarizes. Eletrodomésticos, roupas, sapatos aparecem logo em seguida na ordem de preferência das empresas para rechear as vitrines. O analista da CNC afirma que o alongamento dos prazos continuará a todo vapor. Quanto às contratações de pessoal para reforçar os balcões durante o Natal, Freitas indica que o melhor momento acontecerá em outubro, quando grande parte do comércio estará com os estoques praticamente formados.

A perspectiva de ver o Produto Interno Bruto (PIB) crescer em torno de 7% em 2010 é o que move a maior parte dos planos de investimento e de expansão das empresas que esperam lucrar com o Natal. A estabilização do desemprego em taxas historicamente baixas para os padrões brasileiros também ajuda a incrementar os projetos, que começam a sair do papel na virada de agosto para setembro. Apesar de parecer exagero, algumas grandes redes de varejo popular já estudam até mesmo como serão as liquidações no início de 2011. Há quem aposte que, diante do apetite do consumidor em dezembro, sobrará pouco para queimar em janeiro ou fevereiro do próximo ano.

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