postado em 01/09/2010 08:49
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está convencido de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manterá, hoje, a taxa básica de juros (Selic) em 10,75% ao ano. A certeza se cristalizou depois da divulgação, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de que a produção industrial cresceu apenas 0,4% em julho na comparação com o mês anterior, resultado muito próximo ao piso das estimativas do mercado, variando entre 0,2% e 1,4%.Na avaliação de assessores de Mantega, os dados do IBGE mostraram que a atividade começou o segundo semestre do ano caminhando a um ritmo moderado, sinal de que não há superaquecimento da economia nem pressões inflacionárias que justifiquem um novo aperto monetário. A mesma avaliação é feita nos corredores do BC, ainda que uma ala pequena de técnicos não descarte a possibilidade de uma alta adicional de 0,25 ponto percentual nos juros, como forma de reforçar a independência do Copom.

Apesar do fraco avanço de junho para julho, a produção industrial acumulou alta de 15% no ano, resultado recorde para o período. Na comparação com julho de 2009, houve avanço de 8,7%. Segundo técnicos do IBGE, a indústria mostrou, no mês passado, sinais de recuperação, depois de três meses em queda na comparação com o mês anterior, apesar de o avanço atual se dar em uma velocidade mais lenta do que a observada nos primeiros meses deste ano.
;Estamos iniciando o terceiro trimestre com crescimento, embora seja em um ritmo menos intenso do que o observado anteriormente;, disse André Macedo, técnico do IBGE. Para ele, a alta da produção no mês passado ante junho foi o primeiro resultado positivo nesse tipo de comparação (mês ante mês anterior) desde março. A partir dali, a indústria mostrou tombos sucessivos: 0,9% em abril; 0,2% em maio; e 1,1% em junho. ;A retração acumulada nesse período de três meses foi de 2,2%;, ressaltou.
Pelos dados do IBGE, uma das atividades que mais ajudaram a puxar a produção para cima ao longo do ano foi a de bens de capital, que acumula alta de 28,3%. Também o segmento de bens intermediários ajudou, com avanço de 16,4% entre janeiro e julho. No mês passado, especificamente, o destaque foi a produção de veículos, com um salto de 3,6% frente a junho, contribuindo pesadamente para a alta do setor como um todo. Na comparação com julho de 2009, a produção de automóveis subiu 26,5%, o melhor resultado nesse tipo de comparação entre as atividades pesquisadas pela indústria em geral.
FIM DE ANO ANIMA EMPRESÁRIOS
; Os dirigentes de indústrias possuem uma boa perspectiva de produção para atender às vendas de fim de ano. É o que aponta a Sondagem Conjuntural do setor manufatureiro realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Em agosto, 43,7% dos entrevistados afirmaram que o nível de atividade de suas fábricas deve ser maior nos próximos três meses. Já 12,1% acreditam que será menor. Em julho, 44,5% dos entrevistados acreditavam que os negócios avançariam no trimestre seguinte, enquanto 13,4% apontavam que o ritmo iria baixar. Para os próximos seis meses, 57,1% dos empresários disseram que as vendas devem aumentar, enquanto 3% esperam uma piora. Em julho, 54,7% estimavam melhora do ambiente de negócios. Para 0,7%, haveria retração das vendas. Aloisio Campelo, coordenador de sondagens conjunturais da FGV, relaciona a expectativa mais favorável para os próximos meses à perspectiva de boas vendas no Natal e no ano-novo.
Brasil sofreu mais com crise
Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que o Brasil foi o segundo país dos Brics ; grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China ; a ser mais afetado pela crise financeira internacional. Segundo o documento Indústria Brasileira em Foco, a produção industrial brasileira recuou 2,5% entre setembro de 2008 e junho deste ano. Resultado ruim, mas bem melhor do que o registrado pela indústria russa, que contraiu 32,1% no mesmo período.
Ao contrário de Brasil e Rússia, os setores industriais da Índia e da China resistiram à crise apresentando crescimentos de 14,7% e 24,3%, respectivamente. A CNI avalia que a retomada da atividade industrial nos Brics está ocorrendo em ritmo diferente em cada país.
O economista da CNI Marcelo de Ávila atribui o bom desempenho chinês ao câmbio desvalorizado, que barateia seus produtos e contribui de forma decisiva para impulsionar as exportações daquele país.
Em relação ao Brasil, Ávila afirmou que as perdas de produção industrial verificadas durante a crise internacional devem ser zeradas a partir do terceiro trimestre deste ano. Ele lembrou que, em março, a indústria chegou a ultrapassar o nível pré-crise, mas depois de três meses de queda retornou para um patamar inferior. ;Depois dessa acomodação, acredito que vamos voltar a crescer de maneira sustentável ainda no terceiro trimestre;, completou.
Para o economista, China, Índia e Brasil estão liderando o crescimento global e terão papel preponderante no futuro, tanto pelo ritmo mais forte de crescimento como pela robustez conquistada no cenário econômico mundial.