Economia

IBGE mostra que a economia brasileira avançou muito pouco no 2° trimestre

Analistas apostam em crescimento entre 0,4% e 0,9% na comparação com os três primeiros meses do ano, pondo fim à euforia que dominou governo e mercado

postado em 03/09/2010 08:15
Quando divulgar hoje o resultado do Produto Interno (PIB) do país referente ao segundo trimestre do ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) porá um ponto final na euforia que dominou o governo e o mercado nos últimos meses. ;Simplesmente, veremos o Brasil real, que não tem condições de sustentar um crescimento como o verificado nos primeiros três meses do ano;, disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal.

Se as contas dos analistas estiverem corretas, o avanço do PIB ficou entre 0,4% e 0,9% na comparação com os 2,7% do primeiro trimestre. ;Não tem jeito. Daqui por diante, veremos resultados mais modestos do PIB, girando mais próximos de 1%;, afirmou o economista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani. Com isso, o Brasil caminhará dentro do seu potencial de crescimento sem gerar inflação. ;Eu acredito que esse potencial esteja entre 4% e 4,5%;, acrescentou.

Mas, apesar dos números modestos do PIB acumulado entre abril e junho, o economista-chefe do Banco BES Investimento, Jankiel Santos, acredita que não há motivo para desânimo, uma vez que o avanço da atividade se deu basicamente pela força da economia doméstica ; ou seja, o consumo das famílias e os investimentos. ;Na minha avaliação, veremos um segundo semestre bem melhor, o que garantirá um resultado final para o ano de 7%;, afirmou.

Fim dos estímulos
Para Santos, não se pode esquecer que PIB do segundo trimestre estará impactado pela retirada dos estímulos fiscais e monetários dados pelo governo. ;Desde o fim de 2009, o governo vinha retomando os impostos que tinham sido reduzidos para vários produtos no auge da crise mundial. Também o Banco Central voltou a aumentar a taxa básica de juros (Selic);, destacou. ;O importante, porém, é que a demanda continuou sendo sustentada pela renda e pelo emprego, um sinal de que a acomodação do ritmo da atividade foi feita sem traumas;, assinalou.

Consumo dos trabalhadores se mantém como uma das principais alavancas do paísNão à toa, ressaltou Padovani, o setor de serviços será o grande destaque do PIB do lado da oferta. Com mais dinheiro no bolso e a certeza da garantia do emprego, as famílias(1) decidiram satisfazer mais os anseios por lazer, cultura e entretenimento. Também recorreram mais a restaurantes, a cabeleireiros, a mecânicos, a médicos e a dentistas. Os serviços, por sinal, foram os grandes amortecedores da economia brasileira em 2009, período bastante impactado pela crise internacional.

;Com base nos números de hoje do IBGE, poderemos fazer duas leituras do PIB. A primeira, de que o mercado exagerou no primeiro trimestre, mesmo sabendo que o crescimento daquele período estava fora dos padrões. A segunda, olhando para a frente, é de que os próximos trimestres, até o fim de 2011, terão mais a cara do resultado do PIB acumulado entre abril e junho últimos;, disse Padovani.

Santos, do BES, está mais otimista. A seu ver, mesmo com a indústria começando o segundo semestre devagar ; a produção deu um salto de 0,4% em julho ;, os números a serem apresentados pela economia daqui por diante serão robustos. A economia será puxada, sobretudo, pelos investimentos, que ampliarão a oferta de produtos, um alívio para o BC, que decidiu suspender o processo de alta dos juros apostando na inflação sob controle.

1 - Otimismo inédito
Calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) voltou a crescer e alcançou o nível inédito de 119,3 pontos em agosto. Termômetro do humor das pessoas, o indicador avalia o sentimento generalizado em relação aos elementos que influenciam a disposição de ir às compras. Na comparação com julho, ele aumentou 2,1%. O resultado mostra que ;o consumidor está especialmente otimista;, segundo análise da entidade.

São Paulo se recupera

A produção industrial cresceu em sete dos 14 locais pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na comparação entre julho e junho. Em relação a julho do ano passado, a expansão foi verificada em 13 lugares. Depois de três meses seguidos de retração, o estado de São Paulo, responsável por 40% da indústria nacional, se recuperou. O aumento foi de 0,5% de um mês para o outro, o que contribuiu para impulsionar o resultado de todo o país (0,4%). Mas o melhor desempenho foi o de Goiás, com alta de 10,3%, seguido da Bahia (3,6%) e do Rio Grande do Sul (3,3%).

O segmento alimentício goiano deu um salto mensal. Também cresceram acima da média nacional a Região Nordeste (1,7%) e o Rio de Janeiro (1,1%). Os piores números foram os do Paraná e Santa Catarina, ambos com recuo de 2,9%. Ainda ficaram no terreno negativo: Ceará (-1,5%), Amazonas (-1,3%), Pernambuco (-1,2%) e Pará (-0,7%). Os produtos que mais ajudaram na recuperação nacional foram justamente os de maior destaque nas fábricas paulistas: veículos automotores, outros equipamentos de transporte, produtos químicos e farmacêuticos, além do refino de petróleo.

O fim dos incentivos com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para estimular o consumo de eletrodomésticos da linha branca (fogões, geladeiras, máquinas de lavar roupa e tanquinhos) teve impacto negativo principalmente no Sul do país. A fabricação desses itens caiu, influenciando o resultado dos estados da região.

O Espírito Santo é o líder na comparação com julho do ano passado (24,7%), no acumulado no ano (34,9%) e no total em 12 meses (21,1%). Segundo o IBGE, o estado se beneficia dos avanços na extração de minério de ferro, na fabricação de bens de consumo duráveis e na metalurgia básica. Todos os locais registraram saldos positivos entre janeiro e julho e em 12 meses.

Mais exportações latino-americanas
O comércio com a América Latina e o Caribe aumentará em 2010 à medida que a região se recupere da crise global, garantiu ontem a divisão econômica da Organização das Nações Unidas (ONU) para a região. A previsão é de crescimento de 21,4% nas exportações em relação ao ano passado e de 17,1% nas importações. O consumo doméstico mais dinâmico, o aumento dos investimentos e as vendas impulsionadas pela demanda vinda da Ásia e dos Estados Unidos ajudam as trocas comerciais. ;O melhor desempenho é observado nos países que exportam matérias-primas, enquanto a recuperação é mais lenta nos que importam produtos básicos e dependem de turismo e de remessas de valores;, indicou o relatório. O Chile, principal produtor mundial de cobre, deve aumentar as exportações em 32,6% em 2010, enquanto os embarques mexicanos podem subir 16%. As nações emergentes vão contribuir mais que as industrializadas para a expansão comercial global.


Dólar desaba para R$ 1,73

Vera Batista

Os preços do dólar voltaram a cair ontem, acendendo o sinal de alerta dentro do governo. Aumentou o temor de que um novo ciclo de desvalorização da moeda norte-americana resulte em um rombo ainda maior nas contas externas do país, seja por meio das importações ; que já crescem mais do que as da China ;, seja por meio de viagens ao exterior, cujo deficit encostará nos US$ 10 bilhões neste ano.

No encerramento dos negócios, o dólar foi cotado a R$ 1,734 para venda, com baixa de 0,73%. ;Rompeu-se o piso psicológico de R$ 1,75. E não vejo reversão, pelo menos no curtíssimo prazo, para a atual queda do dólar;, disse o analista Mário Paiva, da Corretora Liquidez. O resultado disso será a ampliação das compras de produtos no exterior, provocando a ira da indústria nacional.

Na avaliação do economista Robson Gonçalves, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o lado positivo do dólar mais barato é que o país está conseguido se abastecer com insumos e matérias-primas que andam escassos no mercado doméstico. ;O setor de alumínio, por exemplo, assegura que não tem como atender a demanda dos fabricantes de latas. Em situações como essa, a saída é importar;, disse.

Ele ressaltou, porém, que não se pode partir para o exagero, para não matar a indústria brasileira de bens intermediários. ;O dólar está despencando porque entraram mais de US$ 70 bilhões no ano passado no país, boa parte de capital especulativo. Agora, é o momento de reverter esse quadro;, alertou. Para ele, um dos caminhos seria aumentar a taxação sobre o capital estrangeiro.

A forte valorização do real provoca ainda outra distorção, na opinião de Gonçalves: ;Qualquer sujeito de classe média sabe que está mais barato ir para a Argentina do que para Fortaleza. E até um escandinavo que vem nos visitar acha alto o custo de vida no Brasil. São sinais de que alguma coisa está errada;.

Segundo o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, apesar do alto volume, ainda não há motivo para alarde em torno das importações. ;Os termos de troca continuam favoráveis ao Brasil, com saldo comercial positivo. Mas há um limite. O real não pode continuar tão valorizado;, alertou.

Ontem foi mais um dia de queda na Bolsa de Valores de São Paulo. O Ibovespa, principal índice do mercado, cravou os 66.808 pontos, com baixa de 0,39%.

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