Economia

Produção de riqueza no país desacelera, mas setor público ainda sustenta PIB

postado em 04/09/2010 08:25
Impulsionado pelos gastos do governo, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou alta de 1,2% no segundo trimestre do ano na comparação com os primeiros três meses de 2010. O resultado mostra que houve uma desaceleração importante ; e esperada ; do ritmo de expansão, mas o pé no freio acabou ficando longe das expectativas. As projeções de mercado indicavam ganhos de 0,4% a 0,9%, com média de 0,7%. O descompasso teve como motivação o aumento da gastança pública, fenômeno típico de períodos eleitorais, que inflou a demanda e ajudou a construir um cenário positivo para a campanha da candidata oficial ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff (PT). Se até dezembro o país simplesmente estagnar, um crescimento de pelo menos 7% já estaria garantido. Em janeiro, fevereiro e março, o Brasil avançou 2,7%.

Em relação ao período anterior, o consumo da administração pública em abril, maio e junho foi o único item a avançar, com o ritmo passando de 0,8% para 2,1%. No mesmo trimestre, o consumo das famílias desacelerou, a velocidade da formação bruta de capital fixo (investimentos) caiu drasticamente, as exportações e as importações perderam força. ;O gasto do governo foi a grande surpresa. O contingenciamento orçamentário terminou, liberando espaço para o aumento das despesas;, explicou Bernardo Wjuniski, analista da Tendências Consultoria. Tais incrementos vieram na forma de reajustes de salários, de mais contratações, de volumosos repasses de recursos federais e de ampliação dos custos inerentes à máquina.

Frente ao segundo trimestre do ano passado, o PIB nacional cresceu 8,8%. Entre os Brics, grupo dos principais países emergentes, o Brasil empatou com a Índia, perdeu para a China (10,3%) e superou a Rússia (5,2%). No confronto com o trimestre anterior, o desempenho da economia brasileira ficou atrás apenas de Chile (4,3%), México (3,2%), Alemanha (2,2%) e Coreia do Sul (1,5%), igualou-se ao obtido pelo Reino Unido (1,2%) e bateu com folga os resultados de nações como Holanda, Bélgica, Portugal, Espanha, Estados Unidos e Japão. Os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fizeram com que os especialistas elevassem a previsão de crescimento do ano para até 8%.

No primeiro semestre de 2010, a taxa que representa a soma total de riquezas produzidas ficou em 8,9%, ou R$ 900,7 bilhões, alcançando o melhor resultado desde o início da série histórica em 1996. Cláudia Dionísio, economista da coordenação de contas nacionais do IBGE, destacou os resultados da indústria e da agropecuária, além dos gastos de governo, como as principais alavancas do PIB trimestral, mas chamou a atenção também para a incrível performance do cenário doméstico, influenciado pelo consumo das famílias. ;O resultado positivo se deve à demanda interna. O comércio exterior deu uma contribuição negativa, pois as importações cresceram muito mais do que as exportações;, completou.

Joelson Fernandes dos Santos, 27 anos, é um entre milhões de brasileiros que funcionaram como combustível para o PIB. Com emprego garantido e sem medo de se endividar, o supervisor de vendas aproveitou o crediário farto, o financiamento abundante e os programas de apoio do governo para realizar velhos sonhos. Recém-casado, ganhou uma casa construída pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ele e a esposa, que somam juntos uma renda mensal de R$ 1,8 mil, adquiriram uma moto, um computador e abriram as portas para a internet de banda larga. ;Com um emprego de carteira assinada, dá para entrar nas prestações e comprar de tudo. O segredo é planejar;, disse Santos.

Juros em 2011
O consumo das famílias alcançou, no segundo trimestre de 2010, a 27; alta consecutiva na comparação com o mesmo período do ano anterior, somando R$ 545 bilhões. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) ; despesas com máquinas e equipamentos para a produção ; também apresentou ganhos expressivos: alta de 2,4%. Em relação ao segundo trimestre de 2009, o salto foi de 26,5%, o maior desde 1996. Do lado da oferta, a contribuição mais expressiva para o PIB trimestral veio da agropecuária, que se expandiu 2,1% em relação ao primeiro trimestre. A indústria avançou 1,9% e os serviços, 1,2%.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou ontem os bons números da economia do segundo trimestre e defendeu a manutenção dos gastos da União como forma de abrir caminhos para novos investimentos. Lula rechaçou adotar medidas que, ainda que timidamente, signifiquem um ajuste fiscal. O aperto nas contas e a redução das despesas estatais são teses defendidas pelo mercado como forma de preservar as contas públicas e evitar descontroles inflacionários a partir de 2011. Para os analistas privados, impor limites aos gastos será uma decisão inevitável tomada pelo o próximo presidente da República.

Como está, avaliam bancos e corretoras, o cenário macroeconômico joga novamente a responsabilidade pelo equilíbrio das finanças públicas no colo do Banco Central, que terá de decidir se retomará ou não a política de aumento dos juros básicos (Selic) logo no início do próximo ano. A Tendências Consultoria avalia que o aquecimento contribui para o aumento da inflação. Nos últimos meses, o governo manobrou para adequar o avanço das despesas frente à necessidade de economizar para pagar juros da dívida pública, desfigurando o conceito clássico de superavit primário. (Colaborou Victor Martins)

O gasto do governo foi a grande surpresa. O contingenciamento orçamentário terminou, liberando espaço para o aumento das despesas;
Bernardo Wjuniski, analista da Tendências Consultoria

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