postado em 12/09/2010 08:00
A agenda do homem que previu com quase três anos de antecedência o derretimento dos mercados e o estouro da bolha imobiliária americana anda lotada. Nouriel Roubini, que de figura maldita acabou se transformando em celebridade, divide cirurgicamente seu tempo entre as tarefas da consultoria que preside, a Roubini Global Economics, e as dezenas de palestras e congressos para os quais é requisitado todos os dias ao redor do mundo.Além dos relatórios periódicos que produz em parceria com outros analistas sobre a situação na América Latina, nas praças industrializadas e nas nações emergentes, Roubini ; ou ;Dr. Apocalipse;, como ficou conhecido ; tem emprestado seu talento a grandes empresas, a organizações multilaterais e aconselhado até mesmo presidentes da República a não se deixarem levar pelas seduções dos mercados. Todos fazem fila e pagam caro para ouvir da boca do economista turco naturalizado americano o que o amanhã reserva ao capitalismo.
Voz dissonante entre os que, à época, deleitavam-se com o frenesi das hipotecas e dos derivativos, Roubini foi o primeiro a alertar que os preços astronômicos das casas vendidas nos Estados Unidos criariam mais cedo ou mais tarde um cenário artificial que, aliado à frouxidão regulatória, explodiria. Dito e feito. O segundo semestre de 2008 foi marcado pelo acerto de 10 entre 10 das previsões feitas por ele.
Atividade atual
Atualmente, Nouriel Roubini vem se dedicando a estudar a agonia europeia (1). Sem atalhos, o analista repete que países como a Grécia precisam encontrar uma saída rápida e eficaz para suas dívidas, além de cortar gastos. Roubini não descarta nem mesmo que, eventualmente, gregos e outros tenham de se ver obrigados a deixar a Zona do Euro. Portugal e Espanha, que experimentaram recentemente choques interpretados como repiques da crise internacional, também estão no radar do especialista. Forçadas a promover duros ajustes, a cortar despesas e a aumentar impostos, essas nações ainda enfrentam a desconfiança do profeta do caos.
O esforço americano em ficar de pé e sair da crise é outro assunto predileto na lista de Roubini. As ações emergenciais tomadas nos Estados Unidos para recolocar nos trilhos empresas como a General Motors e grandes instituições financeiras tiveram importância decisiva na fase aguda da crise, mas, segundo Roubini, atingiram o teto.
O ;Dr. Apocalipse; tem cobrado das autoridades e do governo Barack Obama novos passos rumo à urgente estabilização do sistema. O crescente deficit fiscal nos EUA é o drama a ser combatido. Para o analista mais famoso do momento, porém, nada leva a crer que os rombos nas contas públicas americanas serão contidos nos próximos anos. Esse cenário dificultará bastante a recuperação da economia americana e mundial, repete Nouriel Roubini, em tom de aviso.
1 - Receituário
Nos moldes do que fez o Federal Reserve (Fed) ; Banco Central americano ; e Barack Obama, os bancos centrais do Velho Continente baixaram juros e os governos transferiram recursos públicos para as mãos da iniciativa privada para evitar a derrocada geral. Com exceção da Alemanha, porém, as demais economias da Europa insistem em patinar.