postado em 14/09/2010 07:52
A desaceleração menos intensa do que a esperada entre abril e junho e a publicação de indicadores que sugerem uma retomada da atividade industrial no início do terceiro trimestre motivaram o mercado a elevar novamente as projeções para o crescimento da economia este ano. De acordo com o boletim Focus, divulgado ontem, a estimativa dos analistas para o Produto Interno Bruto (PIB) passou de 7,34% para 7,42%, avanço que, se confirmado, será o maior em 24 anos.A surpresa interrompeu uma trajetória de redução das estimativas, que caminhavam lentamente para o patamar de 7% e deve se estabilizar em torno de 7,5%, segundo estimativa do economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal. ;Foi um reflexo direto do PIB do segundo trimestre, uma vez que o resultado veio acima das expectativas, mas não deve ultrapassar muito 7,5%;, avaliou.
Aquecimento
Mesmo esperando um aquecimento maior na economia, o mercado voltou a reduzir a perspectiva de inflação ; de 5,07 para 4,97% ; considerando o comportamento registrado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nos últimos três meses, o indicador apontou aumento de preços quase nulo, próximo de zero, no conjunto da economia. ;Ao contrário do PIB, nesse caso o mercado foi surpreendido porque os IPCAs vieram próximo ao piso das projeções, o que acaba sendo incorporado nas expectativas de curto prazo;, afirmou Leal.
Para Gian Barbosa, analista da Tendências Consultoria, apesar de estarem mais próximas do centro da meta de inflação (4,5%), as estimativas continuam pressionadas pela previsão de que novos eventos devem voltar a elevar os índices de preços. ;Há uma projeção de choque de preços agrícolas, que deve servir como um limitador para a queda nas estimativas deste ano;, afirmou.
Tatiana Pinheiro, economista do banco Santander, afirmou que a partir de setembro as pressões inflacionárias devem se concentrar nos alimentos, em função das dificuldades de algumas culturas com a seca e, a partir de novembro, o consumo das festas de fim de ano deve fazer o mesmo papel.
Em sentido oposto à inflação corrente, as estimativas para o avanço do IPCA em 2011 voltaram a aumentar, de acordo com o Focus, e passaram de 4,85% para 4,90%, contrariando o comportamento considerado normal, no qual a projeção para o ano seguinte se mantém mais próxima do centro da meta. ;A meta não está mais servindo de âncora para o mercado porque ele está mais temeroso em relação a diversos fatores, como o comportamento da economia externa e a força da demanda doméstica;, afirmou Tatiana.
A deterioração recente das projeções também está ligada ao fato de o mercado não concordar com a posição do Banco Central que manteve a Selic em 10,75% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). ;O mercado parece não ter comprado a ideia de que 10,75% ao ano é o suficiente para fazer a inflação voltar para o centro da meta;, considerou Leal.
OCDE VÊ SINAIS DE DESACELERAÇÃO
A desaceleração do crescimento econômico dos países desenvolvidos parece cada vez mais provável, disse a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ontem, destacando sinais de que a recuperação pode ter chegado ao auge nos Estados Unidos, no Japão e no Brasil. A OCDE informou que o índice composto para as 32 nações-membro caiu pelo segundo mês consecutivo, perdendo 0,1 ponto, para 103,1. A organização também disse que há sinais de que a expansão da Rússia e da Alemanha pode atingir o pico em breve. O índice do Japão declinou pela primeira vez desde abril de 2009, caindo 0,1 ponto, para 102,8, enquanto a medida dos Estados Unidos diminuiu pelo segundo mês, de 102,7 em junho para 102,5. A leitura geral para o grupo das sete nações industrializadas (G-7) ; Japão, EUA, Canadá, Itália, França, Alemanha e Grã-Bretanha ; foi de 103,1, queda de 0,2 ponto. O indicador do Brasil recuou 0,8 ponto, para 99,4.