Economia

Crédito farto impulsiona comércio, que registra alta de 0,4% em julho

postado em 15/09/2010 08:10
Marina quer comprar duas bicicletas ainda em setembro, uma para ela e outra para a filha Elena. Também quer um notebook. O carro vai ter que esperarAs vendas no comércio cresceram pela terceira vez consecutiva em julho. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve um avanço de 0,4% contra junho e de 10,9% frente a igual mês de 2009. O segmento de veículos foi o maior responsável por essa expansão. Com o crédito mais acessível e o mercado de trabalho a todo vapor, o brasileiro tem trocado o transporte público pelo individual e feito a indústria automobilística bater recordes ; comparado a julho do ano passado, o setor colocou nas ruas 14,6% mais carros e teve um peso de quase 40% nas vendas do varejo no mês.

Com o setor tão aquecido, o varejo acumula no ano um crescimento de 11,4% no volume de vendas. E a expectativa de especialistas é que os negócios encerrem 2010 com uma expansão próxima disso, o que será um recorde histórico para o comércio. O reflexo direto de tantas vendas pode ser observado no bolso dos lojistas. De acordo com o IBGE, os comerciantes tiveram um faturamento 13,5% maior no mês comparado com julho de 2009. Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, os números vieram dentro do esperado. ;O comércio continua em uma tendência positiva;, avaliou. ;Até o fim do ano, tudo conspira a favor. Os salários estão crescendo, a taxa de juros ; que estava subindo ; se estabilizou. E, temos ainda o dólar barato, que é muito bom para o comércio. Teremos um Natal de importados;, disse Freitas.

A artista plástica Marina Mendes da Rocha, 29 anos, não vai esperar o Natal. Com o poder de compra ampliado pelo crédito, ela é uma das consumidoras que não deixa as vendas do varejo cair. Pretende adquirir duas bicicletas ainda em setembro, uma para ela e outra para a filha Elena, de 6 anos. ;Vai custar um pouco mais de R$ 1 mil. Nesse valor, a opção é parcelar para não deixar o orçamento apertado;, explicou a artista. Depois da bicicleta, o sonho de consumo de Marina é um computador novo. ;Preciso de um notebook e da bicicleta. Também queria trocar o carro, mas vou esperar mais um pouco;, disse.

Incentivos
Mesmo após o fim dos incentivos tributários para aquisição de veículos, o consumidor (1)não perdeu a sede de compras. Além do crédito permitindo parcelas ;adequadas; ao orçamento das famílias, o preço do aço em baixa colaborou para que os automóveis não ficassem mais caros após o fim da isenção do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). ;Com o fim dos incentivos, o carro deveria ter ficado muito mais caro, o que causaria queda da demanda, mas isso não ocorreu. O preço quase não se modificou;, explicou Luiza Rodrigues, economista do banco Santander. Além do preço do aço, as promoções colaboraram para os veículos não encarecerem.

O crédito mais barato também absorveu os impactos do fim do IPI reduzido. Pesquisas do Procon e da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) têm mostrado contínuas reduções nas taxas reais de juros para os consumidores. Com isso, o brasileiro tem adquirido não só veículos, mas também móveis, eletrônicos e ainda realizado gastos de prazos mais longos, como a aquisição da casa própria. ;Isso quer dizer que o país vive um bom momento e o comércio reflete isso;, afirmou Freitas.

O aposentado Manuel Queiroga, 73, é um consumidor que está confiante na economia do país, mas que, ainda assim, só gasta aquilo que o orçamento suporta. ;Eu e minha esposa só compramos assim, com segurança de que vai caber no bolso;, disse Queiroga. ;Ela é minha ministra da Fazenda e do Planejamento. É quem sabe quanto a gente pode gastar no mês;, brincou o aposentado ao se referir à esposa, que de pronto rebateu. ;É preciso ter cuidado com os gastos. Gosto de colocar tudo no cartão para facilitar o pagamento das contas. Nosso maior financiamento neste ano será uma reforma lá em casa;, disse Maria Helena Queiroga, 65.


1 - Inadimplência
Mesmo com vários indicadores de inadimplência em alta, acompanhando o crescimento das vendas, especialistas garantem que não há motivo para pânico. ;A inadimplência é oriunda de vários fatores, principalmente emprego. Dado o mercado de trabalho atual, não vejo a possibilidade de ela subir até o fim do ano, acho até que vai cair;, ponderou Luiza Rodrigues, economista do banco Santander. ;No segundo semestre, com o 13; salário e a renda aumentando, a inadimplência tende a diminuir;, concluiu economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas.

Encargos menores

Pela primeira vez desde novembro do ano passado, a taxa média dos juros cobrados pelas instituições financeiras sobre os empréstimos pessoais apresentou queda, passando de 5,44%, em agosto, para 5,35%, em setembro. De acordo com o Procon de São Paulo, dos sete bancos pesquisados, apenas o Itaú apresentou leve elevação da taxa (de 5,98% para 6,02%).

Apesar desse aumento, segundo o Procon-SP, a taxa média foi menor porque duas instituições que mantinham os juros mais elevados na comparação com as demais deixaram de compor a amostragem: o Real, incorporado pelo Santander, e o Unibanco, adquirido pelo Itaú.

Incorporações
Essas incorporações também evitaram, segundo o órgão de defesa do consumidor, que as correções sobre os juros do cheque especial em duas instituições financeiras (Banco do Brasil, de 7,79% para 7,95%; e Itaú, de 8,71% para 8,75%), alterassem a taxa média, que ficou estável em 9,10%.

Os dados foram apurados pelo órgão nos dias 2 e 3 nas seguintes instituições: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, HSBC, Itaú, Safra e Santander. Os técnicos do Procon recomendam cautela ao consumidor na hora de pedir um empréstimo e que sejam evitados financiamentos por impulsos. O Procon lembra que, segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o endividamento de 12% das famílias brasileiras supera em cinco vezes sua renda familiar mensal.


Educação financeira para alunos do DF

Rayanne Portugal

Mais de 850 alunos do segundo e terceiro anos do Centro de Ensino Médio Setor Leste terão a oportunidade de aprender a gerir finanças pessoais de forma descomplicada, além de conhecer os princípios do setor bancário, noções de competitividade e de empreendedorismo. O objetivo é preparar os estudantes para o torneio latino-americano do programa Bancos em Ação, que premiará os que se destacarem em simulações sobre tomadas de decisão, planejamento e administração de um banco em condições competitivas.

Promovido pela organização não governamental Junior Achievement de educação financeira e pelo grupo Citibank, o programa traz este ano a importância do consumo responsável por meio de exercícios e jogos aos alunos do Setor Leste, escola selecionada para representar o Distrito Federal no torneio. Ontem, voluntários do banco deram uma aula sobre história e estrutura bancárias, modalidades de investimento, significado das tarifas e juros no dia a dia do consumidor.

Nos dias 23 , 24 e 25 , a eliminatória do DF vai indicar o trio que disputará a semifinal em São Paulo, no mês de outubro. Os alunos serão avaliados por meio do software de simulação Banks in Action. A final latino-americana ocorrerá em novembro, na Costa Rica.

Abrangência
Os voluntários do Citibank vão preparar os alunos do Setor Leste com temas da educação financeira, como significado de juros, taxas a longo e curto prazos e investimentos, além de específicos sobre a administração de um banco, como gestão interna, marketing e empreendedorismo. ;Poucos alunos têm acesso a programas de educação financeira com essa abrangência;, comentou Ana Lúcia Marques de Paula, diretora do colégio. ;O projeto facilita a compreensão de conteúdos teóricos, cobrados no Programa de Avaliação Seriada (PAS ) e no vestibular, além de ser um importante exercício de interação e formação para os alunos.;

O supervisor operacional do Citibank, Ronaldo Choze, explica que a participação dos alunos no programa garante um diferencial para a vida escolar, pessoal e profissional deles. ;É grande o número de adolescentes que ainda não tiveram a experiência do primeiro emprego e que, por isso, não entendem a importância do cuidado com o próprio dinheiro. Gastam de forma exorbitante e não se interessam em poupar;, analisou Choze. ;Eles têm a oportunidade de aprender e aplicar novos conhecimentos que valerão pelo resto da vida, o que influenciará de forma positiva na forma como lidam com finanças.;

Os alunos estão empolgados com a oportunidade. Manuela Carvalho Soares, 18 anos, é aluna do segundo ano e acredita que a experiência ajuda os colegas a compreender melhor o caminho do dinheiro nos bancos. ;Sempre busquei economizar e gastar com inteligência. Mas hoje (ontem) vimos na prática como isso deve ser levado a sério. Aprendi sobre a importância de manter minha conta sempre em movimento, evitar juros de cartões de crédito e cheque especial, por exemplo;, disse. Para Enaile Ohana, 15 anos, que não tem conta em banco e recebe mesada da mãe, o cuidado que terá com o dinheiro será maior a partir de agora. ;Assim que receber meu primeiro salário, pretendo abrir uma poupança e me prevenir para o futuro;, revelou.

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