postado em 24/09/2010 07:30
A taxa de desemprego caiu pelo quarto mês seguido e alcançou 6,7%. É o menor nível já medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde o início da série histórica, em 2002. A expectativa para os próximos meses é de novos recordes até dezembro, melhor período para o emprego devido às contratações de temporários em razão das festas de fim de ano. Já o rendimento médio dos trabalhadores ficou em R$ 1.472, valor 5,5% superior ao de agosto de 2009, já descontada a inflação do período. O desempenho levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a comemorar o feito.;Minha geração nunca acreditou que o Brasil teria um índice assim (6,7%). Achavam que isso é coisa da Europa, dos Estados Unidos. Hoje a Europa está com 10% de desemprego;, comentou, em Maringá (PR). Mas, ao mesmo tempo em que os números animam governo e empresários ; face às perspectivas de boas vendas no último trimestre ;, eles trazem também preocupação quanto ao risco de aumento dos preços aos consumidores. O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos alerta que, apesar de as tendências serem positivas, há o risco de que levem o país a enfrentar sérias dificuldades para encontrar mão de obra suficiente ao sustento da demanda crescente.
O mais temido efeito colateral que essa situação pode causar é um aumento da taxa básica de juros, para conter o superaquecimento econômico. ;A escassez de trabalhadores aumenta o poder de barganha dos profissionais, favorece o aumento de salários e pode ocasionar alta da inflação;, avalia.
O economista Fábio Romão, da consultoria LCA, prevê, todavia, que os juros se manterão estáveis em 2011, mas reconhece que a pressão inflacionária pode ser maior do que se pensava. Ele toma por base o fato de que os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), de 0,31% em setembro, também surpreenderam o mercado de forma a demonstrar um aquecimento econômico acima do esperado. ;Na análise por setor, a renda na construção civil cresceu 9,3% no ano. Por se tratar de um ramo onde há reconhecida escassez de mão de obra, o número pode ser interpretado como indício do aumento do poder de barganha dos trabalhadores;, sugere Romão.
Pujança
Salários mais altos representam maiores custos para as empresas, que por sua vez podem ser repassados ao preço dos produtos. Reforça o cenário de risco o maior poder de compra da população. A economista do IBGE Adriana Birigui, explica que, em 12 meses, a renda aumentou em todas as regiões metropolitanas pesquisadas. Em comparação ao mesmo período do ano passado, há 691 mil empregados a mais no país. ;O setor que mais criou vagas é o classificado como outros serviços, que cresceu 9,4% em 12 meses e gerou 336 mil vagas, puxado pelo segmento de alimentação;, disse.
A pujança do comércio alimentício é visível na padaria Divino Pão, localizada no Núcleo Bandeirante onde, só na última semana, três funcionários foram contratados. Um deles é o padeiro português Paulino Vieira, 34 anos, morador de Valparaíso (GO), que conseguiu uma vaga com carteira assinada após cerca de seis meses sem emprego fixo. Sua próxima meta é qualificar-se para crescer profissionalmente. ;Estou estudando ensino médio a distância;, comenta. Colega dele na empresa, Nelion dos Reis, 19, reconhece que o cenário é favorável, tanto que acumula dois empregos: um na padaria e outro como operador de telemarketing. ;São tantas ofertas que dá até para escolher;, festeja.
Recenseadores
A contratação de mais de 190 mil temporários para o Censo 2010 também impactou o índice. Mas, mesmo sem essa ajuda, o mercado de trabalho teria números expressivos, já que dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicaram a geração de 299 mil vagas formais no mês, sem contar os recenseadores. A brigadista Vanda Sales, 38 anos, moradora de Brazlândia, comemora o bom momento, que lhe permitiu conseguir um emprego após três anos de tentativas. ;Com o dinheiro, pretendo terminar a faculdade de enfermagem;, revela.