postado em 26/09/2010 08:36
Despercebido por boa parte do comércio e da indústria, um contingente de 21,7 milhões de consumidores ; população maior que a da Austrália ; começa a ser descoberto pelo empresariado. Com um potencial de consumo bilionário, os brasileiros da terceira idade, antes relegados ao esquecimento da velhice, estão cada vez mais ativos. Mais que isso, estão comprando muito. Segundo estimativa do instituto alemão GfK, eles movimentam R$ 13 bilhões ao ano, o que equivale a 17% do poder de compra no Brasil.Ao se tornarem consumidores importantes, esse grupo passou a deixar de lado os bailes da saudade e o estigma segundo o qual lugar de idoso é na cama. Com dinheiro no bolso e tempo livre, os mais vividos estão indo mais ao shopping, academias de musculação e se dedicando mais ao
turismo. Segundo a GfK, 92% dos entrevistados na pesquisa realizada pelo instituto declararam raramente ter ido a ;um bailinho para a melhor idade; ou mesmo nunca ter participado de algum. O que eles querem é comprar e se divertir com pessoas de todas as idades e, principalmente, viver com qualidade de vida.
;Esse é um público que está vivendo mais e com dinheiro no bolso. A expectativa de vida está em torno de 82 anos. Estão bem informados e com bastante acesso à tecnologia;, relata Gilberto Cavicchioli, especialista no assunto e professor de marketing de serviços da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Turismo
As empresas começam a fazer as contas sobre a importância desse segmento. A Fiat calcula que, hoje, 12% dos compradores de seus carros têm mais de 50 anos. Em 2030, eles serão 20%. A operadora de turismo CVC
estima que o total de clientes de seus pacotes de viagens com mais de 50 anos de idade passará de 750 mil atualmente para, pelo menos, 1,4 milhão em 2011.
Entre os produtos e serviços consumidos por esses brasileiros, qualidade de vida é palavra de ordem. A academia Dom Bosco, na Asa Sul, criou uma turma direcionada para esse público. Um professor de educação física orienta um grupo de 11 alunos nas práticas de musculação, aeróbica e em atividades lúdicas, motoras e para melhorar a memória. Maria Emília Azambuja, 70 anos, é aluna assídua. Todas as manhãs, ela e o marido, Enos Azambuja, 74, acordam cedo para se exercitarem. Além de se preocupar com a saúde, Maria Emília é vaidosa. ;Compro maquiagem sempre;, conta.
Ao lado da mulher sempre elegante, Enos não esconde como levam a vida. ;Com o tempo livre que temos, viajamos bastante. Pelo menos três vezes por ano.; O casal divide a turma da academia com o alegre Panagiotis Bokos, um grego de 78 anos também consumidor de viagens e de ;tudo o mais; que lhe fizer bem. ;Se a diabetes não está atacada, gosto é de comer de tudo;, brinca, para ser logo repreendido pelo professor da academia.
Classe alta
De acordo com dados do GfK, a terceira idade no Brasil tem dinheiro. Dos mais de 21 milhões de idosos, um contingente de 43% é considerado de classe alta, com renda mensal superior a 10 salários mínimos. Segundo o Ministério do Turismo, nos últimos três anos 500 mil pessoas com mais de 60 anos compraram pacotes pelo programa Viaja Mais Melhor Idade. Além disso, essa população compra maquiagens, roupas e calçados, acessórios e alimentação, dentro e fora do lar.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostra que os avanços da medicina e o acesso à informação, principalmente com a expansão da internet, vêm aumentando a expectativa de vida do brasileiro. Enquanto a população total do país cresceu 12,1% entre 2001 e 2009, a de idosos avançou em ritmo mais acelerado ; alta de 40,5% no período. A quantidade de pessoas com 70 anos ou mais aumentou em velocidade ainda maior: 45,3% nos nove anos da análise.