postado em 30/09/2010 07:45
Os severos problemas climáticos vividos em algumas regiões do Brasil e também fora do país transformaram os alimentos, heróis dos preços nos últimos três meses, em vilões da inflação. Em setembro, o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), utilizado como base para o reajuste de contratos de aluguel, acelerou para 1,15%, ante 0,77% registrado em agosto. A pressão deve manter o Banco Central atento e pode antecipar o retorno do ciclo de arrocho monetário para o início do ano que vem, segundo estima parte do mercado.O resultado de setembro foi puxado pelo Índice de Preços no Atacado (IPA), responsável por captar as variações de custos ao produtor. De acordo com a Fundação Getulio Vargas, ele passou de 1,24% em agosto para 1,60% e, dentro do indicador, o subgrupo que mais avançou foi o de alimentos processados, de 1,32% para 3,99%.
Na avaliação de Rosemeire Santos, economista da Confederação Nacional da Agricultura, a influência do segmento alimentício nos preços deve ganhar força nos próximos meses. ;Há agora um grande temor de que esse movimento reduza o poder de compra, principalmente das famílias de menor renda;, afirmou. Para ela, a próxima semana deve ser decisiva para a cultura de grãos, em especial a soja. ;O plantio está atrasado no Centro-Oeste (primeira região a receber o cultivo da safra 2010/2011) e não choveu o suficiente para garantir uma boa produtividade;, considerou.
A possível frustração da safra brasileira, segundo a economista, pode agravar ainda mais os preços internacionais de commodities agrícolas, que já sofreram elevações por conta de problemas relacionados ao plantio de trigo na Rússia e à produção de algodão. ;Se o mercado internacional continuar com escassez, os preços tenderão a se manter firmes (em patamar alto), se for confirmada uma quebra de safra no Brasil, alimenta essa alta;, avaliou.
No bolso
Enquanto se intensifica nos custos de produção, a carestia dos alimentos começa a aparecer na prateleira do supermercado. O Índice de Preços ao Consumidor, outro componente do IGP-M, deixou de registrar queda de 0,27% e apresentou, em setembro, avanço de 0,34%. Quatro dos sete grupos que formam o indicador tiveram aumento de preços, mas o destaque ficou com alimentação, ao passar de -1,28% para 0,56%, puxado por hortaliças, legumes, frutas e carnes bovinas. Para o coordenador do IGP-M, Salomão Quadros, parte do aumento de preços já foi repassada ao consumidor, mas a tendência é de mais reajustes. ;A cadeia (produtiva) agropecuária está toda pressionada, desde a produção de grãos para ração, o que acaba pesando, por exemplo, nas carnes. Parte disso já está nos preços de alimentos ao consumidor, mas ainda tem mais efeitos que deverão aparecer;, ressaltou.
A reviravolta nos preços alimentícios não deve alterar já a postura do BC em relação aos juros, segundo análise do economista-chefe da corretora Máxima Asset Management, Élson Teles. ;É um aumento associado a um choque de oferta pontual.;