postado em 02/10/2010 08:00
Mais veloz do que a indústria automobilística, o setor de autopeças dispara rumo a recordes históricos. Com as vendas de veículos em alta, as empresas que dão suporte às linhas de produção das montadoras não só retomaram o ritmo de expansão pré-crise, como tentam se adequar a uma demanda muito mais aquecida do que há dois anos. O reflexo desse crescimento vigoroso já bateu à porta das oficinas, que, sempre lotadas, correm contra o tempo para cumprir prazos.Os fabricantes de componentes, vidros, acessórios e borrachas para automóveis projetam um salto no faturamento da ordem de 23% em 2010, na comparação com o ano passado, alcançando R$ 79,7 bilhões. O número de veículos emplacados no mesmo período vai avançar apenas 8%. Nos autocentros especializados em carros novos e usados, para conseguir atendimento, é preciso entrar em filas que podem durar até 15 dias, dependendo do caso ou da cidade.
Para aliviar a espera do consumidor, mecânicas autorizadas das grandes marcas criaram sistemas de agendamento para receber os carros e entregá-los. ;Quando é preciso trocar alguma peça do veículo, só demanda algum tempo se for preciso instalar itens de acabamento. Nesse caso, a peça demora de três a quatro dias para chegar;, reforçou Anderson Cleiton Pinheiro, chefe de oficina da Brasal. ;Já das peças de giro, que saem com mais frequência, temos um estoque grande e nunca deixamos faltar nada;, advertiu.
Pico
O movimento está tão intenso nas revendedoras que, apenas em setembro, uma única concessionária Fiat do Distrito Federal vendeu R$ 3 milhões entre peças e serviços. Determinados modelos, nas versões novas, estão em falta no estoque. ;O crédito fácil é que está impulsionando essa quantidade de vendas. A inadimplência está em baixa e os juros também. Por isso, as vendas batem recorde todo mês;, disse Ricardo Braga, gerente comercial da Bali. ;Nossa oficina chegou ao limite. A demanda está forte e para podermos atender nossos clientes com mais comodidade vamos abrir uma nova concessionária em março;, completou Braga.
O professor Márcio Bráz, 36, e sua mulher, a estudante universitária Andréa Mariano Souza, 23, levaram o carro para uma troca de óleo na sexta-feira passada. ;Até que o atendimento foi rápido, mas o preço está meio salgado. Paguei R$ 113 pelo serviço;, disse Bráz. Segundo ele, o mais demorado é quando se precisa de um reparo. Dependendo da avaria, pode demorar até mais de uma semana para ficar pronto. ;A demora nem é problema, a questão principal é o preço. Os serviços de oficina têm ficado muito caros nos últimos meses;, avaliou Bráz.
Dados divulgados ontem mostram que, no acumulado de janeiro a setembro, o setor automotivo cravou um novo pico de vendas com um crescimento de 9,45% frente a igual período de 2009. Foram quase 4 milhões de carros vendidos, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Para o presidente da entidade, Sérgio Reze, o fim da isenção tributária para aquisição de veículos não afetou em nada a comercialização. ;As concessionárias e marcas absorveram o reajuste;, explicou. Conforme as projeções da Fenabrave, o país vai emplacar 5,1 milhões de veículos neste ano ; o que representa um avanço de 8,05% contra as vendas de 2009. Só automóveis e comerciais leves vão somar ao fim de 2010 mais de 3 milhões de carros.
Balança
As exportações de automóveis cresceram 44,1% em setembro em relação a igual mês do ano passado, somando US$ 384,2 milhões. As de autopeças aumentaram 38,6% no período, também puxadas por compras realizadas pela vizinha Argentina e pelo México, totalizando US$ 318 milhões. Levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) revela um acréscimo nas exportações de partes de motores para veículos de 49,6%, resultando em US$ 140,2 milhões.
O aumento das vendas neste setor teve impacto sobre o volume global exportado ao Mercosul, com alta de 53,5%. A Argentina, por exemplo, comprou 60,5% a mais do Brasil durante o mês em relação a setembro de 2009. No acumulado de janeiro a setembro de 2010 em comparação com o mesmo período do ano anterior, houve crescimento nas exportações de veículos de carga (85,5%); nas de motores de veículos e partes (76,6%); de autopeças (44,6%), automóveis de passageiros (42,6%) e pneumáticos (20,2%). (Colaborou Mariana Mainenti)