Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 05/10/2010 08:40
A inflação deve iniciar uma escalada a partir da próxima divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), na quinta-feira. Mas, ainda assim, o Comitê de Política Monetária (Copom) não vai se mexer para subir os juros, medida que agrada à campanha da petista Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto. A expectativa do mercado, segundo dados do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, é de que a elevação no custo de vida, em setembro, tenha ficado entre 0,45% e 0,50%. Até o fim do ano espera-se pelo menos outras três altas, o que deixaria a inflação dois pontos percentuais mais elevada.Na avaliação de especialistas, o IPCA deve ficar dentro da meta ; de dois pontos percentuais acima ou abaixo de 4,5% ao ano ; e o consenso é de que o BC não fará novo aperto nos juros por não existir razões técnicas, o que acaba por beneficiar a candidata do governo. Mesmo com uma reunião do Copom às vésperas do segundo turno ; em 19 e 20 de outubro ;, economistas afirmam que a autoridade monetária continuará a atuar de maneira técnica. ;Não tem por que o Copom mexer na taxa de juros por causa das eleições;, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
Segundo o relatório Focus divulgado ontem pelo BC, a estimativa de inflação para este ano subiu pela terceira semana consecutiva, passando de 5,05% da semana imediatamente anterior para 5,07%. Para 2011, a previsão de aumento dos preços apresentou um pequeno recuo, de 4,94% para 4,92%. As duas estimativas estão acima do esperado pela equipe de Henrique Meirelles, o presidente do Banco Central ; para 2010, a autoridade monetária espera uma inflação de 5% e para 2011 de 4,6% ;, mas ainda dentro da margem de tolerância.
;O BC já explicou que no seu modelo está prevendo uma volta da inflação agrícola, que está preocupado com salários em alta e com o crédito farto. Mas, ainda assim, na hora em que avalia tudo isso, o resultado é uma inflação na meta;, explicou Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora. Para ele, o Copom só precisará intervir nos juros no caso de um encarecimento disseminado por vários produtos . ;Se for duradoura uma situação dessas, aí sim o BC vai reagir;, concluiu Montero.
Cenário ruim
Para Flávio Serrano, economista do Banco BES Investimento do Brasil, os juros não deverão se alterar, mas a expectativa é de uma elevação seguida de preços nos próximos meses. ;A gente espera uma piora, mas nada estratosférico;, disse Serrano. Segundo Gonçalves, do Banco Fator, tal piora vai depender do comportamento dos preços dos alimentos. Com a quebra da safra de trigo na Rússia e do feijão no Brasil, as projeções são de que esses problemas no campo se apresentem cada vez mais intensos na mesa e no bolso do consumidor. A escassez de cereais também impacta diretamente no custo das carnes, já que são usados como alimento na cadeia produtiva do gado de corte.
Para manter a inflação em torno da meta com todo esse cenário, o próprio BC conta ainda com o impacto da alta dos juros promovida este ano, que ainda não foi totalmente absorvida pelo mercado. A taxa Selic saiu de 8,75% ao ano e foi parar em 10,75%. O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, reconheceu que não há muito o que fazer com relação à inflação deste ano. Mesmo que a autoridade monetária aumentasse os juros, o efeito só seria sentido no ano que vem devido à defasagem de transmissão do ajuste monetário.
Os economistas concordam com essa visão. Lima Gonçalves traçou um cenário em que apenas no último trimestre de 2011 haverá nova puxada nos juros. O economista conta com o impacto benigno sobre a inflação de serviços e as finanças públicas de não haver um reajuste real para o salário mínimo, além do crescimento expressivo das importações, que, segundo ele, vai impedir que os empresários consigam repassar para os preços os aumentos de salários que eles derem.
O economista do Sul América Investimento, Marcelo Gazano, é outro que não vê a taxa Selic se mexendo a curto prazo. Para o ano que vem, a situação muda. O Sul América ainda trabalha com a possibilidade de os juros começarem a subir em janeiro. O ajuste esperado para a taxa Selic em 2011 é de 1,50%, com três aumentos de 0,5%.