Jornal Correio Braziliense

Economia

Para analistas, 2º turno e eventual virada de Serra não assustam

Os analistas do mercado financeiro consideram que, apesar do segundo turno inesperado, o Brasil vive uma eleição presidencial madura e com impacto zero no cenário econômico. A candidata do governo, a petista Dilma Rousseff, ainda segue a preferida dos investidores, por representar a continuidade de uma gestão que, segundo eles, deu certo. Mas uma eventual vitória de José Serra (PSDB), com algumas ressalvas, não assusta. Ontem, primeiro dia depois da notícia de continuidade da eleição, o Ibovespa, principal índice da bolsa paulista, fechou com elevação de 0,22%, aos 70.384 pontos. E o dólar valorizou-se 0,66%, cotado a R$ 1,690 para compra e R$ 1,692 para venda.

;O mercado só ia virar se Plínio de Arruda fosse para o segundo turno;, brincou Gustavo Gazaneo, gestor da SLW Asset Management. Por ora, os relatórios dos bancos ainda fazem ressalvas sobre uma virada de Serra sobre Dilma. Luiz Roberto Monteiro, assessor de investimentos da Corretora Souza Barros, admitiu que a possibilidade de eventual vitória de Serra causou ;um pouco de estresse entre as corretoras, logo debelado;. Na avaliação de Mário Paiva, da Corretora BGC Liquidez, ;o mercado esperava que a eleição fosse resolvida no primeiro turno, porém, vença quem vencer, a conjuntura está sólida e o mercado continuará otimista;.

Pragmático, o mercado receava que um eventual segundo turno adiasse medidas do governo para barrar a queda do dólar. No entanto, ontem, logo após o fechamento do mercado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% para 4% sobre os investimentos do capital externo em renda fixa (leia mais na página 16). Marcelo Coutinho, sócio-presidente da Youtrade, lembrou que, em 20 de outubro de 2009, quando a taxação foi fixada em 2%, o Ibovespa desvalorizou-se 2,88% em um só dia. Na crise do ;risco Lula;, em 2002, quando o mercado temia eventuais desatinos do novo governo, o índice recuou 33,23%, mas em cinco meses.

Dilema
Boa parte dos analistas do mercado aposta as fichas na vitória de Dilma em 31 de outubro. O mérito do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter superado rapidamente os percalços da última crise econômica mundial deu confiança para os mercados nacionais e internacionais. Agora, o dilema é apostar em um discurso à favor da continuidade dessa política econômica pregada pela oposição. Além disso, Serra teoricamente enfrentaria maiores dificuldades para governar diante de um Congresso mais favorável à candidata governista. Logo, é mais confortável apostar na candidata petista, considerada com as credencias para dar continuidade à política econômica atual.

A demora em apresentar um plano de governo e o medo de associar a imagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que praticamente não apareceu na propaganda política do primeiro turno, são fatores de desconfiança para Serra, opinou o professor da Faculdade Ibmec-DF Creomar Lima Carvalho de Souza. ;O projeto dele, apresentado a poucos dias antes do primeiro turno, acrescenta muito pouco, pois evita criticar o mérito da estabilidade do governo do Lula;, analisou. A seu ver, o candidato demorou muito para construir um discurso e criticar a inclusão social do governo seria arriscado. ;A oposição adotar um discurso de continuidade não deixa de ser contraditório;, diz.

Diante dos riscos, as fichas vão para a candidata petista, diz relatório do banco HSBC divulgado ao mercado. ;Achamos que o resultado do primeiro turno foi uma surpresa, que dá uma pequena esperança para o candidato José Serra. No entanto, Dilma Rousseff permanece favorita para o segundo turno e apenas precisa atrair não mais do que um quinto dos votos de terceira colocada Marina Silva para vencer;, diz o relatório assinado pela equipe dos economistas André Loes e Constantin Jancsó.