Economia

Governo baixa a 3ª medida em 2 semanas para tentar segurar o dólar

postado em 07/10/2010 08:00
Preocupado com os efeitos negativos do câmbio na economia, o governo anunciou ontem a terceira medida em 15 dias para tentar conter o derretimento da cotação do dólar. O Tesouro Nacional foi autorizado a comprar a moeda para honrar os títulos da dívida externa que vencem nos próximos quatro anos. Até agora, a permissão tinha um horizonte de apenas dois anos. Na prática, a mudança permite uma aquisição adicional de US$ 10,7 bilhões, o que pode, em tese, pressionar para cima o valor da divisa. O Ministério da Fazenda tem a firme disposição de frear o fortalecimento do real a qualquer custo para evitar prejuízos à indústria nacional e aos exportadores, além de estancar o impulso importador. Assim, pretende garantir a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011.

Os formuladores da política econômica já estão à beira do desespero. Apesar do empenho da equipe, analistas asseguram que, diante do volume expressivo de ingresso de capital no país, as iniciativas adotadas até agora serão pouco eficientes. ;Essa é mais uma cartada do governo, mas ela não vai conter a queda do dólar;, garantiu o economista Homero Guizzo, da LCA Consultores. Na sua avaliação, a ampliação do teto do Tesouro não elimina a impotência do governo, que continuará tendo que lidar com o problema. ;Depois que esses US$ 10 bilhões forem comprados, o que poderá ser feito? Isso não muda o fato de que há um rio de dinheiro querendo entrar no país;, afirmou.

O volume líquido de dólares que desembarcou no Brasil em setembro, segundo divulgou ontem o Banco Central, superou os US$ 16,7 bilhões, valor recorde ; pouco menos do que o registrado em todo o ano passado (US$ 18,8 bilhões). Autoridades econômicas dos principais países do mundo estão em estado de alerta com o enfraquecimento do dólar (leia mais na página 25). No fim de setembro, o governo brasileiro resolveu se mexer. Primeiro, permitiu que o Fundo Soberano compre quantias ilimitadas da divisa. Na segunda-feira, a Fazenda dobrou a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre os investimentos estrangeiros em renda fixa, que passou de 2% para 4%. A intenção é reduzir o fluxo cambial e recuperar a cotação da moeda.

No primeiro dia do IOF maior, a medida foi inócua ; em sentido contrário ao desejado, o valor do dólar caiu 1%. Ontem, porém, a cotação subiu 0,41%, fechando a R$ 1,682. Ainda assim, o consenso entre os analistas é de que a divisa norte-americana deve continuar recuando a médio prazo, podendo fechar o ano abaixo de R$ 1,60. ;A tendência é de desvalorização por conta da crise e dos ajustes que a economia norte-americana está fazendo. A recuperação a níveis anteriores a 2008 vai demorar alguns meses;, afirmou o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Evaldo Alves.

Hora de acelerar
Segundo o chefe da Assessoria Econômica do Tesouro, Jeferson Bittencourt, a ampliação do limite para quatro anos se justifica: ;Entendemos que agora é o momento de acelerar as compras do Tesouro;. O próprio secretário Arno Augustin havia dito, na semana passada, que o volume suficiente para fazer face ao pagamento da dívida externa nos próximos dois anos estava ;praticamente todo adquirido;. Os títulos que vencem nos próximos 24 meses somam o equivalente a R$ 23,24 bilhões.

Os rumos do câmbio preocupam tanto que até a candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff, entrou na discussão. Ela defendeu a reforma tributária e a redução do endividamento público como formas de aumentar a competitividade da indústria nacional e diminuir as oscilações no mercado. ;Acho que o IOF sempre foi uma das medidas para inibir a especulação, mais do que qualquer outra coisa;, afirmou ontem. Ao estimular as importações e afetar a produção interna, o real forte gera expansão econômica fora do país e não aqui dentro.

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