Economia

Trabalhadoras continuam ganhando 40% menos que os homens

Rosana Hessel
postado em 13/10/2010 09:15

Apesar de a economia do Brasil crescer em ritmo acelerado, com os índices de desemprego nos menores níveis da história e a renda dos trabalhadores apontando para cima, a riqueza não está sendo igualmente dividida entre homens e mulheres. Aliás, as diferenças pioraram no último ano, de acordo com o relatório Gender Gap (Diferenças de Gênero) de 2010 divulgado ontem pelo World Economic Forum (WEF). No ranking geral de 134 nações pesquisadas, o país obteve a pontuação 0,6655 e ficou em 85; lugar, quatro degraus abaixo da classificação do ano passado, quando estava na 81; colocação. A posição do Brasil foi ocupada por Angola, que estava na 106; posição na última pesquisa.

O estudo é realizado anualmente pela entidade sediada em Genebra, na Suíça, e classifica as desigualdades entre homens e mulheres. Foram considerados quatro pilares comparativos: educação, saúde, mercado de trabalho e participação na política. Quanto mais próximo de 1,0 na pontuação geral, menor a diferença entre gêneros nesses quatro itens de avaliação. A pontuação mais alta foi a da Islândia (0,8496) e a mais baixa, do Iêmen (0,4603).

Conquistar um lugar abaixo da média deixou o Brasil bem atrás de economias pequenas e ainda pouco desenvolvidas, como o Lesoto, que subiu da 10; para a 8; posição, superando até os Estados Unidos, a maior do planeta. No país africano, que tem um Produto Interno Bruto (PIB) ; soma de tudo o que é produzido em um ano ; de US$ 1,6 bilhão e uma população de 2,05 milhões de pessoas, a riqueza está dividida de forma mais igualitária entre os trabalhadores, assim como o acesso à educação e à saúde. Lá, as mulheres ganham apenas 27% a menos que os homens. Já no Brasil, essa diferença sobe para 40%, ou seja, a renda per capita média anual para uma trabalhadora gira em torno de US$ 7,19 mil enquanto a do trabalhador feminino é de US$ 12 mil. O país, entretanto, registra uma boa classificação em relação à educação (63; lugar) e está entre os primeiros em relação ao acesso à saúde.

Congresso

;O Brasil apresentou uma piora em termos globais, perdendo algumas posições devido ao aumento da desigualdade no ambiente de trabalho, pois poucas mulheres ocupam cargos de chefia. Além disso, a participação feminina na política continua muito baixa e coloca o país entre os últimos desse ranking, pois apenas 10% dos cargos no Parlamento são ocupados por indivíduos do sexo feminino;, disse ao Correio Saadia Zahidi, diretora do WEF e coautora do estudo. Ela lembrou que o tamanho do país não influencia o equilíbrio entre os homens e as mulheres na pesquisa e nem sempre crescimento acelerado implica em melhoria das desigualdades.

Aliás, os vizinhos da América do Sul, como Argentina, Chile, Equador, Colômbia, Peru e até o Paraguai, estão mais bem posicionados que o Brasil na classificação geral. Comparando com a Argentina, por exemplo, Saadia lembrou que aquele país, além de ter uma mulher na presidência, Cristina Kirchner, ainda tem um percentual bem maior de mulheres no Congresso (63%). Mas as argentinas ganham praticamente a metade da renda dos homens, o que mostra que ainda há desigualdades no país vizinho.

Destaque

Entre os Bric (bloco das economias emergentes de crescimento acelerado e integrado por Brasil, Rússia, China e Índia), o país só está melhor que a Índia. A mulher indiana ganha o equivalente a 32% da renda do homem. Já a China está entre os primeiros quando se fala em educação, principalmente universitária, mas tem uma grande desigualdade na questão da saúde, pois a taxa de natalidade feminina é muito baixa. Já diferença da média salarial das chinesas vem caindo ano a ano e, hoje em dia, equivale a 68% da renda dos chineses.

Os primeiros do ranking mundial do WEF não mudaram: Islândia, Noruega e Finlândia mantiveram suas respectivas posições. O mesmo aconteceu com os lanternas da lista: Chade e Iemen. Mas um dos destaques foram os Estados Unidos, que saltaram da 31; posição para a 19; do ranking mundial, ficando pela primeira vez entre os 20 primeiros. O país não possui desigualdade entre homens e mulheres quando se fala de educação e, por isso, está entre os primeiros do ranking nesse quesito. A diferença salarial, inclusive, é bem baixa entre os gêneros. Lá as mulheres ganham 13% a menos que os homens.

Ladeira abaixo

Mercado de trabalho brasileiro continua tratando muito mal as mulheres

Lista de 2010 2009
países
; Islândia 1 1
; Noruega 2 2
; Finlândia 3 3
; Suécia 4 4
; Lesoto 8 10
; Estados Unidos 19 31
; Cuba 24 29
; Argentina 29 24
; Guiana 38 35
; Equador 40 23
; Rússia 45 51
; Chile 48 64
; Colômbia 55 56
; Peru 60 44
; China 61 60
; Venezuela 64 69
; Paraguai 69 66
; Gana 70 80
; Bolívia 76 82
; Angola 81 106
; Brasil 85 81
; México 91 98
; Índia 112 114
; Paquistão 132 130
; Chade 133 133
; Iêmen 134 134


Fonte: World Economic Forum

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