postado em 14/10/2010 08:07
As armas utilizadas pelo governo para conter a farra cambial que tomou conta do mundo têm se mostrado ineficientes. Mesmo com a duplicação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente sobre a entrada de recursos estrangeiros, de 2% para 4%, o Brasil continua a receber uma enxurrada de dólares. Apenas nos oito primeiros dias de outubro, o Banco Central registrou entrada líquida (já descontada a saída de capitais) de US$ 2,18 bilhões. Um forte estímulo para a nova queda da moeda norte-americana, que recuou ontem 0,84% e fechou o dia a R$ 1,652 para venda, o menor valor desde setembro de 2008, antes do agravamento da crise global.Segundo analistas, os estrangeiros estão fazendo uma operação chamada carry-trade. Como os juros lá fora estão em zero ou próximos disso, os investidores pegam empréstimos e aplicam o dinheiro no Brasil, principalmente em títulos públicos, que pagam 10,75% ao ano. Mesmo com o IOF, o retorno ainda é de 6,75% e o risco de perda é mínimo. O resultado disso é que a entrada de dólares tem sido cada vez maior, supervalorizando o real ante a moeda norte-americana e tirando a competitividade dos exportadores brasileiros.
A avaliação dentro do governo e no mercado é de que, enquanto as nações desenvolvidas continuarem com as políticas relaxadas, as emergentes serão inundadas de dólares. O que assusta a todos é a possibilidade de o Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos, dar novos estímulos à economia local, o que tenderá a derreter ainda mais o dólar. ;O fluxo cambial da última semana mostrou que o impacto das medidas tomadas pelo governo brasileiro é limitado;, disse o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho. Ele estima que, nos 12 meses até outubro, a entrada líquida de dólares no Brasil chegará a US$ 30,3 bilhões.
Enxurrada
Para tentar reverter o pessimismo, o governo fez questão de ressaltar que, na comparação com setembro, após o aumento do IOF, a entrada de dólares no país para aplicação financeira caiu 63%. Faltou dizer, porém, que esse recuo deve ser creditado, exclusivamente, ao processo de capitalização da Petrobras, que atraiu muito capital para o Brasil. Diante disso, a economista-chefe da Link Investimentos, Mariana Costa, foi taxativa. ;A duplicação do IOF foi um tanto quanto inócua.;
A enxurrada de dólares não é, contudo, um problema exclusivo do Brasil. A expectativa é de que as economias em desenvolvimento recebam, entre 2010 e 2011, pelo menos US$ 800 bilhões devido à onda de redução de juros no mundo rico. Para Mariana, um dos principais alvos de todo esse dinheiro será o Brasil, devido às altas taxas de juros praticadas aqui. ;O país será um destino muito interessante para os investidores enquanto os juros nas economias avançadas continuarem tão baixos;, ressaltou.
Importados
Na visão dos especialistas, o país precisa baixar urgentemente a taxa básica de juros (Selic) sem que, com isso, gere inflação. Para equilibrar os preços e, ao mesmo tempo, colocar o custo do dinheiro em um nível que não atraia as operações de carry-trade, o governo precisa parar de pressionar a inflação com seus gastos excessivos.
Segundo o economista-chefe da Modal Asset, Felipe Tâmega, a supervalorização do real fará com que o país tenha, neste ano, o Natal dos importados ; o que complicará ainda mais a situação das contas externas. Na avaliação de Tâmega, o debate que se está travando no mundo em torno do câmbio é apenas uma preparação para que os mercados e as sociedades aceitem medidas de maior controle cambial.