Economia

Mudança de hábito: aposentados investem no trabalho que sempre almejaram

postado em 17/10/2010 15:35
Segundo o novo dicionário Aurélio, aposentadoria significa ;estado de inatividade de funcionário público ou de empresa particular, ao fim de certo tempo de serviço, com determinado vencimento; reforma;. Para muitos dos que já passaram dos 60 anos, essa definição pode realmente se encaixar no perfil da busca pela tranquilidade. Mas é também cada vez mais comum que aposentar-se seja sinônimo de recomeçar. De iniciar um novo caminho no mercado por meio do empreendedorismo, da docência nas universidades, das pequenas empresas ou até do ingresso no funcionalismo público.

Independentemente da função, quem chega à melhor idade em busca de trabalho procura qualidade de vida e a realização de sonhos. Segundo o gerente nacional de atendimento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Ênio Duarte Pinto, existem dois momentos nos quais o indivíduo pode investir em projetos ousados: quando ainda é um estudante universitário e depois que encerra o tempo de contribuição. ;Na universidade, o jovem ainda não constituiu família e não tem muitas responsabilidades. Por isso, se algo der errado, é só continuar na casa dos pais. Quando se chega na terceira idade, a pessoa já resolveu suas questões financeiras básicas, já comprou casa, pagou os estudos dos filhos e tem um grande ponto a favor: a experiência;, define.

Foi o que pensou Maria do Socorro Vale, 73 anos, ao começar a investir em uma empresa de costura. Há 20 anos, ela se aposentou do serviço público e decidiu criar roupas de moda praia e aeróbica apenas por hobby, mas a demanda cresceu tanto que o projeto precisou ser expandido. ;Já havia planejado fazer algo que gosto depois de me aposentar. Costurava para minhas filhas, herdei o dom da minha mãe. Quando vi que o negócio começou a crescer, fui atrás de melhorias no meu currículo;, conta Maria do Socorro.

E ela começou pelo lado certo: a capacitação. Buscou empresas especializadas em cursos de corte e costura, aprendeu novas técnicas e investiu pesado em máquinas modernas para fazer um serviço de excelência e conseguir vencer o mercado competitivo. A proatividade da aposentada a impulsionou a firmar parcerias com um consórcio de exportação chamado Flor Brasil, que levou suas peças para outros países. Além disso, Maria do Socorro contou com o apoio do Sebrae, da Federação das Indústrias do DF (Fibra) e de outras instituições de apoio aos microempresários.

Feliz assim
Atualmente fazendo carreira ;solo;, além de ser uma das 6, 4 milhões de pessoas acima dos 60 anos que compõem a população economicamente ativa do país, a microempresária está em outra estatística: a de empreendedores na melhor idade que geram empregos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Representando ainda uma parcela pequena da população, de 8%, a proprietária da loja Vento Radical se diz orgulhosa em contribuir para o crescimento e o primeiro emprego de jovens.

Além disso, afirma que não conseguiria ficar apenas viajando, como muitos dos amigos sugerem quando a encontram. ;Acho que ia cansar, ficar doente ou enferrujar os neurônios. Hoje, tenho uma equipe produtiva e gero empregos;, enfatiza. Aos 73 anos, Socorro não quer parar por aí: pretende expandir os negócios, aumentar a produção e abrir outra loja na zona central da cidade para vender mais. ;Faço porque gosto e sou feliz assim, mas também quero reconhecimento e retorno financeiro, né?;, brinca.

Mudança de hábito
De acordo com o diretor-presidente da Homero Reis e Consultores, Homero Reis, escolher o caminho de Maria do Socorro tem se tornado comum entre os aposentados. ;A qualidade de vida aumentou. Antes, uma pessoa com 50 anos era idosa, mas, hoje, indivíduos nessa idade estão em plena atividade. O trabalho é uma forma de qualificar a vida. Então, por que não investir no profissional?;, questiona. Além dessa vontade, o mercado está aberto para essas pessoas, sobretudo nas áreas que exigem mais paciência, mais experiência e habilidades específicas.

Os segmentos mais comuns escolhidos pelos que já entraram na terceira idade são o acadêmico, o de voluntariado no terceiro setor, o turístico e o empreendedor. Todos associados ao prazer, já que essas pessoas querem algo que as deixe felizes depois da aposentadoria. Mas uma recomendação dos especialistas é que, para escolher o melhor caminho, sejam levados em conta a saúde e os benefícios reais à vida do idoso. E, para isso, é preciso que a atividade esteja de acordo com o perfil de cada um.

Para descobri-lo, é possível procurar uma consultoria ou fazer análises básicas (veja quadro). ;Existem profissionais se especializando nesse setor devido à grande procura. Já percebi o crescimento na área de turismo e na abertura de franquias para aqueles da melhor idade;, conta Roberta Yono Ebina, consultora da Muttare, empresa especializada em coaching e mudança de modelo de gestão. Além disso, ela ressalta que os idosos especializados em suas áreas de atuação têm recebido convites para voltar ao quadro das empresas das quais saíram. ;Vejo muitos maquinistas sendo chamados para ferrovias, porque a exportação de grãos e minérios está em alta e não existe pessoal qualificado;, aponta.

Porém Roberta Ebina faz um alerta: não vale a pena sair por aí arriscando todo o dinheiro recebido do Fundo de Garantia ou todas as economias de uma vida em um sonho que não poderá ser concretizado por falta de perfil ou por não existir mercado. ;Não dá para correr. É preciso ver os nichos para cada cidade, no caso dos empresários. Se ele não puder pagar uma consultoria, vale a pena recorrer a instituições como o Sebrae;, aconselha.

Maria do Socorro seguiu esse conselho à risca. Procurou ajuda e investiu em um diferencial: hoje, sua confecção é destinada a mulheres que vestem os tamanhos 52, 54 ou extra grande. ;Não existe loja em Brasília que faça biquínis bonitos para esse público. São sempre aqueles enormes, sem forma. Investi na beleza para essas mulheres;, conta, orgulhosa.

Dicas preciosas

; O que é preciso analisar na hora de escolher a nova ocupação na melhor idade

; Pensar o que traz satisfação, felicidade. Algo que a pessoa realmente goste, mas que não teve a oportunidade de fazer antes da aposentadoria

; Analisar se essa vontade pode ser aplicada em um negócio rentável, algo que dê retorno financeiro

; Ter disposição para correr atrás de cursos, aperfeiçoamento e informações gerais sobre a nova área

; Procurar empresas que possam ajudar na atualização dentro do novo ramo de experiência e que ofereçam certificados

; Sempre procurar ajuda. Não tentar fazer as escolhas sozinho. Buscar referências de consultorias no mercado para não ser enganado

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