Economia

Mesmo com os alimentos em alta, juros básicos continam em 10,75% ao ano

postado em 21/10/2010 08:00

; Gabriel Capiroli
; Vânia Cristino
; Victor Martins

A escalada da inflação é um fato inegável. Ontem, indicador prévio do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) confirmou que a carestia voltou de vez à economia brasileira. Os principais vilões continuam sendo os itens alimentícios, especialmente as carnes, o feijão e o trigo. Mas os analistas avisam: não é só na hora de preparar o prato do dia que o consumidor perceberá os preços mais altos. O índice quinzenal (IPCA-15) registrou avanço de 0,62%, o dobro de setembro (0,31%). A aceleração fez o índice acumulado nos últimos 12 meses saltar para 5,03% e complicou um pouco mais a atuação do Banco Central, que poderá ser obrigado a antecipar o ciclo do arrocho monetário.

A carne bovina subiu 4,93% nos primeiros 15 dias de outubro e obrigou a consumidora Ângela Tabosa a alterar a receita do escondidinho: A expectativa é de que o os preços continuem a subir e o BC tenha que voltar a dar uma paulada nos juros já na primeira reunião do Conselho Nacional de Política Monetária (Copom) de 2011, em 19 de janeiro. Na reunião encerrada ontem, a sétima de 2010, não houve surpresas. A taxa de juros básica da economia (Selic) foi mantida em 10,75% ao ano, em decisão unânime e sem indicação de alta para o próximo encontro, marcado para dezembro. De fato, praticamente nenhum economista esperava mesmo outra coisa. Aumento de juros, segundo o mercado, só ocorrerá no ano que vem e vai depender ainda da postura do próximo governo em relação à política de crédito e ao setor fiscal.

O cenário mais provável, na visão de economistas, é que a inflação encerre o ano acima do centro da meta de 4,5%, o que estimulará um salto nas previsões para 2011 e 2012. ;O BC vai manter a postura de cautela. É natural. Mas se entrarmos o próximo ano com inflação acima do centro da meta e expectativas explodindo, ele vai ter que agir já na primeira reunião;, considerou a economista Tatiana Pinheiro, do Banco Santander. Para ela, a única forma de o IPCA fechar o período em torno de 4,5% é manter uma média mensal de 0,30%, hipótese pouco provável para os últimos três meses do ano.

Novos hábitos
Na prévia de outubro, o feijão foi o produto que mais contribuiu com o avanço de 1,7% no grupo alimentação e bebidas, ao disparar 24,56%. Também pressionaram a inflação a carne bovina (4,93% de alta), o frango (5,69%), o macarrão (2,68%) e o pão francês (2,53%). Com a escalada dos preços, os hábitos dos brasileiros à mesa sofrem alterações imediatas. Angela Tabosa, 26 anos e sua mãe, Clebes Tabosa, 59, tiveram que alterar o sabor do escondidinho porque a carne vendida nos supermercados encareceu. ;Tivemos que abrir mão do coxão mole por uma carne de segunda. A gente inventa para compensar;, destacou. Aparecida Pires, 46, também substituiu o macarrão que costuma comprar, porque está muito caro. ;Apesar de trocar a marca, o que faz diferença no sabor é o molho, que também subiu;, comentou.

A economista Laura Haralyi, do Banco Itaú, no entanto, destaca que esses produtos não são os únicos focos de preocupação. ;A inflação definitivamente não é só de alimentos. Se fosse, os cálculos que excluem esses itens (núcleos) estariam em queda e não estão;, observou. Mesmo que a oferta de produtos alimentícios se normalize, nos próximos três meses os preços deverão sofrer uma pressão generalizada de custos, provenientes das festas de fim de ano e dos reajustes de tarifas de energia elétrica e telefonia.

O economista-chefe do Banco Fator, José Gonçalves, questiona a manutenção da política monetária e aponta a demanda dos consumidores em 2011, com seu impacto sobre o custo de vida, como um problema a mais a ser avaliado pelo BC. ;Já está na hora de se pensar na inflação do ano que vem. Dessa forma, o próximo governante vai ter que começar apertando os juros;, afirmou.

Especuladores
Com o cenário internacional conturbado e o Brasil sendo inundado por dólares de especuladores em busca do elevado retorno com juros altos, uma ala de economistas argumenta que a manutenção da taxa já era esperada. Agora, a aposta é que o aperto virá noutra ponta. ;Todos estão revendo suas expectativas para o ano e é preciso um aperto monetário, o que poderia ocorrer por meio dos compulsórios;, avaliou Felipe Tâmega, economista-chefe
da Modal Asset.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação