Economia

Tentativas de conter entrada do dólar não altera interesse no Brasil

Medidas do governo para conter a enxurrada de dólares não alteraram o interesse dos estrangeiros. País é o 3º mais rentável

postado em 22/10/2010 08:00
A participação dos estrangeiros entre os credores da dívida brasileira bateu um novo recorde em setembro, chegando a 10,23%, com a soma de R$ 154,1 bilhões. A aposta do Tesouro Nacional é de que as últimas medidas anunciadas pelo governo, prevendo uma tributação mais pesada, não afetarão a procura por títulos públicos. ;A introdução do IOF de 6% (sobre o ingresso de capital externo) tende a influenciar os investidores de longo prazo de maneira bem menos significativa. Esperamos continuidade do aumento gradual na participação dos não residentes;, destacou o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Fernando Garrido.

Na avaliação do Tesouro Nacional, o comportamento do mercado mostra que os apertos tributários feitos desde o início do mês não afetaram a demanda dos aplicadores estrangeiros pelos papéis da dívida. As taxas de juros acertadas nos leilões de títulos ; parâmetro influenciado por diversos fatores econômicos, entre eles a participação dos não residentes ; mantiveram, em outubro, comportamento considerado típico, apesar do pouco tempo (menos de 15 dias) para avaliar os efeitos globais da taxação do IOF em 6%.

;É difícil avaliar a variação das taxas em um período tão curto, porque há outros fatores que pesam, mas o que vimos foi uma movimentação normal de mercado;, considerou Garrido. Para efeitos comparativos, no leilão das Letras do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em 2013, realizado em 30 de setembro (antes do Imposto sobre Operações Financeiras [IOF] subir de 2% para 4%) a taxa dos papéis foi de 11,98% ao ano. Ontem, a mesma negociação resultou em juros de 11,88%. Nas mesmas transações, com Notas do Tesouro Nacional-série F (NTN-F) 2017 (prazo mais longo), as porcentagens foram de 11,83% ao ano no final de setembro e de 11,88% ao ano, ontem.

Retorno certo
O que deve manter o apetite dos investidores são as lucrativas taxas de juros oferecidas no país. De acordo com documento divulgado ontem pelo Ministério da Fazenda, o Brasil só perde na remuneração líquida aos investidores (ganho após o abatimento do custo das moedas estrangeiras) para a Austrália e para a África do Sul. Aqui, o retorno médio nos últimos 12 meses foi de 14,5%, enquanto nos outros dois chegou a 15,8% e 18,2%, respectivamente. ;O investidor interessado no Brasil continua com muitos atrativos. Se ele comprar um título mais longo, ainda vale. Em um ano e meio ou dois, ele sai com lucro e quase não sente a tributação;, avaliou o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.

Para ele, a elevação do IOF, agora complementado pelas medidas anunciadas na quarta-feira pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), deve tirar de circulação o que os economistas chamam de ;smart money; (capital especulativo). A pressão do governo para barrar a valorização do real foi parcialmente responsável pela alta de 1,25% da divisa americana, maior desde 6 de maio. Ontem, o dólar encerrou o pregão cotado R$ 1,696 para venda, repercutindo também o cenário externo de pessimismo com a queda do preço das commodities.

O presidente da B, Edemir Pinto, concorda que as decisões adicionais anunciadas pelo CMN para fechar as brechas no mercado de câmbio futuro, onde se negocia apostando na variação de moedas estrangeiras, aumentam a eficácia do arrocho tributário no IOF. Ele, entretanto, admitiu que as medidas devem dificultar a vida dos estrangeiros, mesmo para aqueles que pretendem fazer aplicações de longo prazo. ;Vai ficar um pouco mais caro, mas depende do tipo de investimento. Fica mais difícil, mas não deve inviabilizar;, constatou. (colaborou Vera Batista)

Emissões
O endividamento do país aumentou 0,50% em setembro e chegou a R$ 1,626 trilhão. O avanço foi resultado de emissões de títulos públicos no mercado de mais de R$ 35,06 bilhões. Os lançamentos realizados em favor da capitalização da Petrobras totalizaram mais de R$ 67 bilhões, incluindo os recursos diretos do Tesouro e via BNDES. O mesmo volume de papéis, no entanto, voltou aos cofres do governo, como forma de pagamento (pela Petrobras) da cessão de barris envolvida na transação.

MANTEGA PEDE REFORÇO
; O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que pediu o reforço do secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, para debater a guerra cambial na reunião do G20 que ocorre na Coreia do Sul, e sugerir uma ação coordenada para que a supervalorização de várias moedas seja combatida. ;Nós vamos fazer força, nós dois, para colocar a questão no âmbito do G20, de modo que as soluções para a questão do câmbio sejam negociadas, e não individuais, para cada país", afirmou. O contato, segundo a assessoria do ministro, foi realizado por telefone, por iniciativa de Geithner, no fim da tarde de quarta-feira. O ministro Mantega não participará da reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais mas pediu ao norte-americano para que levante a questão. ;Pedi para ele (Geithner) falar em meu nome, que eu quero uma solução multilateral para a questão do câmbio.;

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