postado em 26/10/2010 08:25
A febre das viagens internacionais tomou conta do Brasil. Com o país caminhando para o pleno emprego e a renda em expansão, os brasileiros estão esbanjando no exterior. Entre janeiro e setembro deste ano, os gastos dos turistas somaram US$ 11,4 bilhões ; o equivalente a um desembolso de US$ 42,4 milhões por dia, quantia 53,6% superior à registrada em igual período de 2009, quando o desembolso diário somou US$ 27,6 milhões. O avanço das despesas segue em um ritmo tão acelerado que, no mês passado, a despeito de ser baixa temporada nos principais destinos turísticos, os brasileiros deixaram lá fora um volume recorde: US$ 1,5 bilhão, o maior já registrado em um único mês desde 1947.[SAIBAMAIS]Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a tendência é de que a gastança perdure em função do bom momento econômico vivido pelo Brasil. A mesma avaliação é feita pela economista-chefe da Link Investimentos, Mariana Costa. ;Quando o brasileiro melhora de vida, busca coisas às quais não tinha acesso, como as viagens internacionais, facilitadas pelo real valorizado;, disse. O professor da Trevisan Escola de Negócios foi além: ;O Brasil sempre foi um país fechado. Mas como nos últimos anos tornou-se mais fácil e barato ir para fora, o interesse dos consumidores por esses destinos cresceu;.
Os brasileiros também estão sendo favorecidos pelo fraco desempenho de várias economias, nas quais a fragilidade do consumo doméstico está levando a uma brusca queda dos preços, ou seja, à deflação. Com isso, os viajantes ganham de duas formas: primeiro, ao disporem de uma moeda mais forte ante o dólar; segundo, com mercadorias mais baratas nos países visitados. Esse quadro é explícito, sobretudo, na Europa e nos Estados Unidos, destinos preferidos dos brasileiros, que estão comprando sem parar e abarrotando as bagagens.
Diante dessa realidade, as agências de viagens estão fazendo a festa e faturando alto. Que o diga a agente Fabíola Campos Braga, 27 anos. Ela contou que 50% dos pacotes vendidos na operadora em que trabalha são para o exterior. Ainda segundo ela, apesar de os preços sofrerem variações em períodos de baixa e alta temporada, ir para o exterior, em alguns casos, fica mais barato do que viajar para o Nordeste, por exemplo. Uma semana na Argentina pode custar menos do que um passeio em Porto Seguro. ;Os destinos mais procurados são Caribe, Argentina, Chile e Estados Unidos. Percebemos que existe um grande interesse de se viajar para lugares onde não é preciso visto;, afirmou.
O meio de pagamento preferido dos brasileiros tem sido o cartão de crédito. Apenas em setembro, as despesas nessa modalidade foram de US$ 965,2 milhões ; o maior valor já registrado pelo BC desde 1992, quando foi iniciado o levantamento com cartões.
Paraíso das multinacionais
Com a crise instalada nas principais economias do mundo, o Brasil se tornou uma espécie de bote salva-vidas para as matrizes de grandes multinacionais. A despeito de investirem pesado no país, estão tirando o que podem daqui por meio de lucros e dividendos. Somente nos primeiros nove meses do ano, as filiais brasileiras remeteram US$ 20,9 bilhões às suas matrizes. A estimativa é de que as retiradas totalizem US$ 130 bilhões no período que vai de 2008, quando estourou a bolha imobiliária dos Estados Unidos, a 2011. Se forem incluídos os ganhos no mercado financeiro (títulos públicos e ações), as transferências aumentam quase 50%.
Para cada dólar ingressado no Brasil seja por meio de investimento estrangeiro direto (IED, voltado para a produção), seja no mercado financeiro, a retirada é de US$ 1,11. Essa relação mostra, na opinião do economia da Trevisan Escola de Negócios Alcides Leite que o país é muito rentável frente economias fragilizadas. ;Com o derretimento do dólar, criou-se uma vantagem cambial, ao se converter o real para a moeda norte-americana;, avaliou.