Economia

Despesas lá fora e remessas de lucro deixam país refém dos especuladores

postado em 26/10/2010 08:29
A soma de gastos com viagens, importações, remessas de lucros para o exterior e despesas com transportes e aluguel de equipamentos fez o Brasil registrar, entre janeiro e setembro, o maior rombo de sua história nas contas externas: US$ 35 bilhões. Na comparação com o ano passado, quando o buraco foi bem menor no mesmo período, de US$ 12 bilhões, o salto foi de 191%. Com a transferência de rendimentos para o exterior anulando o investimento no setor produtivo ; para US$ 1 aplicado no território nacional, US$ 1,11 é remetido para fora ;, o país está cada vez mais dependente do capital especulativo.[SAIBAMAIS]

No ano, o dinheiro de estrangeiros na bolsa e na renda fixa soma US$ 31,1 bilhões, volume 37,6% superior ao acumulado pelos investimentos estrangeiros diretos (US$ 22,6 bilhões) na produção. Entre janeiro e setembro, o ritmo de crescimento dos recursos de curto prazo também superou largamente a evolução das aplicações duradouras: 31,7% contra 27,8%, respectivamente. ;O Brasil está dependente do capital especulativo;, criticou Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios. ;Precisamos, em um primeiro momento, valorizar o real. Depois, baixar os juros. Enquanto não diminuir a diferença entre as taxas internacionais e as nossas, teremos dificuldade em atrair mais IED (investimento estrangeiro direto) frente às aplicações de curto prazo;, avaliou.

Pressões
A despeito dos números mostrarem precariedade nas contas externas, o Banco Central resiste em admitir o risco de se manter dependente do capital de especuladores, que é volúvel e pode deixar o país a qualquer sinal de perigo. ;Pelo segundo mês consecutivo, teremos IED suficiente para financiar o deficit;, afirmou Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC. Ainda segundo ele, o país está cada vez mais atraente para as multinacionais, o que deve garantir a continuidade de aplicações estrangeiras no setor produtivo. ;A economia mundial não vai bem e o Brasil transformou-se em um ponto de investimento importante;, sustentou.

As pressões que têm elevado o rombo nas contas externas vêm de vários lados. A precariedade dos portos brasileiros, por exemplo, com pouco espaço para navios e frota reduzida, tem obrigado o país a pagar ; para que o setor produtivo possa continuar a exportar e importar ; à transportadoras internacionais. De janeiro a setembro, os gastos com transportes deixaram ao país um saldo negativo de US$ 4,8 bilhões. O valor é 70% maior que o registrado em igual período do ano passado.

A construção civil em plena expansão também deixa uma fatura. Parte dos US$ 9,8 bilhões gastos com aluguel de equipamentos no exterior é oriunda da demanda do setor e da dificuldade do Brasil em fabricar guindastes. Na avaliação de Mariana Costa, economista-chefe da Link Investimentos, o país está pagando o preço por querer crescer sem eliminar as amarras do setor produtivo. ;São muitos equipamentos alugados lá fora. A construção civil, aquecida, está impactando nas contas externas;, explica.

Com o dólar fraco, o deficit nas contas externas complica-se ainda mais. As importações estão invadindo o Brasil e tomando espaço dos produtos nacionais. Para o comércio, esse será o Natal dos importados. No acumulado do ano até setembro, a chegada de produtos vindos de outras nações somou US$ 132,1 bilhões ; volume 45,8% maior que o de igual período de 2009.

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