Economia

Diante do sobe e desce do mercado, presidente do BC pede calma

Meirelles ameniza as ameaças de Mantega de recorrer a armamento pesado para conter o fluxo de dólares à economia brasileira

postado em 27/10/2010 08:00
Ao contrário do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que ameaça a todo momento usar armas de maior calibre para conter a enxurrada de dólares no país, o Banco Central acredita que não é hora de usar armamento pesado para resolver o problema. Diante do sobe e desce do mercado, o presidente da autoridade monetária, Henrique Meirelles, avalia que o momento é de aguardar os efeitos das ações já tomadas. ;O mercado está volátil, exatamente por causa dessas medidas. Está reagindo muito a notícias de fontes anônimas. Então, temos que esperar um pouco para esperar o mercado se estabilizar;, disse ontem, durante viagem a Nova York.

Meirelles afirmou ainda que o Brasil está tomando todas as ações necessárias para evitar uma bolha por conta do fluxo de capital para o país. Aos jornalistas, esclareceu que o Brasil vem adotando medidas para abrandar a valorização do real, com taxação sobre aplicações de estrangeiros. ;A parte mais perigosa da equação é quando você tem uma bolha que é basicamente gerada por expansão do crédito;, disse. A seu ver, a questão é não permitir o excesso de liquidez, que cria tipos de desequilíbrios negativos e geram perdas para muitos países.

Sem amarras
Depois que o governo elevou o imposto incidente sobre investimentos estrangeiros em renda fixa e aumentou a taxação sobre as margens de garantia depositadas por não residentes na bolsa, a caminhada do Brasil rumo a uma moeda totalmente conversível pode ter se alongado nas últimas semanas, avaliam analistas e profissionais de mercado. O objetivo é estancar a entrada de dólares de curto prazo e, com isso, amenizar a valorização do real ; que
chegou neste mês ao maior nível em mais de dois anos. Mas isso pode adiar o desejo de propiciar um mercado de câmbio livre de amarras.

;Seria mais fácil operar no mercado se ele fosse totalmente conversível. Isso reduziria o custo de transação;, afirmou Alberto Ramos, economista do banco Goldman Sachs. Moedas conversíveis como euro, iene e dólar australiano são negociadas em todo o mundo, com liquidez abundante. Já o real só pode ser comercializado no Brasil, por um número restrito de agentes sob supervisão do Banco Central e dentro de um determinado horário. Em setembro, Meirelles declarou em Londres que o Brasil caminha para a conversibilidade da moeda dentro de um processo gradual.

Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio-diretor da Tendências Consultoria, pondera que as recentes medidas têm caráter de curto prazo e a conversibilidade é algo a ser almejado a longo prazo. Mas se a intervenção do governo no câmbio ;for feita de uma maneira turbulenta, de uma maneira que leve os investidores a achar que o risco daquela moeda aumentou por força de interferências do governo, eu acho que sim, pode afetar;.

O afastamento dos investidores estrangeiros é o risco apontado por Tony Volpon, chefe de pesquisa para mercados emergentes nas Américas da Nomura Securities. ;Sem a poupança externa, a economia brasileira crescerá menos, com juros e inflação maiores;, avaliou. ;O governo não pode ;perder a guerra; do crescimento para ;ganhar a batalha; do câmbio.;

Ligeira retomada
Vera Batista

O mercado de câmbio viveu um dia de muitas oscilações, mas acabou acompanhando as tendências externas, de recuperação diante das moedas internacionais. Com isso, depois de bater a mínima de R$ 1,695, o dólar comercial encerrou a sessão em alta de 0,29%, cotado a R$ 1,706. Mas o clima de cautela continua, com um pitada de ansiedade.

Os analistas aguardam os resultados da reunião do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) sobre o tamanho do plano de estímulo ao crescimento dos Estados Unidos, que deve despejar uma quantidade expressiva de dinheiro no mercado a fim de incentivar o consumo.

Animada pela bom desempenho da Petrobras, o Ibovespa, índice mais negociado na Bolsa de Valores de São Paulo (BM), registrou ganhos de 1,67%, atingindo 70.740 pontos. As ações ordinárias da estatal (com direito a voto) subiram 4,56%, e as preferenciais (com prioridade no recebimento de dividendos) avançaram 5,21%. O movimento foi considerado ;normal; pelos analistas e já era esperado, depois das seguidas quedas durante o processo de capitalização da companhia.

O Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, manteve-se praticamente estável, com leve alta de 0,05%. No mercado interno, após a surpresa do recente aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas aplicações de renda fixa, causaram boa impressão as promessas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de não impor a cobrança de Imposto de Renda aos estrangeiros que investem em títulos públicos.

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