Economia

Alimentos estão mais caros na China

Estratégia de venda de estoques para baixar preço não foi bem-sucedida. Gigante asiático será agora obrigado a ir às compras

postado em 28/10/2010 08:54
País mais populoso do mundo tenta aliviar a pressão da demandaSurpreendida pelo rali nos mercados de milho, algodão e açúcar, a China poderá ser forçada a recompor as reservas estratégicas que foram reduzidas durante a tentativa frustrada de Pequim de esfriar os preços locais com vendas dos estoques. As compras pelo maior consumidor global de algodão e o segundo maior de milho e açúcar poderão resultar em novo movimento de alta dos preços, que já estão próximos de valores recordes em vários anos.

Analistas preveem que a China, que compra cerca de 60% da soja negociada em todo o mundo, poderá entrar no mercado para comprar mais de 5 milhões de toneladas de milho em 2011, quase quatro vezes mais que o previsto para este ano e tornando-se, potencialmente, o quinto maior importador global. O país já é o maior importador mundial de algodão.

;Os preços futuros da China estão subindo, os números mostram importações maiores e há estoques do governo sendo liberados no mercado ; todos esses fatores sinalizam para um nível de abastecimento menor que o esperado;, disse Sudakshina Unnikrishnan, analista do Barclays Capital, em Londres.

Analistas e traders dizem que os estoques de milho da China podem ter caído abaixo de 10 milhões de toneladas, menos que o abastecimento de um mês, após a liberação de cerca de 45 milhões de toneladas para o mercado local desde o início de 2009. Da mesma forma, as reservas de algodão, cujo preço saltou para nova máxima esta semana, tanto em Nova York como em Zhengzhou, podem estar abaixo de 300 mil toneladas, menos de 5% da produção anual, e as de açúcar em 200 mil toneladas, suficientes para cerca de 2 semanas de abastecimento. O país vendeu 1,7 milhão de toneladas de açúcar no ano fiscal encerrado em setembro de 2010 e 2,1 milhões de toneladas de algodão desde setembro do ano passado.

Repercussão mundial
O passo da China de buscar volumes adicionais para melhorar os estoques poderá resultar em novo ajuste da oferta global, que já contabiliza os efeitos da produtividade menor para o milho nos Estados Unidos; da chuva que afeta o algodão no Texas (região responsável pela metade da produção norte-americana); e perspectivas de queda na cana no Brasil.

Os rumores sobre as compras chinesas de milho na semana passada puxaram os preços nos EUA para os maiores níveis em 2 anos na bolsa de Chicago, embora essas operações não tenham sido confirmadas. A China, cuja produção de milho tem ficado estável entre 155 e 165 milhões de toneladas nos últimos anos, está tentando atender a crescente demanda global que avança em um ritmo de 10% a 15% ao ano.

A China poderá enfrentar um deficit de mais de sete milhões de toneladas de milho neste ano, de acordo com a consultoria Shanghai JC Intelligence. As compras chinesas neste ano devem ficar em 1,3 milhão de toneladas, o maior volume em 15 anos, e são vistas como o principal fator a direcionar os preços do produto nos mercados futuros nos EUA e na China.

Máximas
No caso do algodão, os preços futuros atingiram novas máximas esta semana, sustentados pelas chuvas que afetam as lavouras do Texas. A China adquiriu grandes quantidades do produto no mercado internacional nos últimos meses, com as importações em setembro tendo sido quase duas vezes maiores que o normal, chegando a 201 mil toneladas.

;Diferente do trigo e do arroz, a China depende fortemente das importações de algodão e o mercado vem questionando quando o governo vai recompor suas reservas depois de ter vendido a maior parte de seus estoques;, disse Zhang Ruming, analista da Dalian Liangyun Futures.

O país mais populoso do mundo também está tentando limitar o avanço dos preços domésticos de açúcar até o período de colheita e deve liberar mais estoques de suas reservas estatais, o que pode puxar as importações neste ano, segundo analistas. A demanda chinesa pelo produto cresce a uma taxa média de 6% ao ano, o que significa que deve haver uma necessidade adicional de 800 mil toneladas em 2010/2011, com base na estimativa de consumo de 14 milhões de toneladas em 2009/2010. A China importou 1,365 milhão de toneladas de açúcar entre janeiro e setembro de 2010, aumento de 43,33% sobre o mesmo período do ano passado. O principal fornecedor de açúcar para a China é o Brasil. O país compra milho dos Estados Unidos e algodão da Índia e também dos Estados Unidos.

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