Economia

BC culpa governo por inflação maior

postado em 29/10/2010 08:17
O Banco Central revisou para cima as projeções de inflação para 2010 e 2011 e, sem hesitar, jogou a culpa nas despesas exageradas do governo e na política de crédito dos bancos públicos. Especialistas ouvidos pelo Correio são unânimes: o teor da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, deixa um recado para o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Se ele não botar um freio na gastança, haverá um novo aperto monetário. O prazo para o ajuste, alertam, vai depender da atitude fiscal do próximo presidente da República, que precisará aliviar o Orçamento e fazer um superavit primário (economia para pagar os juros da dívida pública) sem maquiagens.O Copom, comandado por Henrique Meirelles, apela em nome do equilíbrio no Orçamento, objetivo esquecido pelo ministro Guido Mantega

Em um cenário de guerra cambial, com o real valorizando-se em relação ao dólar e tirando competitividade da indústria nacional, elevar os juros básicos da economia liquidaria com os esforços do governo para conter a entrada da divisa americana no país nos últimos meses. Se um novo aperto monetário ocorrer, uma enxurrada de capital estrangeiro se voltará para o Brasil em busca dos títulos de renda fixa atrelados à taxa básica de juros (Selic). Nesse cenário, o real ficará ainda mais forte, os importados tomarão conta do comércio e as fábricas perderão espaço para as concorrentes chinesas.

Desconforto
Na ata da última reunião do Copom, comandada por seu presidente Henrique Meirelles, o BC apela para mudanças na política fiscal a fim de conter as pressões inflacionárias e para, enfim, ter espaço para baixar juros, sustentam os analistas. ;Isso não é de hoje. O Mantega comentou que essas despesas exageradas não são inflacionárias. Não é possível que ele ache que não. É óbvio que isso causa um desconforto;, afirma Eduardo Otero, economista-chefe da corretora Um Investimento. ;Ele (ministro) gasta de um lado e o BC fica do outro tentando compensar;, critica.

No parágrafo 29 do documento divulgado pelo Banco Central, a instituição destaca que revisou as projeções de inflação para cima, porque a demanda doméstica está robusta em função do crescimento da renda e da expansão do crédito. Aponta ainda o dedo para as despesas públicas exageradas. ;Impulsos fiscais e creditícios foram aplicados na economia nos últimos trimestres e ainda deverão contribuir para a consolidação da expansão da atividade;, diz um trecho. Tradução: a expansão do crédito e dos gastos públicos está impulsionando a demanda e tornando o custo de vida mais pesado.

Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, avalia que, apesar de todo o cenário de riscos, a autoridade monetária afirma que terá êxito em levar a inflação para a meta de 4,5% ao ano ; com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Mas, em diversos trechos da ata, demonstra insegurança. ;O BC espera que se pratique uma contenção nos gastos públicos e na expansão do crédito. Ele também acredita que os efeitos do último aperto monetário ainda não se materializaram, porém, não está seguro quanto à convergência da inflação para a meta;, diz.

Alimentos
Além da gastança de dinheiro público e do crédito farto, a autoridade monetária destacou na ata outros fatores que preocupam e estão impactando as projeções de inflação para este e para o próximo ano. O choque de oferta de alimentos é um dos pontos mais destacados no documento. Segundo o BC, já era algo previsto em função da quebra de safras no Brasil e no exterior. A expectativa é que no último quadrimestre do ano os preços de itens alimentícios continuem a pesar na inflação.

A elevação dos preços das commodities também é apontada como fator de risco pela instituição, mas em ouro trecho da ata a preocupação é amenizada em razão de ;influências desinflacionárias sobre a inflação interna;. Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora discorda. ;Avaliamos que a persistência da fraqueza do dólar no curto prazo, mesmo com toda volatilidade, deverá manter preços médios elevados nos próximos meses, e portanto, um viés menos deflacionista do que o esperado.;

Outro fator de pressão recai no mercado de trabalho, que caminha para o pleno emprego (taxas de desocupação abaixo de 6%). Com pouca mão de obra qualificada disponível, os salários tendem a subir e deixar o custo do setor produtivo mais elevado. A capacidade da indústria também acendeu o sinal amarelo para os técnicos do BC. Registrou duas quedas seguidas e está com uma baixa margem para expansão, o que pode comprometer a oferta de produtos caso a demanda se mantenha aquecida.

Desaceleração

A redução da alta dos preços no atacado e na contração levaram a uma desaceleração na inflação medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). O indicador subiu 1,01% em outubro, após elevação de 1,15% em setembro, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). Mas os custos do grupo alimentação tiveram elevação de 1,23%, ante 0,56% na apuração anterior. No ano, o indicador já subiu 8,98%.

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