postado em 30/10/2010 08:35
Eis alguns conselhos para quem se encontra com Dilma Rousseff, também conhecida como Stella nos tempos em que pegou em armas para derrubar a ditadura militar. Primeiro, fale rápido. Segundo, se você quer agradar, provavelmente não é uma boa ideia sugerir que o Brasil precisa de grandes reformas para continuar sendo uma das economias emergentes que mais crescem no mundo. Ela rejeita categoricamente a necessidade de cortes orçamentários radicais ou de mudanças nas leis trabalhistas.Dilma costuma interromper quem lhe pergunta sobre a possibilidade de a economia continuar crescendo a uma taxa de 7% ao ano sem reformas estruturais. Num meneio de cabeça, ela sorri com o canto da boca e contra-ataca: ;O Brasil não está crescendo nesse ritmo agora? Bem, então é possível.; A ungida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva crê que será capaz de criar milhões de empregos, melhorar a infraestrutura e aproveitar a recém-descoberta riqueza do pré-sal sem abandonar a combinação de programas sociais e políticas ortodoxas que tornaram seu ex-chefe popular internamente e em Wall Street.
Se for escolhida pelos eleitores brasileiros amanhã, Dilma deve comandar uma expansão ainda maior da presença estatal no estratégico setor do petróleo. Bancos estatais vão continuar tendo uma participação importante na economia, mas os temores de que ela governe à esquerda de Lula, manifestados por alguns, parecem exagerados. Um exame do período em que ela foi ministra de Minas e Energia e ministra-chefe da Casa Civil mostra uma tecnocrata exigente, que desdenha abertamente da ineficiência vista com frequência no setor público. E que se cerca repetidamente dos nomes mais pró-mercado dentro do PT.
Dilma minimiza a importância da sua juventude como militante, que a levou a passar quase três anos presa e a ser torturada nos porões do regime militar. Mas a verdade é que aquela época foi crucial para entender sua ascensão na política brasileira. Filha de um próspero imigrante búlgaro que fugira da opressão política no seu país, Dilma entrou para o grupo de esquerda Colina logo depois de passar no vestibular do curso de economia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Mesmo antes da prisão, Dilma já havia começado a demonstrar a veia pragmática que viria a definir sua carreira. Nome considerado certo na equipe de uma eventual presidente Dilma, Fernando Pimentel, candidato derrotado ao Senado e um dos coordenadores da campanha presidencial, assegura que ela foi uma das primeiras do grupo a perceber que a guerrilha não conseguiria derrubar a ditadura. Como secretária de Energia no Rio Grande do Sul, acabou sendo reconhecida como uma administradora eficaz, ainda que não espetacular. Mas nada indicava que chegaria a ser algo mais do que uma funcionária de médio escalão, segundo o petista Olívio Dutra, ex-governador gaúcho.
Adversários de Dilma costumam citar a ação da Petrobras e a enorme ampliação dos financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos últimos anos como prova de que ela levará o país para a esquerda. Dilma ;vai tentar centralizar a economia o máximo que puder, dando poder a grupos corporativistas e a sindicatos, acima de tudo;, acusa o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), do PSDB.
Forte candidato a assumir o Ministério da Fazenda ou o Banco Central (BC) numa administração da petista, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, diz não acreditar que as empresas estatais vão ;crescer enormemente; num governo Dilma. ;Ela não tem uma tendência ideológica a favorecer o setor público ou a discriminar o setor privado. Ela é pragmática e olha primeiramente os resultados;, afirma.
Desde o primeiro dia, Dilma jogou todas as fichas da sua candidatura numa mensagem de continuidade total da política econômica e social de Lula, aparecendo ao seu lado em comícios e na TV sempre que possível. O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, tem certeza de que a candidata saberá forjar uma identidade própria se for eleita. Outra previsão sua é de que ela cresceria rapidamente no papel de chefe de Estado como já fez em outros cargos.
O que eles pensam sobre os principais temas econômicos:
Câmbio
Dilma Rousseff descartou a definição de uma taxa de câmbio específica. José Serra tem dito que o real está supervalorizado e tem prejudicado os exportadores, mas descartou medidas abruptas ou uma intervenção direta nos mercados para regular o câmbio. Segundo ele, diminuir a valorização do real envolveria disciplina fiscal mais rigorosa e taxas de juros mais baixas.
Estabilidade
Assim como Dilma, Serra não romperia com a maioria das políticas pró-mercado que garantiram a estabilidade econômica na última década: o câmbio flutuante, o controle da inflação e a disciplina fiscal. Serra disse que fará algumas mudanças, mas não entrou em detalhes.
Disciplina fiscal
Serra é tido por alguns analistas como mais duro em relação à disciplina fiscal, embora não tenha anunciado metas detalhadas de orçamento. Ele se comprometeu a cortar a gordura do Estado para permitir mais investimentos públicos, mas também propôs medidas que pressionariam as contas públicas. Entre elas, estão o aumento do salário mínimo de R$ 510 para R$ 600, o reajuste das aposentadorias em 10% e a expansão do Bolsa Família. Juntas, as iniciativas poderiam custar ao governo 1% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com estimativas no mercado. O tucano afirma que o custo pode ser compensado com o aumento previsto de receitas e com o corte de gastos públicos.
Dilma propõe a manutenção da disciplina fiscal com ajustes graduais, mas descartou medidas drásticas, como as que foram tomadas no primeiro ano do governo Lula.
A candidata afirmou que o Brasil não precisa frear os gastos públicos para que a economia continue crescendo de forma robusta. A petista tem a intenção de manter a meta de superavit primário em 3,3% do PIB até que a dívida líquida do setor público caia dos atuais 41% do PIB para 30%, em 2014.
Juros
Dilma já havia dito que, até que os encargos da dívida caiam consideravelmente, o Banco Central terá que focar exclusivamente na inflação, em vez olhar a economia geral, como o mercado de trabalho. Ela também descartou a definição de uma meta específica para a taxa de câmbio. A ex-ministra da Casa Civil já afirmou que deseja trazer para baixo os juros, que estão entre os maiores do mundo. Mas os operadores de mercado esperam que ela aja de forma mais branda que Serra nesse ponto.
Serra tem sido mais crítico à política monetária. Para ele, as taxas de juros precisam cair. O tucano também já afirmou que o BC não é a Santa Sé. Ou seja, não está acima das críticas. Se for necessário corrigir os rumos dos juros, ele promete interferir na ação da autoridade monetária.
Autonomia do BC
Dilma afirmou que manterá a autonomia operacional do BC, assim como o status de ministro do presidente da instituição. Já Serra declarou que o órgão precisa estar alinhado com a política econômica do governo e quer um presidente do banco com pensamento afinado ao do ministro da Fazenda.