Economia

Perfil: Serra quer cortar gastos públicos, baixar juros e desvalorizar Real

postado em 30/10/2010 08:38
José Serra, candidato do PSDB à Presidência da República, é conhecido pela capacidade de gestão administrativa tanto quanto por sua maneira peculiar de atuação. A característica pessoal que mais salta aos olhos e que o torna um político de comportamento singular é a detida reflexão na hora de tomar decisões. Foi assim antes de anunciar as candidaturas majoritárias em que concorreu, a exemplo da eleição presidencial deste ano, quando demorou para colocar seu nome no jogo e optar por um vice.

Para muitos tucanos, trata-se de indecisão. Para outros, é reflexo da tendência de buscar sempre o domínio das situações e do seu racionalismo. Ele quer ter controle sobre todas as variáveis no processo de decisão. Analisa pesquisas, pesa o apoio político. ;Antes de decidir, ele ouve bastante gente;, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à Reuters. A derrota de 2002 para Luiz Inácio Lula da Silva só intensificou essa tendência. Amanhã, ele espera cair nas graças do eleitor e chegar ao Palácio do Planalto.

;Serra é uma liderança com visão tática. Não é impetuoso;, descreve o amigo de quase 50 anos, o ex-ministro da Justiça José Gregori, responsável pelas finanças da campanha. Além dos cargos eletivos, Serra foi ministro de Fernando Henrique, que governou de 1995 a 2002, à frente das pastas do Planejamento e da Saúde.

Foi na Saúde que obteve resultados que utiliza quase diariamente na campanha. Reduziu o preço dos medicamentos para o tratamento da Aids, o que lhe rendeu elogios internacionais, tirou do papel os genéricos e proibiu a propaganda de cigarro. O combate ao fumo seria complementado, já como governador, com a proibição em todos os locais fechados em São Paulo.

Aos 22 anos, partiu para um exílio de 14 anos, vivendo na Bolívia, no Chile e nos Estados Unidos. Como presidente da União Nacional dos Estudantes em 1963, se tornou ;persona non grata; no país após o golpe militar de 1964. Ele integrou a clandestina Ação Popular (AP).

Serra estudava engenharia na USP e, no exterior, especializou-se em economia na Universidade Cornell. De volta ao Brasil em 1978, foi professor da Unicamp. Foi no Chile e depois nos EUA que se aproximou de Fernando Henrique, inicialmente seu professor. Os dois, entre outros, formaram o núcleo do PSDB, criado em 1988, com o racha do PMDB. O candidato gosta de contar em público que optou pela economia para poder discutir o assunto com os especialistas.

Tem pelo menos três obsessões: cortar gastos públicos, reduzir a taxa de juros para estimular a economia e recolocar o real em um patamar que incentive as exportações. Também critica sistematicamente o nível de impostos. Essas ideias gerais, no entanto, não chegaram a ser detalhadas na atual campanha, gerando dúvidas entre os agentes econômicos sobre sua conduta na economia.

O tucano chegou a preocupar setores do mercado financeiro ao afirmar que o ;Banco Central não é a Santa Sé;, referindo-se à autonomia da instituição. A declaração reflete seu estilo franco aliado ao acentuado espírito crítico. Como conta Gregori, a certeza do que quer faz com que Serra deixe transparecer suas opiniões aos interlocutores, para o bem ou para o mal. ;É enganador aquele que nunca quer desagradar;, resume o ex-ministro.

Perfeita sintonia
Durante a campanha, Serra enfatizou que, uma vez eleito, teria um presidente de BC em perfeita sintonia com o ministro da Fazenda, diferentemente do que ocorreu no governo Lula. Quando comenta seu próprio temperamento, deixa à mostra a ironia. ;Se depois de 40 anos de vida pública, o único reparo a mim é que eu seria antipático, parece-me uma consagração, até porque eleição não é concurso de calouros;, contou Serra no livro-entrevista ;O Sonhador que faz; (2002).

No mesmo texto, confirma que gosta de resolver problemas à noite, quando lhe vêm as soluções. Serra nasceu em 19 de março de 1942, no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, filho único de Francesco Serra, imigrante italiano que tinha uma barraca de frutas no mercado municipal da Cantareira, e de Serafina Chirico. Ele fala com orgulho da família. No lançamento de sua candidatura, se emocionou ao dizer que o pai carregou caixas de frutas para que ele pudesse levar caixas de livros.

O QUE ELES PENSAM SOBRE OS PRINCIPAIS TEMAS ECONÔMICOS

Petróleo
Dilma Rousseff apoia a política do governo de aumentar o controle estatal sobre as novas reservas de petróleo. O projeto inclui a criação de uma nova estatal para administrar o pré-sal e a formação de um fundo com as receitas obtidas para o investimento em educação, saúde e desenvolvimento. Ela continuará a pressionar para que a Petrobras alinhe suas metas com os objetivos do governo, o que poderia resultar em uma participação mais limitada para as companhias estrangeiras no setor.

José Serra é crítico das reformas. Para ele, o atual modelo é adequado para desenvolver as novas reservas. Não haveria a necessidade de criar mais uma nova estatal. Além disso, o PSDB teme que a política de Lula afaste empresas privadas, reduzindo os investimentos, a competição e a eficiência. Reagindo à acusação de que iria privatizar a Petrobras e o pré-sal, o tucano garantiu que vai fortalecer a empresa.


Papel do Estado

Dilma é favorável a uma forte presença do Estado em áreas estratégicas, como bancos, petróleo e energia, mas insiste que empresas privadas nesses setores não seriam deixadas de fora. Ela também promete promover a eficiência e a promoção por mérito no governo. A candidata pode aumentar a intervenção no setor de
minério ; o governo Lula pressionou a Vale a investir em siderurgia. Dilma manterá os esforços para ampliar o acesso à banda larga por meio da estatal Telebras, que foi ressuscitada pelo atual governo.

Serra defende um governo forte e ativo e aplaudiu as medidas de estímulo fiscal de Lula durante a crise global de 2008/2009. É visto como mais aberto a privatizações seletivas. Sob o modelo tucano, aeroportos, estradas e ferrovias seriam oferecidos a empresas privadas por meio de concessões. Ele fortaleceria o papel de agências reguladoras e a capacidade do Estado para policiar e controlar a atividade econômica, dando mais ênfase ao mérito nas nomeações.

Reformas
Ambos concordam que há necessidade de rever o complicado sistema de recolhimento de impostos no Brasil para atrair investimentos, embora esforços anteriores do presidente Lula não tenham surtido muito efeito. Dilma faz da reforma tributária uma prioridade.

As propostas da ex-ministra incluem desonerar os investimentos, reduzir a carga sobre a folha de pagamentos das empresas e simplificar o sistema tributário nacional. Para isso, seria criado um fundo de compensação a estados e municípios.

Serra pretende implementar isenções fiscais para transportes, remédios, alimentos básicos e em infraestrutura de saneamento, como estações de tratamento de água. O ex-governador pretende reformar o sistema previdenciário cortando benefícios de alguns servidores públicos, enquanto Dilma defende mudanças pontuais que ajudariam a financiar o crescente deficit previdenciário. Ela também propõe alterações em algumas regras de aposentadoria, mas sem retirar direitos dos trabalhadores.


Relações internacionais
Serra tem criticado as relações de Lula com aliados da esquerda na América Latina e com o Irã. Ele também defendeu uma revisão do Mercosul e mais tratados bilaterais de livre comércio. O candidato poderia negociar acordos comerciais sem os parceiros do Mercosul.

Dilma é favorável à continuidade da política externa de Lula, incluindo a integração regional e a defesa de um maior peso para as nações emergentes em organismos internacionais.

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