postado em 31/10/2010 06:23
Assim como é consensual a avaliação de que a taxa de crescimento deste ano de 7,5% não se sustentará, também é tido como certo, pela maioria dos analistas, que a solução para suavizar os efeitos negativos do avanço do Produto Interno Bruto (PIB) e evitar um voo de galinha está na redução dos gastos públicos. A farra nos últimos dois anos foi tão grande que, nem mesmo com os sucessivos recordes na arrecadação de impostos e tributos federais, o governo tem conseguido fechar as contas. Para apresentar um resultado que convença minimamente a opinião pública, a saída encontrada tem sido maquiar a falta de austeridade fiscal, com o Tesouro Nacional transformando dívidas em receitas, como se viu no processo de capitalização da Petrobras.;O grande desafio para o próximo governante será reduzir as despesas. Só dessa forma o país criará um círculo virtuoso que começa com a queda dos juros;, afirma Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora. O aumento dos gastos foi intensificado após a crise financeira, sob a justificativa de que era necessário estimular a economia. Mas, na análise dos especialistas, o Tesouro Nacional passou dos limites ao injetar capital em bancos e empresas públicos emitindo títulos, débitos que não aparecem na dívida líquida, mas assustam aqueles que se dão ao trabalho de mapear o endividamento bruto do governo, que bateu em R$ 2,05 trilhões. Por isso, todos clamam pela volta da racionalidade no controle das despesas, virtude que tem faltado ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a seu subalterno, o secretário do Tesouro, Arno Augustin.
Como a gastança pública pressiona a demanda agregada e gera mais inflação, apesar de Mantega rebater esse preceito básico das escolas de economia, a reversão no ritmo de crescimento das despesas permitiria ao Banco Central reduzir a taxa básica de juros (Selic), de 10,75% ao ano. Com uma Selic mais baixa, o investimento privado seria estimulado, a atratividade ao capital estrangeiro diminuiria e o valor do real em relação ao dólar cairia. ;Não vejo qualquer chance de sucesso na questão econômica, se o próximo presidente não fizer um corajoso ajuste fiscal;, diz Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da Consultoria Tendências. ;Só assim o Brasil realmente dará certo.; (GC)
AS MAZELAS
Veja os problemas que cairão no colo do próximo presidente
Dívida pública bruta (*)
R$ 2,057 trilhões
Gastos com juros da dívida pública (**)
R$ 183,9 bilhões
Endividamento das famílias
R$ 727,9 bilhões
Rombo projetado para as contas externas em 2011
US$ 100 bilhões
(*) Em setembro de 2010
(**) Nos 12 meses em setembro