postado em 13/11/2010 07:32
A o não condenar enfaticamente os movimentos artificiais de moedas e nem adotar um movimento coordenado para as medidas em reação à intensa desvalorização do dólar, a Cúpula do G-20 ; grupo que reúne as 19 maiores economias do planeta além da União Europeia ; manteve abertas as portas para a guerra cambial que atormenta o mundo.Também sentenciou a atual política do cada um por si.
Quem quiser pode adotar medidas de controle sobre o fluxo de capitais estrangeiros em seus sistemas financeiros para proteger a cotação de suas moedas de uma alta capaz de tornar suas exportações pouco competitivas.
Além de não afastar de maneira definitiva a ameaça de uma guerra cambial, foi adiada para o fim do próximo ano a conclusão de uma análise sobre os grandes desequilíbrios da economia global, que pode levar de maneira indireta à correção no valor de determinadas moedas, em especial, o iuan chinês.
;O texto final é muito parecido com o que foi divulgado ao fim da reunião de ministros de Finanças em outubro;, avaliou Raphael Martellos, economista da Tendências Consultoria Econômica. ;Na questão que demandava um posicionamento, o da guerra cambial, foi justamente onde não houve avanços.; Para ele, foi uma declaração de princípios, não de políticas.
A economista-chefe da Rosenberg e Associados, Thaís Marzola Zara, considerou que o encontro não foi capaz de reduzir os desequilíbrios que estão sendo exportados pela China e pelos Estados Unidos. ;Esses dois países estão na origem do problema, com suas moedas depreciadas;, afirmou. ;O risco que corremos é de o protecionismo crescer a ponto de afetar o comércio internacional, reduzindo os volumes como um todo.;
Apelo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo para que o bloco melhore a coordenação das políticas econômicas entre os países ricos, para evitar prejuízos às nações mais pobres. ;Não existem mais decisões unilaterais na economia mundial;, já que é preciso considerar ;a repercussão em outras economias;, disse Lula aos outros líderes do G-20.
;Qualquer decisão que a Argentina tome, ou que o Brasil tome, terá efeitos imediatos nos países vizinhos.
Imaginem potências econômicas como a União Europeia, os Estados Unidos ou a China, tomando posições unilaterais sem levar em conta a repercussão no resto do mundo.;
Em comunicado assinado no fim da reunião, a quinta desde o início da crise financeira em 2008, havia um pouco de tudo. Os líderes se comprometeram a avançar para taxas de câmbio determinadas pelo mercado e evitar desvalorizações com fins competitivos. Para contemplar os países emergentes, o G-20 aceitou a imposição de medidas de controle ;cuidadosamente estabelecidas;. E todos concordaram que há uma janela de oportunidade para concluir a Rodada de Doha.
;O acordo de Seul é melhor do que desacordo;, disse o presidente francês, Nicholas Sarkozy, que assume a Presidência do grupo em 2011. ;O trabalho que nós fazemos aqui nem sempre parecerá dramático;, disse o presidente dos EUA, Barack Obama, depois da cúpula.
PRINCIPAIS PONTOS DO COMUNICADO FINAL
Câmbio
; As economias devem se mover no sentido de um sistema de taxas de câmbio mais determinado pelo mercado, flexíveis;
; Os países devem abster-se de desvalorizações competitivas de moedas;
; As economias avançadas, incluindo aquelas com moedas de reserva, permanecerão vigilantes às oscilações excessivas e aos movimentos desordenados das taxas de câmbio. Essas ações ajudarão a reduzir o risco de brusca volatilidade nos fluxos de capitais que alguns países emergentes enfrentam.
Controle de capitais
; Alguns desequilíbrios estão alimentando a tentação de se adotar, unilateralmente, soluções globais, levando a ações descoordenadas. No entanto, ações políticas descoordenadas levarão apenas a resultados piores para todos. Ou seja, ao não proibir o controle de capitais, o G-20 deixou as portas abertas para esse tipo de medida.
Comércio exterior
; O G-20, com apoio técnico do FMI, desenvolverá guias de orientação compostos por uma variedade de indicadores que ajudem a identificar desequilíbrios comerciais importantes, que requerem ações preventivas e corretivas;
; Os países resistirão ao protecionismo sob todas as formas.
Sistema financeiro mundial
; Aprovado acordo para as novas regras o reforço de capitais dos bancos. A medida prevê, sobretudo, o aumento das exigências em termos de fundos próprios, liquidez, endividamento e provisões, para permitir que os bancos de importância sistêmica resistam melhor a uma eventual nova grande crise.
Reforma do FMI
; O comunicado também respaldou, como esperado, a reforma do Fundo Monetário Internacional, que concedeu a economias como China e Brasil maior peso nas decisões do organismo.
Resposta aos EUA
O presidente chinês, Hu Jintao, aproveitou a cúpula do G-20 em Seul para insistir que os Estados Unidos adotem ;políticas responsáveis; e mantenham estável o dólar. A declaração representa uma inversão dos papéis depois de a China ter sido alvo, durante muito tempo, de críticas americanas por causa de seu sistema de câmbio fixo.
;Os principais países emissores de divisas devem aplicar políticas econômicas responsáveis, garantir a estabilidade das taxas cambiais;, declarou Hu Jintao, diante dos demais líderes mundiais, entre eles o presidente norte-americano, Barack Obama.
O mandatário chinês criticou com dureza a decisão do Federal Reserve, o Banco Central americano, de injetar US$ 600 bilhões no mercado financeiro.
Para a China e para a América Latina, essa nova remessa de dólares é uma ameaça, já que poderá dirigir-se de forma maciça para os mercados emergentes em busca de melhores rendimentos do que os oferecidos pelos Estados Unidos, provocando bolhas especulativas.