Jornal Correio Braziliense

Economia

Exportações do Brasil perdem espaço

Valorização excessiva do real, aliada à crise internacional, faz país apresentar superavits menores ou deficits nas trocas comerciais com a maior parte de seus parceiros no mundo

O extraordinário aumento do real nos últimos anos, enquanto o dólar fica cada vez mais barato, está se traduzindo em perda de participação do Brasil no comércio internacional. De acordo com Fernando Ribeiro, economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), de 2004 para cá o país tem redução do superavit comercial ou aprofundamento do deficit com todas as regiões do mundo, exceto Oriente Médio e América Latina.

;Dentre todos os grupos, o que apresentou a mudança mais radical nesse período foi com os Estados Unidos;, percebeu Ribeiro. Em 2004, essa balança pendia a favor do Brasil em US$ 8,8 bilhões. No ano passado, a conta se inverteu e foi favorável aos EUA em US$ 4,4 bilhões e neste ano, até agosto, a conta já estava em US$ 4,8 bilhões a favor dos norte-americanos. Ele atribui esse comportamento ao câmbio, mas, principalmente, à profunda recessão que se abateu sobre a economia dos Estados Unidos depois da crise das hipotecas, e agora ao crescimento acanhado, consequência da recusa da população em fazer novas dívidas.

O Brasil também está perdendo espaço no comércio com a Argentina e com alguns países africanos, segundo Adriana Queiroz, economista e coordenadora executiva do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Para ela, a perda de participação dos manufaturados brasileiros na pauta de importação desses países ;é consequência direta da concorrência com produtos chineses;.

;O fator China e a forte valorização do real poderiam explicar a perda de competitividade dos produtos brasileiros no exterior e, consequentemente, a perda de mercados;, frisou Adriana, destacando ainda a crise internacional, que reduziu a demanda de maneira generalizada, especialmente dos Estados Unidos e da Europa, principais mercados para as mercadorias brasileiras. E acrescenta: ;A crise apenas agravou uma tendência que já era evidente antes: a China vem conquistando parcelas cada vez mais importantes em mercados importadores de produtos brasileiros, com destaque para produtos manufaturados;.

A economista lembra ainda que há outros fatores contribuindo para a redução das vendas de produtos nacionais no exterior. ;A competitividade brasileira é negativamente influenciada pelos gargalos em nossa infraestrutura de transporte e elevada carga tributária, por exemplo;, destacou.

São aspectos também destacados pelo diretor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas (EPGE-FGV), Rubens Pena Cysne. ;O Brasil tem um dever de casa robusto para fazer, capaz de devolver a competitividade às mercadorias nacionais;, frisou. Para ele, o país não deveria ficar esperando uma estabilização do mercado mundial de moedas. ;É preciso dar condições aos empresários para produzirem mais barato, reduzindo impostos, abaixando os custos com transportes, com a produção e com a contratação de pessoal. Além disso, é preciso sinalizar um maior rigor fiscal, cortando gastos, o que permitirá a redução das taxas de juros a longo prazo. Isso sim é uma medida sustentável.;

Atrasado
Uma receita que também é recomendada pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (Abracex). ;Acima de qualquer valorização do real, o que está condenando a indústria nacional é o baixo investimento em tecnologia;, diagnosticou Roberto Segatto, economista e presidente da Abracex. ;Os equipamentos estão antiquados. Na média, eles têm 17 anos. E isso encarece a produção, além de todos os custos adicionais gerados por encargos trabalhistas em excesso, falta de uma política industrial, infraestrutura deficiente, etc;. Segatto exemplifica: ;Enquanto a carga tributária na China é de 7%, aqui ultrapassa os 40%;.

Enfrentar o câmbio distorcido pela crise não é agora e nem será no futuro tarefa fácil. ;Hoje, o país que era destino certo dos superavits comerciais de todo o mundo decidiu que não quer mais esse papel;, explicou Eduardo Felipe Matias, sócio da área internacional do escritório L.O. Baptista Advogados. ;Para sair da crise, também eles estão precisando exportar mais.;

Ao Brasil, portanto, resta o caminho de compensar a valorização do real com o aumento da produtividade. ;Por esse caminho, os empresários poderão exportar mais e também aqueles que estão sofrendo a concorrência dos produtos importados terão condições de competir no mercado interno;, ensinou Cysne.