Agência France-Presse
postado em 16/11/2010 17:03
Paris - A catastrófica situação financeira da Irlanda mergulhou novamente a zona do euro numa crise que recorda a da Grécia e põe à prova a solidez do mecanismo de resgate financeiro europeu, aprovado na primavera passada no Hemisfério Norte."Do ponto de vista dos mercados, trata-se da mesma crise não resolvida e que volta a ameaçar", explicou à AFP Marco Annunziata, da direção de finanças do banco Unicredit.
Pensa da mesma forma o colega do Commerzbank, Joerg Kramer, para quem as duas crises "são semelhantes".
"No começo do ano havia um risco significativo de a Grécia pedir apoio à União Europeia e agora, o de a Irlanda fazer o mesmo", resumiu.
Esses países, e inclusive outros mais débeis da zona do euro como Portugal, têm sintomas comuns, em particular um déficit colossal.
No entanto, a crise do outono no Hemisfério Norte não é a mesma que a da primavera. Aprendendo com o caótico tratamento dado à crise grega, os europeus puseram em prática um mecanismo de resgate inédito de 750 bilhões de euros para os Estados em dificuldades da zona do euro (formada por 16 países).
"Durante muito tempo reinou incerteza sobre a situação da Grécia, mas hoje sabemos que Irlanda e Portugal terão que ser resgatados por seus parceiros" europeus, afirma o economista do Unicredit.
A outra diferença refere-se aos países afetados. "Irlanda, ao contrário da Grécia, é uma economia anglo-saxã flexível, com um mercado de trabalho flexível", opinou Joerg Kraemer.
Segundo o especialista, "Dublin era sobretudo um modelo antes da crise. Seus antecedentes, em termos de disciplina fiscal, são muito melhores que os de Atenas e sua capacidade exportadora dá ao país uma possibilidade de recuperação importante", acrescentou Jean Pisani Ferry, diretor do centro de reflexão europeu Bruegel.
Acima de tudo, o impressionante déficit registrado este ano pela Irlanda (32% do Produto Interno Bruto) é em grande medida passageiro pois está vinculado ao resgate dos bancos.
De qualquer forma, a zona do euro atravessa uma nova turbulência e o que fazem alguns dirigentes europeus, empurrar Dublin a recorrer, como fez a Grécia, a uma ajuda financeira está sobre a mesa.
"Poderia acalmar os mercados de maneira temporária" e adiar o risco de contágio, estimou Marco Annunziata.
Mas se chegar a ser mobilizada a rede de segurança europeia, será necesario levar em conta que o problema irlandês é diferente do grego.
A Irlanda não necessita dinheiro até meados de 2011, mas o sistema bancário passa por uma crise de confiança.
"É preciso dar o diagnóstico correto e aplicar o remédio adequado: não se trata de crise grega, pelo que não será preciso aplicar o medicamento grego", advertiu Jean Pisani Ferry.
Nesse caso, a ajuda europeia poderia ser mais flexível e destinada a consolidar o sistema bancário irlandês, estimam esses economistas enquanto a Europa estuda em Bruxelas um plano de apoio para o setor, para deter o perigo de contágio.
Uma decisão nesse sentido poderia aplacar a crise irlandesa, embora sem resolver definitivamente a crise da zona do euro.
"No momento há um certo ceticismo a respeito", constatou Joerg Kraemer. "Os mercados estão testando a viabilidade a longo prazo de um mecanismo de resgate semelhante", acrescentou.