A ampliação da oferta de microcrédito depende de mecanismos que gerem segurança para os bancos repassarem recursos às instituições especializadas, defendeu nesta quinta-feira (17) o diretor da Associação Brasileira dos Dirigentes de Entidades Gestoras e Operadoras de Microcrédito, Crédito Popular Solidário (Abcred), Luiz Carlos Floriani. Ele é um dos participantes do 2; Fórum de Inclusão Financeira, organizado pelo Banco Central (BC).
Floriani argumentou que é preciso criar um fundo garantidor ;para dar mais tranquilidade aos bancos, de forma que acreditem nas operações e repassasse os recursos;. ;Os bancos não hoje repassam por medo de perder dinheiro;, afirmou.
O diretor da Abcred acrescentou que atualmente o dinheiro emprestado pelas instituições especializadas em microcrédito vem do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), das agências de fomento dos estados e de organismos internacionais. A ideia é ampliar a fonte de recursos, já que os bancos são obrigados por lei a aplicar 2% dos depósitos à vista no microcrédito. Quando não faz isso, a instituição tem que recolher os recursos para o BC, sem receber remuneração.
A legislação estabelece que os bancos podem ofertar o microcrédito diretamente aos clientes. Também é possível repassar os recursos para outras instituições financeiras ou comprar operações de crédito de outros bancos, organizações não governamentais, entidades, fundos ou programas de microcrédito.
Segundo o Relatório de Inclusão Financeira, divulgado ontem (17), na abertura do fórum, em junho de 2010 o total recolhido no BC chegava a R$ 1,1 bilhão. O volume disponível alcançou R$ 3,1 bilhões, ou seja, houve uma aplicação de R$ 2,2 bilhões.
Além da criação de um fundo de garantia, Floriani defendeu mudanças na legislação que permitam ampliar os produtos ofertados pelas entidades, como desconto de cheques para microempresas e de operações de créditos para os funcionários dos pequenos negócios. Ele também defendeu o acesso à tecnologia do sistema bancário para acelerar o processo de análise e liberação do crédito.
O secretário adjunto de Política Econômica do Ministério do Fazenda, Gilson Bittencourt, afirmou que a criação do fundo pode ser discutida, mas ele considera que ;a própria comprovação do histórico dessas entidades deve demostrar para as instituições financeiras que são capazes de gerir uma boa carteira;. ;A simples instituição de um fundo garantidor não vai resolver, mas ajuda. Tem que melhorar os balanços para facilitar a análise pelas instituições financeiras [na hora de comprar as carteiras de microcrédito];, disse.
Na avaliação dele, a parceria entre entidades especializadas em microcrédito e os bancos é positiva. Isso porque as entidades conhecem melhor os empreendedores e os negócios. ;Depois de um tempo, o banco pode levar o histórico positivo e operar diretamente com o microempreendedor;, acrescentou.
Bittencourt enfatizou ainda que é preciso investir em capacitação de empreendedores na gestão dos negócios e das finanças e melhorar o sistema de informações para os bancos e instituições de microcrédito. Atualmente, o BC mantém u cadastro de operações de crédito acima de R$ 5 mil, por pessoa. A ideia é que esse limite caia para R$ 1 mil. ;Mais conhecimento permite mais acesso a crédito;, afirmou o secretário.
O chefe do Departamento de Normas do Sistema Financeiro do Banco Central, Sergio Odilon dos Anjos, não quis fazer comentários sobre as propostas apresentadas na mesa de debates. ;A proposta do seminário é obtermos subsídios para avançar nas pautas de discussão. Estamos nos abstendo de fazer comentários sobre as propostas para estudar depois;, disse.
O evento termina na sexta-feira (20), quando será feita a síntese das discussões dos painéis temáticos do fórum.