Economia

Começam negociações para sanar crise da dívida da Irlanda

Agência France-Presse
postado em 19/11/2010 17:17
Dublin - Após um dia de discussões técnicas, especialistas estrangeiros e autoridades irlandesas intensificaram nesta sexta-feira (19/11), em Dublin, as negociações sobre um possível plano de resgate para sanar a dívida irlandesa, que provoca temores sobre o futuro da eurozona.

Segundo informações da imprensa, as negociações envolvendo cerca de 30 especialistas da União Europeia (UE), do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) se centrarão nos bancos, cujo resgate disparou o déficit irlandês para 32% do PIB neste ano.

A missão deve examinar detalhadamente as contas irlandesas para "estudar medidas que possam garantir a estabilidade financeira", segundo o FMI.

"Nos esforçamos para ver que mecanismo de apoio pode ser concebido para ajudar a Irlanda e proteger nossos interesses", declarou o primeiro-ministro irlandês Brian Cowen.

O governo irlandês está decidido a defender com unhas e dentes em qualquer acordo o imposto sobre as sociedades de 12,5%, um dos mais baixos do mundo e considerado concorrência desleal por alguns dos sócios europeus.

Nos últimos dias, reiterou que esse aspecto do sistema tributário "não é negociável", e um diplomata europeu disse à AFP não "ver como a Irlanda poderia ceder sobre essa questão".

A imprensa irlandesa insistia nos temores de que um resgate constitua uma perda de soberania para este pequeno país de 4,5 milhões de habitantes.

O ministro da Defesa, Tony Killeen, estimou "irresponsável" o "pânico que está se espalhando" entre a população.

O governador do Banco Central irlandês, Patrick Honohan, disse na quinta-feira "esperar (...) um empréstimo muito importante de dezenas de milhares de milhões".

Os valores que são citados com mais frequência vão de 40 a 100 bilhões de euros (entre US$ 55 e US$ 137 bilhões), menos que os 110 bilhões de euros recebidos pela Grécia há seis meses em uma grave crise que propiciou a criação de um Fundo Europeu de Estabilidade Financeira de 750 bilhões de euros.

O Irish Times considerou que a Irlanda não entrou nas negociações na mesma posição de debilidade que a Grécia.

"Normalmente, os governos que recebem uma ajuda externa em situações de resgate têm os cofres vazios e estão desesperados para obter qualquer tipo de fonte de financiamento. O Estado irladês não está nesta posição", estimou nesta sexta-feira em um editorial.

A enorme dívida da Irlanda suscita temores de contágio a outros países, como Portugal, razão pela qual a UE e o FMI querem resolver o problema o quanto antes.

Ainda que alguns analistas afirmem que as negociações podem trazer um acordo na próxima segunda-feira, o ministro grego das Finanças, George Papaconstantinou, estimou nesta sexta-feira que isso pode não bastar para acalmar os mercados.

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss-Kahn pediu nesta sexta-feira à União Europeia que adote uma estratégia de crescimento comum e "rompa as correntes de seu frágil crescimento".

"A Europa deve romper as correntes de seu frágil crescimento e deixar de desempenhar um papel secundário", afirmou Strauss-Kahn em uma conferência financeira em Frankfurt.

"É a única maneira de salvar o modelo social e poder cumprir com um destino comum europeu. A única resposta é mais cooperação e uma maior integração", acrescentou o diretor do FMI.

"A cooperação avança muito lentamente na União Europeia", opinou Strauss-Kahn, aludindo à "lentidão na reparação do setor financeiro".

"Também falta uma visão europeia em termos de política orçamentária, de equilíbrios internos e de mercado de trabalho", acrescentou na conferência organizada à margem de uma reunião de Bancos Centrais organizada pelo Banco Central Europeu (BCE).

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