Economia

Irlanda terá eleições após aprovação do orçamento em 2011

Agência France-Presse
postado em 22/11/2010 20:11
Dublin - O primeiro-ministro da Irlanda, Brian Cowen, disse nesta segunda-feira (22/11) que dissolverá o Parlamento logo depois da aprovação da lei orçamentária, no início de 2011, descartando a realização de eleições gerais "imediatas".

"É minha intenção depois de concluído o processo orçamentário, com a promulgação da lei, trabalhar, no ano novo, pela dissolução do parlamento, permitindo ao povo determinar quem deverá assumir a responsabilidade pelo período que teremos pela frente", afirmou.

Cowen também confirmou que o governo apresentará na próxima quarta-feira um plano de austeridade para os próximos quatro anos, e que em 7 de dezembro revelará o orçamento que deverá ser votado pelos deputados após o recesso de final de ano.

Diante disto, a imprensa prevê que as eleições ocorrerão em fevereiro ou março.

O anúncio de Cowen seguiu após um dos membros da minoria da coalizão governamental, o Partido Verde, pedir a realização de eleições antecipadas na segunda quinzena de janeiro de 2011, no dia seguinte à aprovação de um polêmico resgate internacional para ajudar a Irlanda a sanar a dívida excessiva.

Em uma declaração inesperada, o líder dos Verdes, John Gormley, estimou que "chegou o momento de fixar uma data para eleições gerais na segunda quinzena de janeiro de 2011".

Os Verdes apoiavam até agora a coalizão no poder: os seis deputados são considerados indispensáveis para a sobrevivência política do partido de Cowen, o Fianna Fail.

Além dos Verdes, a formação de centro-direita tem o apoio de apenas uns poucos deputados independentes para reunir a maioria parlamentar, reduzida hoje a três assentos.

No caso de eleições legislativas antecipadas, o Fianna Fail tem muitas possibilidades de perder.

Segundo uma pesquisa publicada no domingo, o partido conta com 17% das intenções de voto e os Verdes, com 3%, muito atrás do Fine Gael (33%), maior força de oposição, dos trabalhistas (27%) e do Sinn Fein (11%). Os dois últimos anunciaram que são contrários ao resgate internacional.

O líder dos Verdes disse, entretanto, que dará tempo ao governo para encerrar os temas pendentes: os detalhes do plano de ajuda internacional da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), aceito nesse domingo, e um novo programa de ajuste quadrienal.

"Deixar o país sem um governo quando estes assuntos seguem sem resolução seria muito prejudicial e quebraria nossas obrigações morais", disse.

Gormley não deu nenhuma indicação sobre os planos em preparação, mas afirmou que o resgate internacional, que pode alcançar 90 bilhões de euros (US$ 123 bilhões), deve "respeitar os interesses vitais da Irlanda e restaurar a estabilidade da eurozona".

"As pessoas se sentem enganadas e traídas", disse, referindo-se ao sentimento da maioria dos irlandeses após o pedido de ajuda externa.

"É absolutamente repugnante. Nos roubaram a pouca credibilidade que nos restava", resumiu Harry O;Brien, um cidadão ouvido no centro de Dublin.

A imprensa desta segunda-feira refletia o mesmo sentimento ao falar de uma "capitulação sem precedentes", uma "ignomínia" e uma "rendição vergonhosa".

O governo pode começar a pagar pelo descontentamento na próxima quinta-feira, quando está prevista uma eleição parcial, na qual o candidato no poder tem todas as chances de perder, o que reduziria a maioria governamental no Parlamento a apenas duas cadeiras.

Além disso, na próxima quarta-feira será anunciado um questionado plano de ajuste, anterior à ajuda internacional, que busca economizar 15 bilhões de euros para levar um déficit que neste ano alcançará 32% do PIB aos 3% preconizados pela UE em 2014.

Mas os irlandeses já estão em seu terceiro plano de austeridade. No total, estão previstas 100 mil demissões, assim como cortes nos benefícios sociais. O novo plano pode afetar, inclusive, o salário mínimo que, segundo a imprensa, pode ser reduzido em até 13%.

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