postado em 25/11/2010 07:43
A Caixa Econômica Federal (CEF) escapou de um prejuízo bilionário. Não fosse a lentidão do Banco Central para avaliar a compra de parte do PanAmericano, o banco público teria de arcar com pelo menos metade dos R$ 2,5 bilhões em aberto nas contas da financeira de Silvio Santos. O presidente do BC, Henrique Meirelles, porém, admitiu durante audiência no Senado que houve erro no processo que culminou na aquisição, mas se eximiu de culpa e liberou a Caixa de qualquer responsabilidade. Passou o abacaxi para as empresas de auditoria, que estão sob investigação do Ministério Público Federal (MPF), da Polícia Federal e da própria autoridade monetária. Na avaliação de Meirelles, o BC cumpriu seu papel. Ele disse ainda ser inviável criar uma estrutura para fiscalizar todos os bancos. ;O custo de se ter uma auditoria paralela para todo o sistema financeiro seria enorme. O BC seria uma supergaláctica empresa de auditoria;, declarou. ;Em relação às empresas contratadas para avaliar as contas do PanAmericano, algo aconteceu de errado. O que se tem de avaliar, e os órgãos competentes estão fazendo isso, é quais foram as falhas e punir os culpados;, disse. Segundo parlamentares que participaram da audiência, o Banco Fator e as empresas subcontratadas por ele para avaliar a contabilidade da financeira teriam induzido a Caixa a erro.
Defensiva
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) contestou as alegações de Meirelles e deixou em saia justa a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, que ficou durante todo o evento na defensiva. Segundo Dias, já era sabido que o PanAmericano passava por problemas financeiros antes de ser parcialmente vendido ao banco público. ;O mercado financeiro já reclamava que havia algo de errado;, afirmou.
A presidente da Caixa rebateu as críticas. ;É um desafio da instituição crescer. Foi apenas uma decisão empresarial;, argumentou Maria Fernanda. Os governistas presentes fizeram coro a Meirelles e à mandatária do banco público, afirmaram que a ex-administração do PanAmericano enganou até mesmo a bolsa de valores. ;O PanAmericano abriu capital, buscou recursos no exterior e tudo isso exigiu um enorme grau de demonstração;, afirmou Maria Fernanda. ;A Caixa não considera que perdeu;, concluiu.
Prejuízo
A despeito das argumentações da presidente da Caixa, as ações do PanAmericano adquiridas pelo banco governamental desabaram e o prejuízo estimado ficou em cerca de R$ 300 milhões após o escândalo da maquiagem na contabilidade tornar-se público. Caso o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) não tivesse emprestado os R$ 2,5 bilhões a Silvio Santos para recompor o capital da instituição financeira, os quase R$ 740 milhões investidos pela Caixa teriam virado pó.
Meirelles e Maria Fernanda afirmaram ainda que o PanAmericano nunca parou de atuar. Mesmo no auge do escândalo continuou a emprestar e arrecadar investimentos. ;Nunca houve uma corrida bancária;, disse o presidente do BC apesar de informações que dão conta de R$ 250 milhões em saques de investidores que estavam com medo de perder seus investimentos.
A credibilidade da financeira de Silvio Santos também espantou os sócios. Em 18 de novembro, o PanAmericano anunciou que seu sócio americano, o Grupo Leeg Manson, alienou as ações que detinha em favor do controlador Silvio Santos. O grupo possuía 6,87% dos papéis preferenciais da financeira e receava que a Caixa Econômica não conseguisse reorganizar o banco privado. Preferiu não bancar o risco de ter seus investimentos reduzidos a nada. Ontem, mesmo com a audiência no Senado para explicar o ocorrido com o PanAmericano, as ações do banco continuaram a derreter e amargaram queda de 0,42% no dia. No ano, a cotação caiu 53,87% e a ação era negociada, até o fechamento do pregão de ontem, a R$ 4,79.