Agência France-Presse
postado em 25/11/2010 13:17
O plano de ajuste irlandês, recebido com satisfação por Bruxelas que negocia o resgate internacional, recebeu uma onda de críticas por parte da população, da imprensa, dos sindicatos e até os economistas do país.A revolta popular, marcada por um sentimento de humilhação dos irlandeses por ter de recorrer à ajuda externa, certamente se refletirá nas eleições legislativas parciais desta quinta-feira no condado de Donegal (noroeste), segundo as pesquisas.
Para o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Olli Rehn, no entanto, o plano de austeridade da Irlanda representa "base sólida" para as negociações do programa de ajuda da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
"O plano orçamentário de quatro anos é uma importante contribuição para a estabilização das finanças públicas irlandesas", indicou Rehn em comunicado.
Mas na Irlanda a opinião é completamente diferente.
"Cortes para todos, exceto para os políticos", foi a manchete de primeira página do jornal Irish Examiner. "Todo mundo será afetado, mas (o primeiro-ministro Brian) Cowen continua embolsando tanto quanto (o presidente dos Estados Unidos) Barack Obama", afirmou, por sua parte, o Irish Sun.
A imprensa, no entanto, também admite que não havia outra alternativa.
O mesmo não acontece com os sindicatos. "Este plano é o mapa do caminho para a Idade da Pedra e uma declaração de guerra contra quem ganha baixos salários", advertiu Jack O;Connor, presidente do Siptu, o principal sindicato da ilha.
Os sindicatos convocaram a resistência em uma manifestação convocada por outro sindicato, o ICTU, que espera reunir milhares de pessoas.
O partido no poder, o Fianna Fáil, se preparava, por outra parte, para ser punido nas legislativas desta quinta, em Donegal, o que reduzirá sua ínfima maioria a dois deputados antes da apresentação ao parlamento do orçamento para 2011 em 7 de dezembro.
O premier pediu unidade para aprovar as medidas de austeridade, recordando que são uma exigência de Bruxelas, mas a oposição na está convencida. O primeiro partido da oposição, o Fine Gael, advertiu que pedirá à UE para renegociar o plano irlandês.
O governo irlandês apresentou na quarta-feira um drástico plano de ajuste quadrienal de 15 bilhões de euros (20 bilhões de dólares).
O plano de ajuste inclui cortes do gasto público de 10 bilhões de euros ao que se acrescenta 5 bilhões de euros em receitas adicionais geradas pelo aumento dos impostos, representando cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), informou o governo em um documento entregue à imprensa.
Os primeiros 6 bilhões de euros (8 bilhões de dólares) de economia devem ocorrer em 2011, e estarão incluídos no orçamento que o governo apresentará no dia 7 de dezembro.
Como o governo havia prometido, o plano não afetará o sacrossanto imposto cobrado às empresas, que com uma taxa de 12,5% é um dos mais baixos do mundo e considerado pelos parceiros europeus da Irlanda uma concorrência desleal.
Entre as economias previstas, destaca-se uma diminuição dos gastos sociais de 2,8 bilhões de euros em quatro anos e a supressão de 24.750 empregos públicos.
Além disso, o salário mínimo por hora será reduzido de 8,65 euros para 7,65 euros (10,22 dólares).
O Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) aumentará para 22% em 2013 e 23% em 2014, contra os 21% atuais.
O governo irlandês informou que baseou seu plano de ajuste em uma previsão de crescimento médio de 2,75% entre 2011 e 2014, após um crescimento "levemente positivo" neste ano.
O objetivo é reduzir o déficit público irlandês aos 3% do PIB exigidos pela União Europeia. Em 2010 o déficit deverá atingir um recorde de 32% do PIB, devido aos 50 bilhões de euros (66,5 bilhões de dólares) que a Irlanda precisou injetar em seus bancos para salvá-los da quebra.
O plano de ajuste é considerado condição prévia imprescindível a uma ajuda da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI)
De acordo com a imprensa irlandesa, o plano de ajuda internacional deve alcançar 85 bilhões de euros (113,7 bilhões de dólares) e incluirá uma taxa a ser paga pelos bancos responsáveis pela crise.
Em contrapartida, a Irlanda deve demonstrar que pode sanar suas finanças.