Economia

Preços devem começar a subir já no começo de 2011

Preços de combustíveis, energia, telefone, ônibus urbano, aluguéis e mensalidades escolares vão assolar o seu bolso já no início de 2011

postado em 27/11/2010 08:00
No que depender dos preços administrados ; aqueles que incluem as tarifas públicas ;, 2011 será de mais gastos para os brasileiros. Se até agora a alta média foi de apenas 2%, o reajuste previsto no próximo ano é de 6%, conforme estimativas otimistas do mercado. A inflação que corrói rápida e dolorosamente o bolso das famílias virá embutida nos combustíveis, nas contas de energia, nas faturas de telefone, nas passagens de ônibus urbano, pedágios e aluguéis. O maior salto deverá ser das mensalidades escolares, que tendem a subir até 10%.
Essa cesta de produtos e serviços está atrelada direta ou indiretamente ao comportamento dos Índices Gerais de Preços (IGPs), calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV). No início de 2010, a oscilação foi discreta, mas desde o segundo trimestre houve uma escalada que ainda não atingiu seu pico e que terá fortes repercussões sobre os resultados de 2011. ;No início do ano, os IGPs começaram bem tranquilos. Em 2011, eles vão começar mais altos. Serão mais um fator para complicar o cenário;, explica Gian Barbosa, economista da Tendências Consultoria.

Até outubro, os itens dependentes das variações do IGP-DI e IGP-M registram altas. A gasolina avançou 1,79%; a energia elétrica, 3,19%; o gás, 2,18%; as contas de água e esgoto, 4,77%; os aluguéis, 3,27%; o ônibus urbano,10,93%; o telefone fixo, 0,47%; e o telefone móvel, 3,73%. Por causa das eleições, alguns reajustes acabaram sendo represados para evitar desgastes nas urnas. Com a autorização desses aumentos em novembro e em dezembro, controlar a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo

(IPCA) será uma missão ainda mais complicada para o Banco Central. ;Se não tivessem segurado os reajustes de transportes públicos em algumas capitais e de combustíveis, por exemplo, o nível da inflação seria ainda maior;, alerta Barbosa.

Cenário ruim
Puxada por alimentos e serviços, a inflação que o governo leva em conta na hora de definir o sistema de metas corre o risco de sair do controle. Prévias do mês divulgadas no início da semana surpreenderam bancos, consultorias e até a equipe econômica, que esperavam taxas bem menores do que as reveladas. Diante do cenário adverso, as pressões sobre o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentaram sensivelmente. Parte do mercado dá como certa a elevação da taxa básica de juros (Selic) ; atualmente em 10,75% ao ano ; já na reunião prevista para 7 e 8 de dezembro.

A meta oficial de inflação estipulada pelo governo para este e o próximo ano é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Analistas apostam, no entanto, que o IPCA chegue perto de 6%. Em comunicado distribuído ontem, o Itaú Unibanco elevou a projeção para a inflação em 2010 para 5,9%. ;As últimas leituras mostram mais do que a inflação dos alimentos. Houve uma deterioração do cenário e, agora, esperamos a retomada do ciclo de aperto monetário em janeiro de 2011;, reforça o documento. A Gradual Investimentos aposta que o IPCA de novembro baterá na casa de 0,90%, ;um valor extremamente incômodo;, conforme avaliação da consultoria.

MANTEGA INSISTE NO NOVO ÍNDICE
; Criticada pelo mercado e por líderes de oposição, a ideia do governo de criar um índice de inflação que desconsidere alimentos e combustíveis voltou a ser defendida ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo ele, o objetivo não é propor um novo índice oficial que substitua o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mas fazer com que os contratos indexados a Índices Gerais de Preços (IGPs) passem a incorporar um novo balizador, sensível à influência de fatores externos, como variação de preços de commodities ou climáticas. O ministro destacou que os estudos em andamento não têm objetivo de mudar a correção dos contratos em vigor. E atacou o modelo adotado pelo governo Fernando Henrique Cardoso durante a privatização, que, a seu ver, foi um equívoco ao carregar a inflação externa para o Brasil.

INFLUÊNCIAS NEGATIVAS

Chaga econômica que aflige o Brasil desde os anos 1970, a indexação ainda é um dos componentes que mais influenciam a inflação. Nada menos do que um terço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2011 está comprometido por causa da alta dos preços administrados. Tanto peso reduz drasticamente o espaço para o Banco Central manejar a política monetária, o que poderá implicar em ajustes mais frequentes e intensos da taxa de juros (Selic) a curto prazo.

Apesar da estabilidade e das provas incontestáveis de solidez, a economia brasileira ainda convive com influências negativas, como o péssimo hábito de olhar a inflação passada. Ao admitir a correção automática de contratos, do valor de produtos e de serviços com base em índices gerais de preços (IGPs), na prática, empurram-se para frente reajustes que deveriam ter ficado para trás. É exatamente o que está acontecendo nesta virada de 2010 para 2011.

Mesmo menor do que em períodos anteriores, o nível de indexação verificado no Brasil faz com que tendências de altas de preços sejam prolongadas por períodos superiores aos que realmente deveriam. O fenômeno desafia o governo e os economistas. Nos últimos anos, por meio de leis e ajustes em marcos regulatórios, os contratos de energia elétrica e telefonia passaram a considerar fórmulas métricas que não levam em consideração apenas os IGPs para se atualizarem. Uma parte do mercado acredita que essa seja a solução para livrar de vez o país de velhas amarras. (LP)

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