Economia

Meirelles questiona proposta da Fazenda de criar mais uma taxa de inflação

Há o temor de manobra para baixar juros

postado em 27/11/2010 08:00
Antes de limpar as gavetas e entregar a Alexandre Tombini a presidência do Banco Central, Henrique Meirelles fez questão de marcar posição contrária ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. Depois de participar do jantar de fim de ano da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em São Paulo, na noite de quinta-feira, Meirelles jogou dúvidas sobre a proposta de seu desafeto de criar um índice de inflação que exclua a variação dos preços dos alimentos e dos combustíveis, considerados pelo ministro como muito voláteis. Na avaliação do presidente do BC, ;é bom ter mais informação; sobre a proposta da Fazenda. Teme-se que Mantega use esse novo indicador para forçar a baixa mais rápida da taxa básica de juros (Selic), pondo em risco a estabilidade da economia.

Na avaliação de técnicos do BC, este não é o momento mais adequado para se discutir a inflação. Com o custo de vida nas alturas e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apontando para os 6% neste ano e para mais de 5% em 2011, os investidores podem desconfiar que o governo esteja lançando mão de artifícios para maquiar os índices e afrouxar a política monetária na administração de Dilma Rousseff. ;Realmente, a Fazenda deu um passo em falso, sobretudo porque todo mundo sabe das manobras que estão sendo feitas nas contas públicas para cumprir metas fiscais;, disse um dos técnicos.

Segundo a Corretora Gradual Investimentos, apesar da posição do Ministério da Fazenda, tudo indica que o BC está atento à inflação e, mesmo que não suba os juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 7 e 8 de dezembro, deve mudar o tom da ata, reconhecendo um cenário mais severo para a inflação e indicando uma alta da Selic no início de 2011.

Nas últimas semanas, Meirelles tem viajado bastante e discursado em todos os lugares por onde passa. O tom de despedida nas palavras do presidente do BC é constante e, mesmo tendo sido rejeitado pela presidente eleita, Dilma Rousseff, ele insiste em dizer que está ;saindo por cima; e está ;planamente realizado;. Gosta também de deixar claro que Tombini, para substituí-lo, foi uma indicação sua. ;É uma grande escolha e estou, de fato, realizado;, disse ontem em Vitória (ES), durante o Congresso Nacional de Executivos de Finanças (Conef).

No evento, Meirelles disse ainda que chegou a ficar em dúvida sobre o momento de deixar o BC. Segundo ele, poderia ter saído em março, quando havia a possibilidade de concorrer a um cargo nas eleições. Sua indecisão, porém, foi sanada por Dilma e pelo PMDB, que o refutaram, na época, como vice-presidente do Brasil. No discurso aos executivos, ele tentou dar a impressão de que escolheu sair em dezembro. ;Felizmente, tomei a decisão de não anunciar [a saída do BC] antes da escolha do sucessor;, afirmou.

PARA PIOR
Depois do último Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ter superado a expectativa dos analistas ; batendo em 0,75%, enquanto o mercado estimava 0,65% ;, as projeções para a inflação oficial de novembro, a ser divulgada em 8 de dezembro, dia de decisão sobre a taxa básica de juros (Selic), pioraram e já apontam para 0,72%.

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