postado em 28/11/2010 09:03
Os nomes da equipe econômica de Dilma Rousseff foram anunciados na semana passada, mas os desafios que Guido Mantega (Fazenda), Alexandre Tombini (Banco Central) e Miriam Belchior (Planejamento) enfrentarão a partir de janeiro são conhecidos há mais tempo. Em grande medida, são consequência de iniciativas tomadas para pavimentar o caminho da primeira mulher ao Palácio do Planalto. Mantega mudou o discurso logo após ser confirmado e admitiu: o governo está com a faca no pescoço e tem no colo uma bomba-relógio formada por gastos elevados, inflação em escalada, promessas de muitos investimentos e real supervalorizado. Para completar o cenário adverso, a conjuntura internacional será menos favorável do que na gestão Lula.A tarefa que cabe a Mantega inclui desmanchar o nó que ele mesmo ajudou a atar. Depois dos estímulos dados à economia ; alguns temporários, como a isenção de impostos, e outros permanentes, como o aumento da folha de pagamento do funcionalismo ;, ele terá que administrar a batalha no Congresso para evitar a aprovação de mais despesas. Entre elas, a criação de um piso salarial para bombeiros, policiais civis e militares, o aumento de 56% nos vencimentos do Judiciário e o reajuste do salário mínimo acima dos R$ 540 previstos na proposta orçamentária.
Além disso, deve cortar ao menos R$ 45 bilhões em gastos correntes para cumprir a meta de superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) e, dessa forma, restabelecer a confiança do mercado financeiro na austeridade fiscal. ;Não há dúvida de que ele vai ter de pisar no freio para atingir o saldo positivo de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) com que se comprometeu. Há a expectativa de mais receitas, mas o cobertor será mais curto e o esforço terá que ser maior no controle das despesas;, analisa o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.
Do sucesso de Mantega dependerá a execução eficaz do plano de investimentos, que ficará nas mãos de Miriam Belchior, atual gerente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com o Orçamento sufocado e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ; principal fonte de financiamentos para os projetos de infraestrutura ; operando
próximo de sua capacidade, a ministra vai ter que contar com a iniciativa privada, hoje pouco disposta a investir em obras públicas. O difícil acesso ao crédito é citado pelas empresas do setor como um dos principais entraves do segmento.
;Essa ainda não é a questão mais imediata, que fica por conta da falta de mão de obra, mas já está entre os seis gargalos frequentes;, comenta Danilo Garcia, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao analisar pesquisa da instituição sobre o mercado da construção civil. A explicação para a falta de interesse dos bancos privados em financiar esses projetos, geralmente de longo prazo e baixo retorno, está nos juros altos do mercado financeiro. Eles favorecem as aplicações em renda fixa de curto prazo. A presidente eleita já afirmou que quer reduzir a taxa básica de juros (Selic) reais dos atuais 5% para 2%. Essa será uma das principais atribuições de Tombini.
Preocupação
O técnico de carreira assumirá a Presidência do Banco Central (BC) com inflação próxima do teto da meta, conforme sugere o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que registra avanço de 5,20% nos últimos 12 meses. Segundo parte dos analistas, Tombini terá que elevar a Selic logo no início de sua gestão para não deixar o IPCA fugir muito do centro da meta oficial, que é de 4,5%. ;O indicador de difusão (que mede o número de produtos cujos preços subiram), sem considerar os alimentos, passou de 62,6% para 63% dos itens pesquisados. A sinalização está piorando e mostra que o avanço de preços está se disseminando. Daí, a preocupação;, detalha Laura Haralyi, economista do Banco Itaú BBA.
Apesar de o BC ter como função única controlar a inflação e proteger o poder de compra da moeda brasileira, a determinação de Dilma para que o órgão trabalhe mais afinado com a Fazenda evidencia que Tombini não pode ser um empecilho ao crescimento econômico, acusação comum a quem adota políticas muito conservadoras. Também indica que a autoridade monetária deve contribuir mais com o combate à supervalorização do real. Os mesmos juros altos que atraem os investidores domésticos para as aplicações rápidas trazem os estrangeiros, que buscam uma das maiores rentabilidade em todo o mundo.
EMERGÊNCIA
A entrada maciça de dólares fortalece o real, prejudicando as exportações e as contas externas. A cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% na entrada de capial estrangeiro em renda fixa foi considerada bem-sucedida, mas precisa ser revisada, segundo o superintendente-executivo de Gestão de Renda Fixa do Santander, Eduardo Castro. ;Foi uma medida de emergência, mas é natural que o novo governo avalie se sua manutenção é o mais adequado a fazer;, acredita.