Economia

Compras de Natal vão sair mais caras

Juros subiram 1% no mês passado,segundo o BC. Comprador que opta por parcelar pode pagar quase 50% a mais em um ano

postado em 30/11/2010 08:18
As prestações dos presentes de Natal ficaram mais caras. Segundo o Banco Central, entre setembro e outubro os juros médios para o consumidor subiram 1% impulsionados, principalmente, por expectativas de um aperto monetário até janeiro e projeções de piora para a inadimplência. Essa foi a primeira elevação após quatro quedas consecutivas nas taxas. Para quem vai bancar o Papai Noel, dividir as compras em 12 vezes, por exemplo, pode sair caro: vai desembolsar o equivalente a quase um presente e meio. Para cada compra no valor de R$ 1 mil, parcelada, o brasileiro vai gastar mais R$ 404 apenas com juros por ano.Paulo Machado comprou um automóvel novo em 60 vezes. Com taxa de 1,29% ao mês, desembolsará valor equivalente ao preço de dois veículos

A servidora pública Sônia Rosenberg, 41 anos, sentiu no bolso o peso dos juros. Apesar de preferir fazer as compras de eletrodomésticos à vista para fugir das taxas elevadas e de parcelamentos longos, está à procura de uma nova máquina de lavar e terá de fazer a aquisição em prestações. Na pesquisa de preços que realizou, as condições de financiamentos encontradas a assustaram. ;As lojas não dão desconto na compra a prazo e terei de pagar uma taxa abusiva;, reclamou.

Sônia vai pagar uma prestação mais pesada em função do jogo entre mercado e Banco Central. Com a inflação em escalada e o mercado projetando um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,72% em 2010 ; acima do centro da meta perseguida pelo governo, de 4,5% ao ano ; o sistema financeiro está se antecipando aos possíveis movimentos de alta na Selic e já subindo juros. Com a possibilidade de elevação da taxa básica da economia, o custo de captação dos bancos ficará mais alto e esse gasto a mais das instituições financeiras é imediatamente repassado ao consumidor.

Efeito calote
;É óbvio que as expectativas na curva de juros influenciam na formação da taxa, mas como o mercado é volátil, temos de ver com ressalvas essa elevação;, ponderou Eduardo Otero, sócio da corretora Progredir Investimento. Luiza Rodrigues, economista do Banco Santander, concorda com a opinião de Otero, mas acrescenta outro fator na conta para a elevação dos juros para os consumidores: a possibilidade de aumento do calote. ;Esse maior custo do crédito para pessoas físicas decorre de medo de inadimplência e de uma expectativa de juros maiores;, argumentou. ;Com a projeção de Selic mais alta, o custo de captação realmente vai subir e também deixar as taxas mais pesadas;, concluiu.Sônia Rosenberg lamenta:

O professor Paulo Marinho Machado, 45 anos, comprou um automóvel novo em 60 parcelas, número de prestações que é considerada por especialistas uma armadilha. Deu uma entrada e obteve uma taxa de juros de 1,29% ao mês. Porém, ao fim do financiamento, terá desembolsado o suficiente para quitar dois carros iguais ao que adquiriu. ;O carro é uma necessidade, uma ferramenta de trabalho. Vou comprar um e pagar quase o preço de dois;, desabafou.


GREVE DOS BANCÁRIOS

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, argumentou que a greve bancária que durou de 29 de setembro a 13 de outubro reduziu o volume de concessões de crédito consignado, a operação com taxa mais baixa no mercado. Tal encolhimento teria impactado diretamente nos juros médios, que subiram de 39,4% ao ano para 40,4%. Mas os dados do BC dão conta ainda de que, se o crédito consignado for excluído da conta, a taxa para pessoas físicas ficará ainda mais alta. Chegou a 56,8% ao ano após registrar uma elevação de 1,7% entre setembro e outubro.

Armadilha no crédito

A concessão de financiamentos no país está crescendo fortemente e em outubro bateu recorde. O volume de recursos chegou a 47,2% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) ; número nunca registrado desde 2001, quando o Banco Central começou a fazer esse levantamento. Em valores totais, o montante de operações de crédito é de R$ 1,644 trilhão. Com tanto dinheiro na praça e os juros pesados praticados no Brasil, o consumidor precisa ficar atento para não cair nas armadilhas escondidas sobre o crédito fácil e comprometer o orçamento.

O bancário Marcelo Nonnenmarcher, 39 anos, tem aversão às altas taxas de juros praticadas no mercado e criou um mecanismo próprio para não recorrer a financiamentos prolongados. Nonnenmarcher procura poupar o dinheiro necessário para adquirir, por exemplo, um carro, e usa o cartão de crédito, que dependendo das parcelas não cobra juros, para financiar as compras de outros bens de valores menores, como uma geladeira. ;Dessa forma, me livro dos juros que, no Brasil, ainda são bastante elevados;, dá a dica.

Com taxa de 40,4% ao ano, empréstimos alongados como os de 72 vezes (tradicionais para financiamento de veículos) fazem com que o consumidor pague duas vezes ou mais por um mesmo bem. Esse tipo de crédito de longo prazo também carrega riscos embutidos, como a incerteza de que o consumidor vai estar empregado dois ou três anos depois de assumir as prestações. Analistas de risco de crédito, como o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e a Serasa Experian, afirmam que outras ;turbulências;, como uma doença e problemas financeiros, podem causar a interrupção dos pagamentos. Por isso, o recomendado é fazer o mínimo de prestações possíveis.

IGP-M tem alta de 1,45%
Alimentação e transportes ficaram mais caros no mês passado. A inflação medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu 1,45%, em novembro, refletindo a alta dos preços no atacado, ao consumidor e do custo da construção civil. O resultado é superior ao de outubro, de 1,01%. O IGP-M, usado para ajustar os contratos de aluguel, acumula alta de 10,27% nos últimos 12 meses. O Índice de Preços por Atacado (IPA) avançou 1,84% em novembro, o IPA agrícola, 5,43%, e o IPA industrial, 0,61%. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) cresceu 0,81%, no período, sob o peso do grupo alimentação, que cresceu 1,91%. Vestuário subiu 0,96%. E transportes encareceram 0,72%. As principais altas no varejo foram de carne moída, batata-inglesa, gasolina, alcatra e chã de dentro. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) aumentou 0,36%.

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