Vera Batista
postado em 05/12/2010 11:45
O consumidor pode respirar aliviado: prazos e juros dos financiamentos imobiliários continuam intocados, ao menos por enquanto. A casa própria escapou do arrocho no crédito promovido pelo Banco Central para não inviabilizar uma das prioridades do futuro governo Dilma Rousseff, que é a construção de 2 milhões de residências dentro do programa Minha Casa, Minha Vida. Esse cenário, porém, deverá sofrer um revés. Por causa da forte demanda, especialistas projetam para 2012 o esgotamento da principal fonte de recursos para esses financiamentos, a poupança. Como forma de incentivar a captação de recursos privados a autoridade monetária livrou as Letras Financeiras ; títulos de renda fixa emitidos pelos bancos ; do recolhimento de compulsório.Quem não sair do aluguel dentro dos próximos dois anos terá de desembolsar mais dinheiro para ter uma residência. Em 2012, o custo desses empréstimos, de acordo com os cálculos de Luiza Rodrigues, economista do banco Santander, vão passar de 10% para 14% ao ano. Na ponta do lápis, atualmente, um consumidor que adquiriu um apartamento de R$ 500 mil paga R$ 3.383 ao mês em prestações. Em dois anos, essa mesma operação custará 32,9% mais, a mensalidade vai subir para
R$ 4.497. ;O problema é que a concessão de crédito está crescendo 51% ao ano. Já a poupança ; a principal fonte de recursos para o crédito imobiliário ; avança a 20% ao ano. Se essa diferença perdurar, não vão haver recursos para continuar a expandir o crédito imobiliário;, explica Luiza.
uiz Antônio França, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), diz que até 2013 o setor imobiliário precisa encontrar fontes de recursos alternativas para bancar a casa própria. A previsão é que serão necessários pelo menos R$ 100 bilhões para suprir a diferença entre a demanda por esse crédito e o volume de poupança disponível. ;É um assunto muito técnico. As diferenças podem ser sanadas. A Abecip está preparando um longo estudo, com a colaboração de economistas e advogados. Vamos discutir com o governo o que precisa ser adaptado à nossa realidade e provar a importância de se ter bem rápido captação de longo prazo. Temos que pensar grande;, reforça França.
Aquecimento
Dados do Banco Central revelam que os consumidores tomaram emprestado neste ano R$ 129,1 bilhões para comprar casas e apartamentos. É a linha de crédito que mais cresceu em 2010. ;Por muito tempo não havia recursos para emprestar. Como agora eles estão disponíveis e o país passa por um momento no qual a oferta e a demanda estão fortes, o crédito vai continuar a se expandir intensamente;, avalia Luiza. O crédito imobiliário, que hoje representa 4% do Produto Interno Bruto (PIB), deve saltar para 11% nos próximos dois anos.
João Carlos de Almeida, diretor financeiro da Construtora JC Gontijo, acredita que os recursos da poupança não vão terminar tão rápido, mas lembra que a participação dos fundos de pensão, nacionais ou internacionais, é fundamental. ;Eles poderiam, eventualmente, comprar os papéis emitidos por bancos como fonte de captação para o setor imobiliário;, afirma. Luiz Henrique Rimes, diretor nacional de negócios da Construtora João Fortes, concorda. ;Não acredito que vá acabar o dinheiro da poupança. Isso é um problema governamental;, justifica.