postado em 06/12/2010 08:28
Em outubro, quando decidiu não elevar a taxa básica de juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou ao mercado que o cenário era ;benigno; e que a inflação, apesar de longe da meta de 4,5%, estava sob controle. O tempo passou, o repique de preços agora está na casa dos 6% e o Banco Central é questionado se não teria subestimado os sinais e feito a escolha errada. Sob pena de cair em descrédito, a autoridade monetária terá de fazer malabarismos semânticos se quiser explicar, de forma convincente, a esperada manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 10,75% ao ano.A última reunião do colegiado de diretores do BC sob o comando de Henrique Meirelles acontecerá na terça e na quarta-feira. A ata do encontro será divulgada na próxima quinta-feira, 16. É por ela que bancos e consultorias aguardam. ;Faltará uma sinalização mais forte pelo BC nos documentos que ainda restam para sair, a ata e o relatório de inflação, em relação à sua preocupação com a inflação. Se, de fato, o risco que o (Banco) PanAmericano trazia antes já está solucionado, agora abre espaço para medidas mais fortes. A do compulsório foi a primeira; a mudança no tom da ata e o relatório será a segunda; e, por fim, o aumento em si da Selic coloca o BC de volta nos eixos, que parecia ter perdido um pouco em meados do ano;, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Impressões
Antes do mega-arrocho no compulsório bancário anunciado na semana passada, que encareceu o crédito, encurtou os prazos e retirou R$ 61 bilhões de
circulação, as apostas eram de que a taxa básica subiria pelo menos 0,5 ponto percentual. O choque contra a inflação e o calote, no entanto, empurrou o remédio amargo para janeiro, já com Alexandre Tombini à frente da instituição. Dependendo da forma como o BC se comunicar com o mercado por meio da ata do Copom, o contexto dos primeiros meses de 2011 poderá ser antecipado ainda em dezembro de 2010 pelos agentes financeiros.
Em seu último relatório conjuntural, o economista sênior do banco Santander, Maurício Molan, lembra que o BC deveria elevar a Selic em função do ;significativo agravamento do cenário;, mas adverte que isso não será feito. ;No comunicado e na ata, no entanto, haverá uma ginástica retórica para justificar a manutenção em ambiente tão adverso e projeção bem acima da meta. No mínimo, o BC preparará o terreno para o início do ciclo de aperto já em janeiro;, reforça o analista. A previsão de que o ciclo de altas da Selic terá início no próximo mês é praticamente uma unanimidade entre os especialistas.
Ônus e bônus
Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora, aposta na reavaliação do balanço de riscos e acredita que o BC está apenas esperando o momento para intensificar o aperto promovido via compulsório. ;A maneira que o BC irá abordar a piora nas expectativas inflacionárias poderá ser igualmente reveladora;, justifica, em seu relatório semanal.
A manutenção da Selic no atual patamar também terá, conforme Montero, efeitos políticos importantes, que não podem ser ignorados pela autoridade monetária. ;Adiar o início do ciclo arrisca alongar dúvidas, além de piorar as expectativas. E desaproveita uma possibilidade, aberta pela sucessão interna ; que dá a esta reunião dois presidentes de BC ;, de deixar o ônus ao Meirelles e o bônus ao Tombini. Deixar os juros para janeiro joga todo o peso sobre Dilma Rousseff;, completa.